29.5.08

outra carta ao sarda


Caro Sardemberg,
Vejo que você ainda não compreendeu o que se passa em relação ao Fundo Soberano.
1º)o formato proposto originalmente (de comprar dólares com receitas fiscais) faz todo o sentido, justamente porque se trata de uma alternativa à atual política de acumulação de reservas que implica na chamada "esterilização monetária", i.é, a venda de títulos e consequente aumento da dívida pública. Portanto, com o FS teríamos uma redução da dívida a médio prazo, com a vantagem da constituição de uma poupança externa que atuaria como mecanismo estabilizador anti-cíclico. Por contra-posição, sem o FS, e mantida a atual política aquisição de reservas, permanecerá a obrigação de venda de títulos (novo endividamento)para enxugar a liquidez.
2º) a batelada de críticas que tuas fontes do mercado financeiro fazem resulta do fato de que, com a existência do FS, o BC perderia poder sobre a política cambial - âncora não-declarada da estabilidade de preços - o que, aos olhos dos agentes financeiros, significa redução de ganhos (a talvez até perdas) com a arbitragem cambial que tanto lhes enchem as burras, quanto debilitam a competitividade da produção nacional.
3º) a nova fortmatação do Fundo Soberano (que não tem nada de fundo, nem de soberano), comemorada com ironia por você na CBN, nada mais é do que o velho "superávit nominal" destinado ao pagamento da dívida pública. É o sonho dourado dos do mercado financeiro, pois, para continuarem aplicando em títulos do tesouro, desejam - e pelo jeito conseguirão - que o governo não poupe esforços (receita fiscal)para quitar a dívida velha e assim reduzir-lhes o risco que incide sobre a dívida nova.
4º) Em suma, por trás de toda esta parafernalha fundista, existe apenas uma queda de braço entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central para ver quem fica com o controle da política cambial. Em última instância, as porradas sobre o inseguro Ministro Mantega é estratégia para resguardar os interesses maiores dos rentistas da seleção canarinho.
Mas você nunca fala destas coisas, né não?
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Esclarecimento:
há algum tempo venho cobrando via e-mail que o Sardemberg seja menos tendêncioso em seus comentários radiofônicos sobre economia, não só porque a pluralidade de opiniões sempre fará bem a uma rádio da dimensão da CBN, mas, pricipalmente porque o nível de falseamento e a quantidade de marteladas em suas análises insultam a inteligência e o humor dos ouvintes.
Cabe lembrar que, desde quando resolvi publicar neste blog as trocas de e-mails com o jornalista, com respostas de grande grosseria e sabujice, ele deixou de responder as mensagens.

27.5.08

por um caminhão de abóboras

Comemora-se hoje o dia nacional da imprensa. Triste imprensa brasileira. Lamentável mídia-ligeira. Cada dia mais alinhada com interesses particulares, cada vez mais chinfrim, cada dia mais desacreditada. A Veja, ponta-de-lança deste processo, zombou da inteligência de seus leitores e agora enfrenta queda progressiva de suas vendas, substituição de seus dirigentes e inédita crise de identidade. A Globo, que na eleição de 2006 mostrou os dentes, despediu 'desalinhados' e cuspiu no prato que comeu (BNDES), dá sinais de recuo na TV - embora mantenha-se dogmática em relação aos temas fundamentais ($$$)- mas solta os sabujos na poderosa CBN.
Sardemberg à frente, tome bobagens sem que nada bote freio. Na data de hoje, como em qualquer outra, não foi diferente. Sardemberg, ícone maior dos mídia-ligeira, vêm à classe média ainda assonada desancar a proposta de compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Por dogma e ignorância, o mídia-ligeira demonstra logo seu desapreço pela proposta de manter a Nossa Caixa sob controle estatal. Depois, argumenta que o método de venda, por não passar pelo mercado, resultará em um valor menor do que aquele que se conseguiria caso houvesse um leilão aberto à outras instituições bancárias. Ora, ora! A gana liberal do mídia-ligeira encharca o seu córtex e ele esquece de considerar os fatos. Como foi noticiado nos jornais nos últimos dias, a Nossa Caixa , por ser pública, possui um ativo - nada menos que 16 bilhões de reais depositados a título de "depósitos judiciais" - que não serve ao setor privado (portanto não seria considerada no leilão), mas que interessa a um futuro controlador estatal, como por exemplo o Banco do Brasil. Só por isso, já se justificaria a venda pelo método tão criticado pelo Sarda. Mas, o problema é que existem implicações ainda mais importantes neste episódio, para as quais qualquer jornalista econômico deveria atentar, mas que passam batido nas ondas da CBN. Bancos públicos, tem papel estratégico no desenvolvimento dos países e portanto não cabe avaliar o futuro da instituição pela simples análise de seu "preço de venda". Bancos públicos, especialmente em um país com um sistema financeiro viciado em títulos do governo, devem cumprir o papel de ofertar crédito a setores que não interessam aos bancos privados, a regiões do estado ou do país que não contam com um dinamismo econômico suficiente para garantir investimentos produtivos ao nível necessário para a desenvolve-las, etc., etc., etc.,
Enfim, nada como um Sardemberg após o outro para lembrar do quanto precisamos repensar a nossa imprensa.

