30.4.09

sapecada da redenção

Belíssimo e fundamental o gol de Cleiton Xavier diante do Colo-Colo. Tivesse o jogo terminado empatado, o Palmeiras provavelmente entraria em crise, o bom e jovem time montado por Luxemburgo seria desmontado e Belluzzo teria seu trabalho questionado pela malta de Mustaffa.
Com o gol, emblemático petardo de longa distância, longa espera e rumo certo, o que caminhava para uma tragédia virou do avesso. Creio que o gol não só abre nova oportunidade para a sobrevida do Palmeiras na Libertadores, como catalisa uma mudança de espírito do time, sem o qual não se ganha nada no futebol. Com aquele chute, o que havia de expectativa frustrada vira combustível para desafios maiores. Agora sim, com a moçada já "madura" é possível pensar num grande time.

PS: e na voz do Zé Silvério a sapecada fica ainda mais épica.

27.4.09

lugosofia

Dica do Carlos Paulo: um cordel do Miguezim da Princesa historiando a saga filharesca do Bispo-Amante-Presidente Lugo.

REGIME DE ENGORDA NO PARAGUAI

Miguezim de Princesa


I

No Lago Ipacaraí
Tem algo novo no ar:
Apesar de toda a crise,
Da fome em todo lugar,
Podem segurar a saia:
As mulheres paraguaias
Tão dando pra engordar.


II

Depois que Fernando Lugo,
Um bispo bem avançado,
Conquistou a Presidência
De um país atrasado,
Virou um deus-nos-acuda
Com tanta mulher buchuda
Por tudo quanto é estado.


III

Parece até que o bispo
Não tinha tempo pra rezar:
Vivia de fazer política
E também de namorar.
E, quanto mais discursava,
A batina levantava
Para a vida melhorar.


IV

Quando a mocinha chegava,
Contrita a se confessar,
O olho dele brilhava
Como bola de bilhar.
Dando conselho, dizia:
Vamos lá na sacristia
Crescer e multiplicar.


V

Meus filhos e minhas filhas,
Propagava no sermão,
Quem inventou camisinha
Tinha negócio com o Cão,
Come papel de bombom
E não sabe como é bom
O calor da fricção.


VI

Viu uma índia guarani
Lavando as coisas, nuazinha,
Cancelou quatro comícios,
Se perdeu na ladainha,
A batina arrebentou,
Disse é agora que eu vou
Furunfar sem camisinha.


VII

Numa noite em Assunção,
Se agarrou com Viviana;
Em Pedro Juan Caballero,
Depois de uma carraspana
Do carnal ficar ;virado,
Ficou três dias afogado
Na paixão de Damiana.


VIII

A Igreja não permite
Ao sacerdote casar,
Porque os bens da Igreja
Nenhum cristão pode herdar,
Mas com mulher sem sossego
Uma sessão de descarrego
Ninguém há de censurar.


IX

Dizem que ele faz milagre:
Quem quiser engravidar
É só cruzar a fronteira,
Uma confissão agendar.
Não é como Pernambuco,
Que tem um bispo caduco
Que só sabe excomungar.


X

De uma coisa tenham certeza:
Batina nunca foi saia,
Sêmen de padre faz gente,
Bispo também faz gandaia,
Tomara não apareça
Uma mula sem cabeça
Na bandeira paraguaia.

25.4.09

as delícias da rádio trânsito

Paulistano, afastado do ninho ao cair na vida, não conhecia ainda as tais rádios que se dedicam a falar exclusivamente do trânsito de minha terra.
Que maravilha! Sem me dar conta, me deixei levar pela insana e frenética narrativa do caos que é transmitida ao vivo pelas ondas da tal "Sulamérica Trânsito" (FM 92,1). Como num filme de ficção científica, sob o comando de um onisciente radialista, uma equipe de repórteres (todas mulheres) espalhadas pelos cantos da cidade informa em tempo real as condições do trânsito, os acidentes, as rotas de fuga, etc.
"O corpo do motoboy já foi resgatado pelo SAMU e a pista da esquerda da via expressa já está fluindo normalmente"; ..."A equipe do CET tenta resgatar dois mendigos que estão na beira do Rio Pinheiros e a curiosidade dos motoristas já provoca um engarrafamento desde a Euzébio Matoso"; ..."Na João Dias, uma equipe de manutenção bloqueia a pista do canteiro central para fazer a pintura das guias"; ..."Como toda sexta-feira, a entrada para a Castelo, de quem vêm pela Marginal Tietê, já começa a parar e a fila chega à ponte do Piqueri"; ..."Liberadas as duas vias do Elevado Costa e Silva".
Para completar, direto do olho do furacão, ouvintes sabidos dão dicas a partir de celulares.

