8.11.10

sobre o que revelam as nuvens virtuais

Em meio ao mais intenso tiroteio da campanha eleitoral, com bolinha de papel voando pra todo lado, Túlio Vianna  tuitou um desconcertante petardo:


 "O Twitter faz eu gostar de pessoas que nunca vi; o Facebook faz eu odiar as que eu conheço."


Àquela altura da batalha, não tive tempo de me deter no assunto. Porém, reestabelecida a paz, é hora de voltar ao tema.

Quem navega com alguma frequência pelos dois universos (do Twitter e do Facebook) há de concordar que de fato ocorre o que sugere a frase. 

No twitter, onde os vínculos se estabelecem a partir de mensagens curtas - com no máximo 140 caracteres - nossa tendência é nos instalarmos numa espécie de 'cluster' virtual , um emaranhado de pessoas que têm em comum o interesse por determinados temas. Ou seja, a escolha dos pares é definida principalmente a partir do conteúdo das mais diversas mensagens que nos chegam.

Já no Facebook, onde os nexos se dão a partir das redes de relacionamentos prévios que cada um possui - familiares, colegas de trabalho, amigos de escola, torcedores do time, vizinhos de bairro, etc. - constroi-se um 'cluster' que tem como fator de união as várias dimensões sociais de cada um de nós. Aqui, partimos do mundo real para nos reunir no virtual.


Comparando os dois 'mundos', os dois 'clusters' ou as duas 'nuvens', como queiram, descobre-se que nossa identidade é muito maior com os 'fulanos' do twitter do que com a larga família que nos rodeia no Facebook.

Bobagem? Talvez, mas creio que uma bobagem reveladora. 

Com esses aparatos da internet, podemos hoje contatar gente de órbitas que desconhecemos em absoluto, captando de cada qual apenas aquilo que de comum tem conosco. Caem por terra os monopólios sociais, os limites físicos, os preconceitos étnicos, as hierarquias culturais, e tocamos diretamente um outro que sequer podemos saber se existe de fato, onde está ou que apito toca. Mas, apesar disso, compartilhamos algum ponto de vista, temos alguma afinidade, talvez única e ligeira, mas suficiente para ampliar nossos nexos com o mundo. 

Se admitirmos que nossa existência é fundamentalmente uma resultante de nossas experiências comunicativas, então podemos dizer que - potencialmente ao menos - essas novas experiências de comunicação nos habilitam a expandir exponencialmente nossa existência. Notem bem, não penso exatamente no aspecto quantitativo, mas no fato de que os campos semânticos que nos servem de substrato para pensar e existir são intensa e irremediavelmente contaminados e, portanto, alargados a limites que não somos capazes sequer de antever.

Por outro lado, quando olhamos para nossa turma no Facebook, encontramos um monte de gente que nos é cara, grandes amigos, rostos saudosos. Mas, nesse ambiente virtual, explicitam-se os anacronismos daquelas relações, cujo amálgama descobrimos não ser exatamente as afinidades como supúnhamos, mas antes a escolha entre aqueles que, no limite, frequentam nosso estamento. No Facebook, com o auxílio da tecnologia, somos capazes de reunir todas as nossas patotas, de diferentes épocas e lugares. Mas, ali se revela o peso e a força da 'nossa' sociedade. A idéia abstrata de que somos um suporte de relações sociais nos diz bom dia.   

Um comentário:

  1. Oi Marcelo, navegando hoje pelo seu blog, adorei este seu post, pois e assim mesmo que me sinto em relacao ao Twiter e ao facebook.
    O twitter e uma maneira de vc encontrar pessoas que, embora vc nao as conheca pessoalmente tem tudo a ver com vc e com seu modo de pensar, ja o facebook tem uma funcao completamente diferente.
    Abracos

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