26.5.08

A difícil equação do emprego juvenil


Com a aceleração do crescimento econômico verificado nos últimos anos, o Brasil comemora uma saudável e muitas vezes desacreditada recuperação do mercado de trabalho. De fato, não só pela redução das taxas de desocupação (hoje em torno de 8% da PEA), mas principalmente pelo crescimento recorde do emprego com carteira, há fortes razões para acreditarmos no resgate de milhões de brasileiros da condição de elevada vulnerabilidade social em que vivem.

Porém, sabemos que as oportunidades que se abrem não se distribuem por igual pela sociedade e que, embora haja grande dinamismo no mercado de trabalho e novos canais de mobilidade social, alguns segmentos da população, justamente os mais vulneráveis, correm o risco de ficar alijados deste processo por não serem considerados aptos.

Segundo recente estudo do IPEA (BPS nº15), são os jovens brasileiros, de baixa escolaridade, o segmento com maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Lamentavelmente, justamente a parcela da população sobre a qual recaem as esperanças de tantas famílias é aquela que menos êxito tem conseguido ante as novas oportunidades. Eis, portanto, um desafio urgente a ser equacionado pelas políticas públicas. Mais do que em outros momentos de nosso passado recente - quando faltavam oportunidades - é imperioso que se implementem políticas que resgatem uma geração de jovens, sedentos para participar da vida produtiva, mas que não possuem os requisitos mínimos que atendam às especificidades do mercado de trabalho contemporâneo.

É verdade que algo já vem sendo feito - somente o Governo Federal possui 19 programas distintos voltados à inclusão social dos jovens - mas é também verdade que estes programas não têm dado conta da enorme complexidade que o problema da exclusão juvenil requer. Em muitos casos, no anseio de enfrentar de uma só vez todas as carências e deficiências de nossa juventude, acaba-se formatando programas inexequíveis, seja pelas particularidades de cada Estado e cada Município brasileiro, seja pela impossibilidade de se atingir objetivos múltiplos em programas emergenciais, de curta duração. Aliás, o próprio Governo Federal, através da Secretaria Nacional da Juventude, reconheceu as dificuldades e resolveu reformatar parte dos programas para a juventude, colocando-os sobre um mesmo programa guarda-chuva (o ProJovem) e flexibilizando parte das regras que se mostravam contra-producentes. Em Campinas, por exemplo, onde estamos executando o extinto "Juventude Cidadã", enfrentamos dificuldades para preencher as vagas para cursos de qualificação profissional porque os jovens de Campinas fogem ao padrão do público alvo definido pelo governo federal. Ou seja, em nossa cidade, por fortuna ou mérito, não é comum encontrar jovens que atendem ao mesmo tempo aos diversos requisitos do programa federal: ter entre 16 e 24 anos, nunca ter tido carteira assinada, estar cursando o ensino médio e ter renda média inferior a meio salário-mínimo per capita. Como consequência, embora tenhamos, professores, salas de aula, dinheiro e jovens desempregados, não conseguimos juntar a "fome com a vontade de comer", pois os critérios foram definidos para um país genérico, abstrato, que não corresponde à nossa realidade local.