Enfim, depois de alguns minutos bombardeado por frases como aquelas, sentia-me como que assistindo minha cidade de cima, de um google earth da vida, torcendo para que o pulso voltasse a dar sinais na 23 de maio ou que a Av Aricanduva fosse liberada para quem vem da Vila Carrão - bairro que, aliás, sequer sei bem onde fica.
Mas a cidade estava lá, emaranhada, fluindo e refluindo, me fazendo imaginar como sair do sufoco se estivesse na Verador José Diniz ou na Rua Clélia para quem vem da Pompéia.

E no centro deste sim city concreto o comandante supremo, aboletado em seu QG, monitorando números, paineis e telefonêmas, fazia sínteses primorosas da situação geral do trânsito, demonstrando invejável conhecimento de cada palmo deste tabuleiro e recomendando alternativas precisas aos desvalidos motoristas.

Sei que me perdi nas informações da rádio e só me dei conta de que dela não mais precisava quando já estava chegando em Campinas e o rádio começou a falhar. Uma pena!
Aterrizei do voo panorâmico pela minha São Paulo, lembrei de ruas que há muito não passo e conheci outras que nunca passarei. Durante aquelas horas de Rádio Trânsito, São Paulo ficou pequena, coube num mapa cinzento e - confesso com constrangimento, - me tocou mais do que outras prosas modernistas.

22.4.09

o frango que interessa

Até o dia que nos interessa, o frango que aqui interessa era apenas um entre os tantos que viviam pelo quintal.

Sentados no terraço e vendo no horizonte o sol dobrar os vincos de quem passava pela estrada, esperávamos a coragem para enfrentar a volta. Falamos de queijo, de esterco, futebol... Até que, vindo não se sabe de onde, o frango que nos interessa cruzou o terreiro, arrastando em seu esporão esquerdo uma sacola do Supermercado Motta.

Assustado com a persistência de seu "predador" – naquele instante, apenas a sacola plástica - o frango seguia num zigue-zague alucinado, tentando redobrar a passada da perna direita a cada vez que dele se aproximava a esquerda. Entre nós, não mais se falava; esperávamos pelo rompimento da alça da sacola para que pudéssemos seguir com o tempo.

Mas a peleja, já insólita, ganhou ares trágicos quando a cadela parda que se estendia por debaixo do tanque perdeu o humor e partiu para cima da sacola, ou, sabe-se lá..., talvez do frango.

Mergulhando sobre os arbustos e arrastando poeira por todo o lado, o frango, já nas últimas, fugindo agora da sacola e da cadela (creio que nesta precisa ordem), vislumbrou então uma brecha na cerca.

Numa guinada súbita e desesperada, fintou a cadela e rompeu para o lado do asfalto.

Vindo não me lembro bem de onde, uma Kombi que descia destranbelhada cruzou pelo retão. No parachoque traseiro, um pedaço de plástico, uma sacola com as letras estripadas do Supermercado Motta.

16.4.09

individualismo sueco


Em reportagem de Maria Cristina Fernandes, publicada no Valor dia 20 de março, um tema chama atenção: o gigantismo do Estado sueco (que consome 58% do PIB) é condição para uma individualidade crescentemente livre e plena de direitos.
Ao contrário do que estamos acostumados a ouvir dos ideólogos do liberalismo econômico, o modelo sueco atesta que quanto maiores forem as garantias sociais e econômicas fornecidas pelo Estado, maiores as possibilidades de se exercer o livre arbítrio. Um exemplo? O seguro-desemprego de 300 dias, e que pode chegar a R$ 8.500 por mês, é concedido até mesmo a uma mulher (ou um homem) que esteja casada com um milionário. Para que não seja obrigada a viver submissa ao marido endinheirado, o governo lhe garante a renda.
O mesmo raciocínio vale para os benefícios previdenciários concedidos a idosos ou até mesmo filhos. Em suma: ninguém precisa depender de outro alguém, mesmo que este seja seu pai ou seu filho.

Já imaginaram o tanto de conflitos familiares ou dramas psicológicos que se elimina da tela quando frases como "eu sempre te dei tudo que você quis" ou "eu investi tanto na tua educação pra você terminar desse jeito" deixam de fazer sentido?

Pois é, os suecos parecem ter matado a charada. Em uma sociedade permeada pelo mercado, é falsa a dicotomia entre Estado e indivíduo. Só com um estado grande o suficiente para garantir a emancipação material do indivíduo é que se pode começar a pensar em questões como liberdade, arbítrio, plenitude de direitos, etc.

E antes que alguém pense nos "custos" econômicos deste modelo de sociedade, vale dizer que a produtividade do trabalhador sueco é a segunda maior do mundo (tem crescido a uma taxa média de 6,2% ao ano), a despeito dos suecos gozarem de uma licença maternidade/paternidade de 480 dias, de estarem autorizados a faltar até 60 dias por ano para cuidarem de filhos enfermos e de saírem de férias por sete semanas anuais.

