21.4.08

palpite ali do lado





Embalado pela expectativa de uma bela final de campeonato paulista, reunindo os dois times que apresentaram o futebol mais criativo e menos covarde - Palmeiras e Ponte Preta - convido os parceiros de blog a votarem na enquete ao lado.
Década por década, quais foram os times que encantaram no futebol brasileiro pós-Santos de Pelé.
Na primeira enquete, sobre os anos 70, a academia alviverde comandada por Ademir da Guia venceu o Atlético de Reinaldo e o Inter do Falcão.
Agora a enquete pergunta sobre os times dos 80: a "Democracia Corinthiana", de Dr. Sócrates, Casão, Wladimir e Cia (time inteligente, habilidoso e engajado à política pelo retorno à democracia);

o Flamengo do galinho de quintino (Zico), cracaço e camisa 10 da seleção de São Telê, Junior, Leandro, Andrade e Adílio; o Gremio campeão mundial de 1983, do uruguaio De Leon, Renato Gaúcho e Mário Sérgio, que embora reunisse menos estrelas, foi um time com a cara do futebol do sul, brigador e copeiro de primeira.

PS: semana que vem tem década de 90. A quem interessar, sugira um time para entrar na enquete

18.4.08

num dianta!


Caro Ionesco,

Você melhor que eu sabe como em certos momentos desta vida as retas batem em retirada, o tempo embola, e um areião se esparrama pela vista da gente. Pior Ionesco, é quando você vive de pensar na economia, e o raio da economia parece que serve aos que não pensam ou aos que não vivem. Acontece que já faz um tanto de tempo, dez, doze anos que tenho dedicado minha bile à barbárie produzida pela ortodoxia infame que se apoderou do Banco Central. Mas, Ionesco, não dianta! Um país, cento e tantos milhões de gente de espinhaço dobrado, e o BC ali, firme, austero, sangrando dinheiro público suficiente para comprar toda a tapioca do mundo e de quebra sacrificando o nosso imberbe crescimento do PIB.
Ionesco, chego à conclusão que nem vale a pena gastar tinta - digo, bytes - com esta corja. Por isso, passo a reproduzir artigos que escrevi há anos atrás, que, tirantes uma ou outra referência, tratam exatamente das mesmas questões. É razoável, né não? Se eles não movem um palito, por que eu haveria de reinventar o assunto a cada dia?
Pois, então, segue o artigo abaixo, escrito nalgum dia de outubro de 2004, logo após mais uma extasiante reunião do Copom.
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mais cangaço, menos cagaço

Suponho que a última vez que estivemos parelhos com nossos vizinhos do norte foi ainda no tempo em que a poeira inspirava o sonho de um mundo a revelar. Aqui e lá, era no cavalo que sujeitos obstinados singravam o tabuleiro de seus continentes rumo ao deus dará. Enquanto a fortuna não vinha, o gado era o meio de vida e do couro se tiravam as coisas. Nos dois sertões foram comuns o choque com índios, a fé em Deus, a pólvora. Sob a austeridade daquela aventura árida, o cow-boy do faroeste e o cangaceiro do nosso sertão pareciam moedas de uma mesma face.

Coisa nenhuma. Do chapéu fizeram o pórtico de suas idiossincrasias. No cangaço, o couro dobrado em meia lua, acompanhando a linha dos ombros, com medalhas e asteriscos espalhados num espaldar imponente. No faroeste, o couro dobrado no sentido do vento, uma aerodinâmica própria à vastidão daquelas terras, sem cravos, sem brilhos, um chapéu com focinho e pose de vetor cartesiano.

Eis que num dos raros veículos de que dispunham para expressar suas diferenças, encontramos a senha para dois heróis de destinos tão dispares.