22.5.08

qual o melhor time desde os anos 70? vote alí


Nas últimas semanas, promovi ali ao lado algumas enquetes sobre os grandes times de futebol de cada uma das últimas quatro décadas.
Comecei pelos anos 70, por motivos óbvios: não faz sentido escolher o melhor time durante a era Pelé e do campioníssimo Santos.
Nos 70, a supremacia foi disputada entre três grandes esquadras: 1) A academia de Parque Antártica, inspirada pela cadência hipnótica do grande Ademir da Guia, que junto a Leão, Luiz Pereira, Dudu, Leivinha, Jorge Mendonça e César maluco arrebatou diversos títulos - bicampeão brasileiro (72/73) e paulista em 72, 74 e 76.
2)o Atlético Mineiro campeão do primeiro brasileirão em 71 sob a batuta de São Telê e pelo qual passaram grandes craques, como Toninho Cerezo e Reinaldo; 3)O Internacional, campeão brasileiro de 1979, com Mauro Galvão, Batista, Falcão, Valdomiro e Mário Sérgio ; Vencedor da enquete: Palmeiras (com apoio deste dono da bola, claro)
Nos 80: embora tenha sido uma década triste para os palestrinos, teve grandes times, com grandes craques que formaram uma das melhores seleções brasileira de todos os tempos. Entre os times: 1) a Democracia Corintiana foi sem dúvida um timaço, nem tanto pelos nomes no papel, mas principalmente pelo espírito e a vibração política que Sócrates (cérebro e craque do time), Casagrande e Wladimir transmitiam ao resto do time; 2) O Flamengo campeão mundial de 1981, para mim o maior time que vi jogar, com um elenco impressionante: Raul, Leandro, Mozer, Junior, Andrade, Adílio, Tita, Nunes e o fenomenal Zico.
3) o Gremio, campeão mundial de 1983, time raçudo que, sem muitas estrelas (os destaques eram De Leon, Renato, Tarciso, P.C. Caju e Mário Sergio), fez bonito na década, jogando uma bola mais para bacia do Prata do que para Baia de Guanabara. e 4) O Atlético Mineiro, que embora não tenha acumulado títulos expressivos na época, montou times fortes, com estrelas de primeira grandeza: Reinaldo, Nelinho, Éder, Luizinho, Paulo Isidoro. Na enquete da década, justa, ganhou o Flamengo.
Nos 90: Tempos de "modernização conservadora", muita gente copiando os esquemas defensivos do futebol europeu, grandes negócios e empresas entrando no nosso futebol, foi no estado de São Paulo que despontaram os melhoras equipes. Sem muitas delongas, diria que a década foi marcada por dois times: 1) O São Paulo, bi-campeão mundial nas mãos de Telê Santana, com Raí, Muller e Cafu comandando um time que jogava em alta velocidade e que arrebatou milhares de torcedores ao longo daquela década. 2) O Palmeiras, anabolizado pelos tostões da Parmalat, fez história com suas equipes campeãs em 1993 e 1994, mas que na minha opinião, foi ainda mais brilhante no efêmero time campeão paulista de 1996, recordista de gols, vencendo por antecipação e dando shows com Djalminha, Rivaldo, Cafu, Muller e Luizão. Té-te a té-te com o mengo de Zico, este time só não fez mais porque foi desmanchado para fazer caixa. Mas, votaram no São Paulo como o melhor da década.
Nos 2000: 1)O Santos de alma moleque, de Robinho e Diego, Campeão brasileiro de 2002 foi sem dúvida um dos destaques; 2) O Cruzerio, da tríplice coroa em 2003, com Alex em grande fase, fez barba e cabelo;
3) O Internacional de Porto Alegre, campeão mundial de 2006, com Fernandão e Alexandre Pato brilhando. Vencedor da década: Santos de 2002.

Agora é com a galera, dos quatro eleitos nas enquetes anteriores, qual foi o maior de todos? Façam suas apostas no box ao lado....

20.5.08

debate interessante

Freguesia, segue o link de post que publiquei no blog do Nassif sugerindo temas relacionados à gestão pública. É questão fundamental para o destravamento deste gigante chamado Brasil. Fala-se muito a respeito, muita consultoria fatura com o assunto, mas muito pouco se avança na prática. Clique aqui.