PS: sobre esta possível arquitetura de um estado forte como garantidor dos interesses individuais, penso que um texto fundamental é o capítulo 24 da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda de J. M. Keynes.

12.4.09

hipótese, plausível.


Em seu popularíssimo blog - quase uma agência de notícias destes novos tempos - o jornalista Luis Nassif desenvolve uma tese original e interessante:

assim como na passagem entre os séculos XIX e XX, grupos financeiros se incrustaram nos salões da república, minando recursos, poder e ideologia para seus interesses particulares e cosmopolitas, provocando a reação dos Tenentes (que vocalizavam os setores médios da sociedade brasileira de então), agora poderíamos estar atravessando um revival daquela era, com procuradores e juízes de primeira instância (tenentes de hoje) lutando por restaurar valores republicanos que foram engolfados pelos ventos liberais e rentistas que aqui se instalaram nos anos noventa.

É uma boa tese.

9.4.09

vai tarde



Como já deveria ter feito há tempos, Lula demitiu o insubordinado presidente do BB, que em nome da "saúde financeira do banco" resistia à ordem de baixar o spread e, consequentemente, os juros ao cliente.
Evidentemente, os mídia-ligeira chiaram barbaridade. Sardemberg - sempre ele - usou e abusou de seus sofismas pró-mercado.

Primeiro, obrigado a ceder aos fatos, aceitou o argumento de que os spreads praticados no Brasil são exagerados - não disse, porém, que são os maiores do mundo, nem mencionou por exemplo que enquanto o crédito rotativo do cartão de crédito no Brasil supera os 10%, economias tíbias como a peruana convivem com taxas de 2,5% ao mês.

Depois, concluiu afoito que se o BB pretende baixar os juros, estará produzindo dois efeitos indesejáveis: (A) prejuízos ao banco e aos acionistas e (B) risco de criar o subprime brasileiro.
Como diria meu avô Paschoal, "Arah Sô! Tenha a santa paciência".

Quanto ao argumento (A), seria preciso demonstrar primeiro que reduzir o spread bancário significa operar abaixo do custo - e ninguém em sã consciência é capaz de afirmar tal disparate, nem mesmo o próprio Sarda, que começou dizendo que havia gordura nas taxas praticadas pelos bancos; Quanto ao argumento (B), é ainda mais espantoso, pois, como sabe até mesmo o Sardemberg, o crédito no Brasil corresponde a uma parcela pequena do PIB (40%), muito inferior aos demais países desenvolvidos (acima de 100%) e incomparável ao padrão norte-americano que produziu o subprime. Além disso, se não bebesse da água que alimenta os bancos e a imprensa, o onipresente jornalista deveria dizer que a razão do conservadorismo dos bancos brasileiros e a consequente inaptidão para o crédito está diretamente relacionada ao fato de que nos últimos 15 anos retiram seus mais que polpudos lucros dos títulos do governo, que tanto agrado lhes fez com as insensatas taxas selic.

Em Tempo: sobre o suposto "sacrifíco imposto aos acionistas", cabe lembrar que, ao contrário do que reverberam os midia-ligeira, é justamente por ser uma empresa de economia mista (com características públicas e privadas) que o BB representa um investimento seguro e rentável para seus acionistas. A despeito de seguir diretrizes políticas, é uma instituição com baixo risco de liquidez e nenhum risco de insolvência, traços que, como demonstrou a quebradeira de grandes bancos norte-ameriacanos, são bastante relevantes quando se avalia uma instituição financeira.

E, de mais a mais, é necessário dizer que servidores de carreira, quando assumem postos de direção em empresas estatais, são tentados pelo corporativismo, uma vez que os fundos de pensão das empresas são frequentemente grandes acionistas da própria instituição. Por isso, a não ser que o servidor seja dotado de claro espírito público, é provável que priorize estratégias de lucros altos - e bons retornos ao fundo de pensão - em detrimento dos interesses públicos que deveriam compor a missão da instituição.

PS: sobre o significado político do gesto de Lula, leiam artigo publicado no JB de hoje. Clique aqui

2.4.09

"esse é o cara!"

Para quem não viu, vale a pena conferir o vídeo, captado pela BBC, do momento em "off" de Lula e Obama se cumprimentando na reunião do G20.

Ao encontrar com o Lula, Obama diz a seus assessores: "Este é o cara! Adoro este cara! ... É o lider mais popular do mundo... deve ser por ser boa pinta (he, he, he...).
Já sem o áudio, a cena continua: Lula meio sem jeito, limpa o óculos, puxa Obama pelo braço e dá o troco.
clique aqui para assistir


Que os dois se entendam e usem de seus respectivos cacifes e carismas para fazer da reunião um espaço de efetiva construção de um novo capitalismo regulado.

1.4.09

Pole Position

Para aqueles que preferem um bom e velho game de corrida