Sob as abas do chapéu do vaqueiro gringo, uma ética sem nuanças, um espírito pragmático, incisivo, guiado pelo sonho de um utilitarismo que misturava aos ideais protestantes a miragem de uma racionalidade infalível. Desde aquelas épocas a conquista do paraíso pelos norte-americanos se confundia com a busca por um progresso dos meios (...)
Nesta toada, fizeram e aconteceram e, pelos caprichos da história, transformaram-se na superpotência de hoje. Seus cow-boys ficaram como símbolo do voluntarismo maniqueísta, portadores de verdades, caminhando junto à cavalaria e se confundindo com o poder instituído. O sucesso do homem de Marlboro.

Do lado de cá do equador, sob o chapéu do cangaceiro, pouca sombra, muito brilho. Um totem cravado no meio daquele enrosco de mandacaru. No cenário atravancado, onde não se pretende o avanço, mas por certo a fuga, vive-se principalmente de ritos e flores. A honra e o perfume, o sagrado e a altivez do linho branco. No cangaço a vida passa à revelia da bússola, sem saber de tropas republicanas, sem laços com a máquina, nem com o funcionamento das estrelas. Os Yankees esfolavam os índios de dia e à noite fodiam suas damas de saloon. Lampião vinha de braços com Maria Bonita, um raro herói acompanhado de moça, parceira em tudo, nas investidas que aterrorizava os casarios, nos bailes de sanfona e zabumba, no puído da rede.

Alguns dirão que foram estes os males de nosso destino, como se destino fosse assim coisa de jeito de gente. Se esquecem do passado colonial, quando a elite ‘brasileira’ rascunhou nosso futuro a partir dos interesses dos sócios majoritários, às vezes a metrópole, muito mais vezes os capitais comerciais e financeiros. Ao contrário dos homens de Marlboro, que voltaram as costas à metrópole, por aqui o país, suas terras e seu povo foram sempre uma extensão dos negócios. Mas aos negócios nunca interessou que se fizesse de fato um país, que se distribuíssem as terras, que se desenvolvesse soberano o povo. Êta destino encruado! Sem o troféu do desenvolvimento, nosso chapéu de cangaceiro virou folclore e pecha de nosso atraso. (...)

(...) na cabeça dos cavaleiros da governabilidade, veste-se apenas um parco bonezinho, retrato estilizado da objetividade yankee. Sob insípida sombrinha, jogam seu xadrez acabrunhado, uma política autoritária, uma macroeconomia estúpida, uma governança estéril.

Artigo publicado originalmente na Revista Caros Amigos (edição de novembro de 2004).

17.4.08

the cow is going to the swamp


Talvez para demonstrar que não é apenas uma caixa de ressonância do mercado financeiro, o BC resolveu bater na mesa e subiu nesta quarta-feira a taxa de juros em 0,5%. Trata-se de um crime, com diversas repercussões nefastas que se farão sentir nos próximos meses. Vejamos:
1) A elevação em 0,5% representa um aumento imediato das despesas do governo (nosso bolso). A título do chamado serviço da dívida pública, teremos que drenar algo como 3,5 bilhões do orçamento público federal em 2008, que seguirão mansinhos para os bolsos de alguns poucos endinheirados que perambulam incógnitos neste Brasil;
2) A alta de 0,5% sinalizará aos produtores privados que o BC não permitirá que a economia brasileira continue crescendo ao ritmo atual - no oráculo que lastreia o juízo dos diretores do BC está escrito que o Brasil não pode crescer mais de 3,5% ao ano. Portanto, muitas decisões de investimento em novas máquinas e mais empregados serão abortadas.
3) Com o diferencial entre os juros do Brasil ante o do resto do mundo desenvolvido(que tem taxas entre 0,0 e 3,5%), um caminhão de endinheirados pegará dinheiro emprestado lá fora, trocará por Reais e emprestará ao generoso governo brasileiro. Sem levantar o forébs (saudoso Mussun) da cadeira, em um ano irão abiscoitar algo próximo a 8%. Dinheirinho fácil e seguro. Não é por outra razão que o sujeito mais rico do mundo declarou dias atrás que tem ganhado bastante com operações financeiras em Reias. Ra-ra!
4) Com a carrada de capitais estrangeiros entrando no país, o Real deverá se valorizar ainda mais frente ao dólar, encarecendo nossas exportações e barateando as importações. Com isso, a atividade econômica será reduzida, o nível de emprego cairá, a renda das famílias será menor e, finalmente, a inflação que hoje resvala os 4,76% AO ANO, deverá voltar ao centro da meta, i.é., 4,50% AO ANO!!!
Missão cumprida, dormirão em paz os diretores do BC.
Haja saco!