18.5.08

A hora e a vez do Fundo Soberano

De maneira muito discreta, o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo vem se tornando uma das pessoas mais influentes deste Brasil pós-FHC. Além de responder pelos novos ventos que embalam hoje o campeão de Palestra Itália, é conselheiro de primeira hora do Presidente Lula, amigo pessoal de José Serra, consultor editorial da ótima revista Carta Capital e presidente do Conselho Curador da TV Pública. Em seu currículo, junto de alguns feitos importantes (atuou diretamente na criação do seguro-desemprego e na autonomia das universidades paulistas), destacam-se as acuradas análises da economia brasileira, a partir das quais foi sendo reconhecido como um dos poucos analistas econômicos capaz de pensar com coragem e independência sobre os rumos deste país.
Recentemente, ante a necessidade de se mexer os pauzinhos para manter o país a salvo da crise internacional que se esparrama a partir dos EUA, Lula tem-lhe dado mais ouvidos e uma de suas mais importantes propostas poderá ganhar vida.
Como tem noticiado a imprensa, o governo deverá anunciar em breve a constituição de um Fundo Soberano, destinado a alocar recursos públicos em empreendimentos brasileiros no exterior.
Em poucas linhas, a idéia básica é fugir à armadilha provocada pela enxurrada de doláres que invadem o Brasil, principalmente agora que fomos alçados à condição de país sério. Para tanto, pretende-se transferir para o tal Fundo parte das reservas internacionais que o Tesouro vem acumulando e parte do Superávit Primário (recursos fiscais) que a ortodoxia alimenta com tanta paixão. Criado o Fundo, estes recursos seriam empregados em operações de financiamento de empreendimentos brasileiros no exterior. Com isto, além de reduzirmos a pressão sobre o Real (que coloca em risco a produção nacional), estaríamos constituindo uma rede de companhias brasileiras no exterior que, no futuro, poderá funcionar como um mecanismo de equilíbrio de nosso Balanço de Pagamentos. Como estes investimentos no exterior deverão gerar receitas em moeda estrangeira, teríamos no médio prazo a possibilidade daquelas empresas atuarem no sentido inverso ao fluxo de divisas que de tempos em tempos desequilibram nossas contas externas. I.é., quando nossa moeda estiver valorizada, aquelas empresas serão estimuladas a investir no exterior (pois os ativos estrangeiros ficarão mais baratos) e quando a situação for inversa (nossa moeda se desvalorizar) as empresas seriam estimuladas a internalizar seus lucros, ganhando na conversão cambial. De quebra, a constituição do Fundo fará com que nossas reservas alcancem melhores retornos para o país, na medida em que estariam aplicadas em investimentos mais lucrativos que os atuais títulos do tesouro americano.
Trata-se de uma tacada e tanto, inspirada na privilegiada visão do mundo econômico do Professor Belluzzo. Esperamos que seja tão exitosa quanto foi a campanha alviverde.

15.5.08

aviso ao mídia-ligeira

Prezado Jornalista,

Lamento, mas continuarei minha vigília e, sempre que tiver paciência e tempo, farei os devidos reparos a teus comentários e dos demais mídia-ligeira que pipoquem pelo dial. É bom lembrar que ocupas os ouvidos de um mar de gente graças a uma concessão pública que - em tese - deveria deixar evidente o que é notícia e o que é opinião. O que dizer então do saudável e democrático exercício de buscar a diversidade de opiniões?
Mas estou certo que meus assuntos não te interessam.
De qualquer forma, aviso ao povo que fico. Não só fico, como passo a publicar nosso papo no meu blog, cujo endereço vai a seguir: http://palpit.blogspot.com.

