7.11.10

Para o 'mal' de quem tem bem de quem não tem vintém

Está marcada para 16 de dezembro próximo a abertura da licitação para o Trem-Bala Campinas - Rio de Janeiro, interligando os três principais aeroportos do país e atravessando regiões metropolitanas de grande dinamismo. Trata-se de uma novela de décadas que promete chegar ao capítulo final - me recordo que em 1988, quando entrei na Unicamp, li no jornal local que o então governador Quércia pretendia iniciar o trem ainda em seu mandato.

Pois não é que, vinte e dois anos depois, a 40 dias da abertura da apresentação das propostas, o tucano Geraldo Alckmin vem à imprensa anunciar que também pretende construir um trem de alta velocidade em paralelo ao trem-bala, no trecho que liga Campinas a São Paulo!

Claro que os argumentos são nobres, o governador é sem graça mas não é besta. Sem passar pelos aeroportos, o trem tucano faria algumas paradas intermediárias, servindo à população das cidades que se estendem pelo trecho e que não seriam servidas pelo trem-bala federal. Além disso, como a versão tucano-paulista não seguiria ao RJ, a velocidade do trem poderia ser um pouco inferior - com um pequeno atraso de 12 minutos entre Campinas e São Paulo - o que significaria custos mais baixos de implantação e consequentemente menores preços das passagens. 

Entretanto, o lance tucano não é  mais do que diversionismo, pura areia no projeto federal. Com a proposta tucana, simplesmente provoca-se um cataclisma nos planos de investimentos que, a essa altura, estão mobilizando as equipes dos diversos consórcios empresariais que pretendem disputar o negócio. 

Ora, para viabilizar economicamente um projeto de longo prazo como esse - que exigirá dezenas de bilhões de reais! - é peça fundamental o estabelecimento de uma demanda mínima garantida por um bom punhado de anos. Só com essa garantia o investidor será capaz de estimar o preço adequado da passagem que remunere os pesadíssimos custos de implantação do trem. E é, portanto, sobre essa variável chave que o recém eleito governador de São Paulo vem despejar um caminhão de incertezas. 

Apresenta-se, claro, como muito bem intencionado: oferece ao governo federal a possibilidade de deixar o trajeto Campinas- S. Paulo por conta do estado e, caso não tenha sua proposta acolhida, informa que para o bem geral dos paulistas, fará o trem paralelo de qualquer maneira.

Ardiloso o homem da Opus Dei. Cabe perguntar, no entanto, por que não se manifestou anteriomente? Por que seu ex e futuro Secretário dos Transportes Metropolitanos, o tucano campineiro Jurandir Fernandes, não se manifestou nas diversas audiências públicas promovidas pela ANTT para tratar do tema? Lá estiveram representantes dos três níveis de governo, dos consórcios de investidores, líderes comunitários dos bairros que serão afetados pelo projeto, grupos ambientalistas, deputados, vereadores, imprensa, cidadãos interessados. Por que não tocaram no assunto?

O PSDB governa o Estado desde 1995, Alckmin ocupou por seis anos o Palácio dos Bandeirantes, e justo agora trombeteiam cheios de certeza suas intenções desenvolvimentistas? 

Ora, ora, governador. Trucando numa hora dessas? 

No tabuleiro da política, fizestes um lance ousado. Só por abrir o bico, terás provocado um choque anafilático no tão aguardado projeto do trem-bala federal.

Lamentavelmente, porém, seu jogo de menino bom resultará também em irreparáveis danos ao povo paulista, que, como na música de Chico, vive "esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além, da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem,


Que já vem, que já vem, que já vem....."  

2 comentários:

  1. Crispiniano T.8/11/10 15:07

    Caro Marcelo
    Estou muito feliz com o resultado das urnas.
    A partir de 2011 será possivel implantar todas as reformas de que necessitamos, a da constituição inclusive. O governo da Dilma com controle do Executivo, tendo ministros nomeados por ela; do Legislativo, com maioria na Camara e Senado; e com maioria no Supremo (STF) com 8 dos 11 ministros nomeados pelo PT, e a totalidade deles até 2014, estou seguro de que não haverá retrocesso em nenhum dos planos do PT para endireitar nosso país.

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  2. Salve Crispin, ironia a parte, acho que você está coberto de razão. Por uma conjunção de fatores, inclusive internacionais, suspeito que chegamos à nossa "era de ouro".

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