14.4.08

SUS, urros e sussurros

Aproveitando os 20 anos de SUS (Sistema Único de Saúde) copio abaixo artigo que escrevi em dezembro de 2003 para a revista Caros Amigos. A quem interessar, recomendo também a leitura da revista Carta Capital desta semana, com a matéria de capa sobre o assunto.

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Em um cenário com ares de hortelã, um decadente apresentador de TV lê, em um jornal cinzento, que hospitais do município de São Paulo deixarão de atender pacientes do SUS. Escrachando o serviço público, comenta de testa franzida sobre as agruras de quem depende do sistema público de saúde e, em seguida, passa a palavra a uma loira encantadora que completa a tabelinha, convidando o telespectador a aderir ao seguro de saúde que patrocina o programa e assina o cenário refrescante.

Não por acaso, o SUS goza de péssima reputação entre aqueles que não o freqüentam e sofre de crônica escassez de recursos financeiros. No imaginário dos formadores de opinião, o sistema de saúde pública é um misto do que ouviram da empregada doméstica e do que souberam através dos programas de TV com cenários limpinhos e objetivos escusos.

Mas, felizmente, a realidade do SUS é bastante diferente desta que se cristalizou na cabeça da elite brasileira. Ainda que existam problemas de toda ordem, o SUS, junto com o seguro desemprego, é reconhecido como um dos mais bem sucedidos programas sociais da América Latina. Como demonstra um interessante estudo do IDEC
(“O SUS pode ser o seu melhor plano de saúde” -
http://www.idec.org.b),
a comparação entre o que se produz de saúde no âmbito do SUS e o que é oferecido pelo sistema privado não deixa margem para dúvidas. Basta citar, por exemplo, que enquanto o SUS custa aos cofres públicos R$ 20,00 por habitante/mês, os planos de medicina privada cobram em média cerca de R$ 100,00 e, ao contrário do que sugere o senso comum, as responsabilidades maiores e mais onerosas ficam a cargo do sistema público.

Enquanto os planos privados impõem limites e restrições ao atendimento desta ou daquela doença, e cobram muito mais dos clientes de maior risco (como os idosos), o SUS não só garante acesso universal a qualquer um que esteja no Brasil, como custeia com os mesmos R$ 20,00 todo um aparato de saúde coletiva, que passa despercebido por muitos de nós.

Mesmo aqueles que sequer sabem onde fica o ‘postinho de saúde’ mais próximo, são beneficiários diretos do SUS quando, inadvertidamente, saboreiam a sua picanha com rúcula, seja na churrascaria da esquina, seja no Rubaiayat. Serviços como o da vigilância sanitária, que zela pela qualidade dos produtos que comemos e se responsabiliza pela captura de animais doentes, são vitais para que possamos sobreviver aos riscos inerentes à vida nas metrópoles. Na minha cidade, por exemplo, a vigilância sanitária descobriu recentemente uma fabrica clandestina onde restos de queijo estragado eram triturados, ensacados em embalagens falsificadas e revendidos como parmesão. Não fosse a ação deste silencioso exército de agentes do SUS, talvez só viéssemos a saber da história após uma infecção intestinal e um estranho gosto azedo no céu da boca.