Nos vemos
Marcelo Manzano

14.5.08

carta ao mídia-ligeira

reproduzo abaixo mensagem que enviei ao Carlos Alberto Sardemberg e a resposta que o ilustre jornalista me enviou. Tirem suas conclusões:


De Marcelo - Para Sardemberg
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Caro Sardemberg,

Por um dever cidadão, vigilante, continuo escutando teus comentários diários.
Na tarde de ontem ao analisar o projeto do Fundo Soberano creio que, no afã de se opor a tudo o que parte do governo, cometeste um erro crasso. Disseste que o governo iria captar reais vendendo títulos da dívida pública para com isto comprar as divisas que comporão o fundo e que, portanto, o custo da operação seria de 7% ao ano.
Ora, a proposta não é esta. Quando o governo sinaliza que vai usar recursos do tesouro (do superávit primário) para comprar divisas (com custo zero de captação) está justamente criando uma alternativa à atual política de acumulação de reservas que onera o país na medida em que captamos por 7% e aplicamos por 2% ou 3%. É claro que alguém poderá argumentar que seria melhor usar o superávit para reduzir a dívida pública e que portanto o custo de oportunidade implica nos tais 7%. Ocorre que, por conta da crescente deterioração de nossa conta corrente, o governo terá que comprar dólares em quantidades razoáveis durante os próximos meses e, portanto, a oportunidade de redução da dívida não é factível.
Por fim, é sempre bom lembrar que, como ensina a boa teoria econômica, a estratégia do BC de trocar reais por títulos da dívida pública não evita a monetização da economia. No contexto de grande flexibilidade do mercado financeiro contemporâneo, títulos de dívidas são quase-moedas (i.é., substituem a moeda em inúmeras operações) contribuindo portanto para o aumento da base monetária e consequentemente aquecendo o mercado - à revelia do BC. Só que, infelizmente, a teoria econômica convencional (que habita a alma dos diretores do BC e os bolsos de alguns jornalistas que se aventuram pelos meandros da ciência econômica) faz vista grossa para este problema, acreditando num teorema do arco da velha (século XVIII) conhecido como a Teoria Quantitativa da Moeda.
O buraco é mais embaixo, meu caro fazedor de cabeças. Sugiro que procure saber algo sobre a Teoria Monetária da Produção. Conceito keynesiano que aponta para a inexcapável relação entre as esferas real e monetária da economia contemporânea, que joga por terra as simplificações da ortodoxia neoclássica.

Abs vigilantes
Marcelo Manzano


De Sardemberg para Marcelo
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bom, quem falou que ia emitir títulos foi teu colega, o keynesiano Mantega.

mesmo que utilize só o dinheiro do superávit primário - aliás, melhor do que gastar em custeio, previdência e pessoal - terá que emitir os títulos para resgatar os reais - como eles estão fazendo com as compras do BC.

e vc pode poupar meu email de suas teorias. Ou já sei ou não interessa.

13.5.08

ara sô!


Sardemberg continua impossível. Ao comentar o auspicioso programa de desenvolvimento industrial apresentado ontem pelo governo, disse que se trata de política tímida (porque reduz pouco a carga tributária) e equivocada, porque subsídios são um erro.
Então diga lá, ilustre mídia-ligeira, em que país industrializado não se adotam subsídios?

11.5.08

cadê o 'fora standard & poors'?

Com o "investiment grade", fomos alçados à condição de país sério, deixando para trás o comentário agourento de Lévi Strauss. Lula, é claro, comemorou como devia, mas será preciso ficarmos atentos aos novos desígnios.
Nem bem recebemos as estrelinhas, já vieram as novas recomendações da agência Standard & Poor, sugerindo o que devemos fazer daqui para frente para não retrocedermos à condição de economia de alto risco. Redução da relação dívida pública/PIB, segurança institucional, entre outros cliches da ortodoxia econômica evidentemente encabeçam a lista da S&P. É prache. É do gosto do mercado. Mas entre os conselhos market friendly, há sugestões que são evidente intromissão sobre assuntos internos do país, questões soberanas, e que não dizem respeito a qualquer instituição estrangeira, muito menos à uma empresa privada cuja finalidade última é orientar o capital rentista nas aventuras do mercado globalizado. Reforma trabalhista, reforma tributária, política ou previdenciária não poderiam nunca ser mencionados pala S&P, pois são assuntos que dizem respeito ao país que queremos. Bem ou mal, temos mecanismos institucionais legítimos para tratar destas questões e como qualquer nação soberana devemos pensar aqueles temas orientados única e exclusivamente pelos interesses dos brasileiros que aqui vivem e aqui votam. já não bastasse a imprensa vendida que se apoderou da "opinião pública" nos anos recentes, é inaceitável que a lógica dos rentistas do além-mar venha a desenhar nosso país. FMI, BID ou BIRD, mesmo que arbitrários e inoculados pelos interesses das nações hegemônmicas, ao menos fazem suas recomendações sob a aura do multilateralismo, contando por isso com alguma legitimidade e abrindo a possibilidade de contrapontos nacionais.
Já as agências classificadoras de risco têm como único compromisso atender às expectativas das finanças internacionais e, portanto, não precisam responder a ninguém nem sequer justificar seus erros. Supostamente, as agências são vigiadas pelo próprio Deus-Mercado.
Portanto, meus caros, é bom botar as barbas de molho. O grau de investimento certamente nos trás alguns benefícios, mas nossa soberania não deve ser triscada por nada, sob o risco de sentirmos saudades do "fora FMI".

9.5.08

mais dos mídia-ligeira


Por infortúnio supremo, ouço o Sardemberg nas três vezes que ele aparece na voz do Brasil, digo, CBN. De manhã, quando assonado levo a gurizada à escola. Ao meio dia, quando cato a gurizada. E, ao cair da tarde, quando volto para o lar.
Há algo estranho, difícil de entender, mas não consigo resistir àquelas palavras descabidas do homem que interpreta a economia para a classe média deste país.
Ontem, quinta-feira, transito parado, o mídia-ligeira falava das linhas gerais da política industrial que será anunciada pelo governo Lula na próxima segunda. Dizia que, ao que parece, haverá uma desoneração horizontal de tributos (REDUÇÂO DA CARGA TRIBUTÁRIA), grande bandeira de endinheirados e remediados de nosso país. Mas, como o cara não se permite elogiar o governo Lula, disse que, pelo menos desta vez, o governo não cometerá o erro de fazer uma política industrial buscando estimular ou favorecer este ou aquele setor - com o que a âncora concorda e complementa dizendo que afinal a política praticada até agora (que elege setores estratégicos) não tem dado muito certo. E te-re-te-te e ti-ri-ti-ti,....
Brincadeira! O debate econômico no Brasil anda tão fraco, mirrado, que os dois mídia-ligeira sentem-se absolutamente a vontade para dizer o que vier à mente, desde que seja contra o governo, sem qualquer receio de estarem afrontando estrondosamente a realidade dos fatos.
Se há algo minimamente positivo e razoável na política econômica do governo Lula (e olha que a era Palocci cometeu grandes impropérios econômicos) é o fato de ter recolocado a política industrial na ordem do dia e ter direcionado o aparato estatal disponível para desenvolver setores estratégicos, seja para desencadear o crescimento econômico, seja para gerar empregos e inclusão social.
Os fatos são fartos: no setor da construção civil, por exemplo, o governo desonerou vários elos da cadeia produtiva, abriu linhas de financiamento específicas do BNDES para as indústrias do setor e via SFH e Caixa Econômica Federal, fomentou o sistema de crédito imobiliário, gerando um boom no setor que não se via desde o distante "milagre econômico" dos anos setenta. Como qualquer desavisado sabe, o resultado desta "política industrial setorial [vertical]" deu um resultado pra lá de exitoso, provocando aquecimento da economia, criando uma enormidade de empregos para populações mais vulneráveis, formalizando as relações de trabalho como nunca se viu, ampliando a renda e fomentando os investimentos industriais a níveis inéditos nos últimos 20 anos. Este é só um exemplo. Há ainda o do setor naval, automobilístico, de máquinas agrícolas, etc.
Mas os dois porta-vozes, do alto de seu direito adquirido, dizem em horário nobre o que for preciso, como se do lado de cá estivéssemos todos abilolados, indiferentes à realidade de nosso país de hoje e ignorantes de que não há experiência de industrialização nos últimos 100 anos que não tenha decorrido de um conjunto de políticas industriais de fomento a setores estratégicos.
Industrializar-se depois de 1900 não é tarefa nada trivial. Grosso modo, pouquíssimos países conseguiram. Brasil, Coréia e China talvez sejam os poucos casos de sucesso e na história dos três é notória a estratégia de eleger setores a serem favorecidos e estimulados por políticas econômicas ativas e verticalizadas. Fora dos primitivos manuais de economia que embalam os sonhos do Sarda, não há lei de mercado, fundamento econômico ou investment grade que seja capaz de tirar um país de sua condição periférica e atrasada e alçá-lo à condição de nação industrializada.