Portanto, até aqueles que gozam do mais caro e sofisticado plano de saúde privado, devem ao bom funcionamento do SUS a baixa probabilidade de se tornarem vítimas de epidemias, surtos ou contaminações.

Nascido com a Constituição de 88, o SUS vem passando por grandes avanços, como a adoção de práticas efetivas de controle social (i.é, a criação de conselhos locais de saúde com poder deliberativo e fiscalizatório) e a consolidação de mecanismos de sustentação financeira, como a Emenda 29 que estabelece patamares orçamentários mínimos para gastos com saúde nas três instâncias de governo.

Contudo, sob a tutela da ortodoxia econômica que se cristalizou há mais de uma década no segundo escalão da chamada área econômica do governo federal, mecanismos como o da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limitam a expansão do financiamento das políticas sociais em momentos de crise e desemprego, tem trazido prejuízos sociais imensuráveis para o país. Sob o silêncio daqueles que lutaram contra a tirania do capital financeiro, assiste-se a uma guerra de foice dentro de cada gabinete dos chefes de governo, na tentativa de recompor orçamentos inviabilizados por uma lei de ferro que exige o pagamento das dívidas passadas (fermentadas por uma década de juros altos) e bloqueia o endividamento para o financiamento das demandas sociais que crescem com a crise econômica do país.

Ao contrário do que fazem e fizeram os países desenvolvidos nos últimos 50 anos, nós resolvemos atrelar o financiamento das políticas sociais (como saúde, educação e assistência social) ao comportamento do ciclo econômico, o que significa que quando a crise aperta, o dinheiro some e o desemprego come, o setor público também se contrai, deixando à sorte dos ventos aqueles que, por conta da brabeza da vida, precisariam mais do que nunca do remédio para pressão alta, da merenda e da creche para os filhos.

Aqui, quem diria, neste país castigado por uma das maiores dívidas sociais do planeta, mas governado por um pequeno time de economistas criado no maior mercado financeiro do mundo, executamos como ninguém uma política econômica pró-cíclica, que sacrifica o dinheiro de programas sociais, mas não descuida de superávits fiscais.

Em 2003, para encanto de Anne Krugger e de seus colegas de FMI, iremos retirar cerca de 150 bilhões de reais dos cofres públicos para pagamento de juros e serviços da dívida e gastaremos apenas R$ 44,00 bilhões para financiar a saúde pública. Isto significa que para cada brasileiro estamos gastando em saúde o equivalente a 100 dólares anuais, o que soa vergonhoso quando comparamos com o gasto de outros países: Dinamarca (2.060), Canadá (1.500), Portugal (615), Argentina (350), Uruguai (300), Coréia (260), Costa Rica (190), Marrocos (160), México (140), e, ufa, Bolívia (50) e Equador (13).

É claro que não se pode avaliar um sistema de saúde apenas pelo seus gastos, mas o SUS, pela sua amplitude, complexidade e resultados obtidos é um caso de êxito extraordinário. Ao contrário do que sugere o polêmico documento divulgado recentemente pelo Ministério da Fazenda (“Gasto Social do Governo Central: 2001 e 2002”), o SUS tem um custo per capita baixo, é relativamente eficiente no gasto e se caracteriza pela progressividade do sistema, isto é, apesar de universal, concentra seus gastos no atendimento às pessoas de mais baixa renda. Comparando com outros países em desenvolvimento, México e Argentina por exemplo, temos um sistema reconhecidamente melhor e mais eficiente que, gastando menos, zela pelo sarampo do morador da beira do Araguaia e pela cirurgia de medula do executivo da Avenida Paulista. Num país de dimensões continentais, clima tropical e 177 milhões de habitantes, cabe ao SUS os procedimentos mais custosos e mais difíceis de serem explorados pelo mercado. Enquanto o segmento privado fatura alto em procedimentos de média complexidade, o SUS se encarrega de tratar os desvalidos de um lado e os casos de alta complexidade e alto custo de outro (câncer, AIDS, Alzheimer).