Mas amanhã é outro dia, a gurizada vai à escola e o Sardemberg continuará falando das suas.

8.5.08

olha o cara!


E não é que Obama continua faturando as prévias democratas nos EUA? Como bem demonstra excelente post do Idelber (do biscoito) os analistas da mídia norte-americana já consideram Mrs. Clinton carta fora do baralho.

Pois vejam que bela foto. O que será que dizia Barack Obama a sua esposa Michele?
O obvio: "Yes, we can!"

7.5.08

reverberações de 68

O grande blogueiro Idelber (do biscoito fino e a massa) que trata com sabor e grande lucidez vários assuntos de nossos temos, levantou a bola sobre o que foram afinal as manifestações de maio de 68. Talvez porque eu exerça outra atividade profissional (sou professor de economia e milito dentro do setor público) e não tenha tido culhões para me dedicar às artes ou à literatura como o Idelber, discordo dos argumentos apresentados no post do Biscoito sobre maio de 68, que reproduzem as idéias publicadas por Alan Pauls no diário argentino "Página 12".
Primeiro porque o esquema simplista de 3 alternativas apresentadas pelo Pauls é do naipe do velho Leo Batista e sua saudosa zebrinha. Infelizmente, desde Marx sabemos que a história é um tanto mais complexa e essencialmente contraditória. Segundo porque ao reduzir o argumento dos analistas de hoje a um anacronismo histórico (...es la posición de quien, a la hora de juzgar algo, no tiene a mano más que una triste herramienta cronológica: ser más joven que lo que juzga) o Pauls parece depositar grande fé no sujeito histórico, como se o julgamento da história fosse mais legítimo quando realizado pelos seus próprios agentes. Ora, é bom lembrar do meia-oito Clode Lefort, fundador da revista 'Socialismo e Barbárie', que dizia que a história se escreve do presente para o passado e, portanto, é constantemente reescrita, à medida em que novos eventos concretos vão dando novo sentido às ações do passado. Terceiro, porque como sugere o desenrolar da história desde 68, muitas daquelas bandeiras estavam encharcadas de um voluntarismo e de uma frivolidade que em muitos aspectos contribuíram para o esvaziamento da política. Movimentos como a descentralização da gestão pública, a proliferação das instâncias de controle social, ou a ideologia do "smal is beautifull", levaram - contraditoriamente - à uma pulverização da política que em última instância a reduz a uma mera questão de técnicas de gestão. Esta nova política, vazia de sentido na medida em que incorpora a demanda de todos e portanto reproduz o status quo, é estéril e incapaz de transformar a realidade. Em suma, a análise coluna-do-meio, que tanto incomoda o Alan Pauls, me parece sim a mais honesta. É verdade que 68 significou uma valiosa ruptura da perspectiva do indivíduo, um rompimento com os padrões comportamentais que herdamos da moral burguesa, um importante marco na luta pela igualdade racial. Entretanto, infelizmente, no grande tempo da história (como pensava Braudel)suspeito que os Valores das manifestações de 68 restarão como uma etapa de transformação cultural que rumava à imperiosa força das leis de mercado. Pulverização das instâncias de poder político e livre mercado são, no limite, duas faces do mesmo processo.

5.5.08

festa no chiqueiro


Que maravilha. 5 x 0 em pleno Palestra. Começamos o ano muito bem. Creio que Valdivia, Marcos, São Pierre, farão ainda mais bonito no Brasileiro. E, se depender dos resultados dos estaduais, Palmeiras, Inter, Cruzeiro, Flamengo e outros mais têm tudo para fazer um dos melhores brasileirões dos últimos anos. Vai entender? Tanto craque jogando fora do país e o futebol aqui girando em alta rotação. Suspeito que são os ventos do crescimento econômico que nos acordam de 30 anos de coma econômica e social.

Avante populi!