Apesar disso - e neste ponto documento do Ministério da Fazenda tem razão em sua crítica - aos mais ricos é dada a possibilidade de deduzir do imposto de renda parte do que gastam com seus planos de saúde privado. Ou seja, daqueles parcos recursos do SUS, cerca de 1,5 bilhões de reais anuais são repassados aos usuários do sistema privado a título de deduções – valor que se aproxima do total gasto em 2002 com o programa Saúde da Família.

Por tudo isso, é preciso que pensemos a saúde pública deste país com mais responsabilidade e de forma menos leviana. As filas nos pronto socorros, a falta de medicamentos são apenas um lado de um sistema que faz muito com o pouco que recebe, mas precisa urgentemente de novos aportes financeiros. A luta fratricida intra-gabinetes, as práticas de uma engenharia orçamentária que se dedica a transferir para a rubrica da saúde gastos como saneamento, coleta de lixo, merenda escolar ou fornecimento de alimentos, é infame e inadmissível, principalmente em governos de esquerda que se legitimaram por meio da defesa de políticas públicas capazes de promover a inclusão social e superar a vergonhosa desigualdade em que nos metemos.

Por fim, nunca é demais lembrar que entre aqueles que são usuários regulares do sistema público de saúde, mais de dois terços se dizem satisfeitos com os serviços de saúde. O fato de nós, da elite, desconhecermos esta realidade, apenas confirma a progressividade do SUS.

para tempos de incerteza

"Não sei o que torna o homem mais conservador:
conhecer apenas o presente, ou apenas o passado"

John. M. Keynes, "O fim do laissez-faire" (1926)

11.4.08

quem encheu os olhos?

Vitor Birner na CBN se arrisca a dizer que, da década de 70 aos dias atuais, foram três os times de sonhos que passearam pelos gramados brasileiros: o Inter de Falcão (70's), o Flamengo de Zico (80's) e o São Paulo de Raí (90's). Ora, ora, que é isso?

Nos 70, é vero que a bela camisa púrpura do Inter flanou por entre os grandes jogos da época, mas é vero e tanto que a Academia Palestrina de Ademir da Guia, Leivinha, Luis Pereira, Leão e Cia. ascendeu à galeria das grandes orquestras da arte, perseguida de perto pelo Galo Mineiro, campeão de 71.

Nos 80, o Flamengo de Zico, Andrade e Júnior foi sem sombra de dúvida o grande time, quinta-essência da arte carioca de jogar bola. Longe, muito longe, passaram talvez a democracia corintiana e o Grêmio campeão do mundo.

E nos 90? Ai a questão se complica.
Se mirarmos pelo prisma da regularidade, ou das conquistas, o São Paulo de mestre Telê é indiscutivelmente o número um. Mas, se o assunto é time dos sonhos, show de bola, toques e dribles inebriantes, que me desculpem os tricolores, mas o Palmeiras de 1996 - de Veloso, Cafu, Júnior, Djalminha, Rivaldo, Luizão e Muller - campeão paulista com o melhor ataque da história (102 gols), jogou um futebol de raro encanto. Uma arte efêmera que durou pouco. Seis meses. Inesquecíveis.

9.4.08

a suécia sabe como

Em um canto de página do jornal Valor Econômico desta segunda-feira (07/04), publicou-se uma pequena matéria do Washington Post sobre a exitosa experiência do governo sueco no enfrentamento de uma brabíssima crise financeira - semelhante a dos EUA - que atingiu o país no início dos anos 90.
Em curtas linhas: ante o dilema de socorrer os bancos, para evitar a contaminação de outros setores, e alimentar o chamado risco moral (premiando com dinheiro público a irresponsabilidade dos agentes financeiros), as autoridades econômicas suecas optaram por um caminho bastante mais ousado:
1) Socorrer os correntistas dos bancos e os tomadores finais dos empréstimos (isto é, garantiram a liquidez na ponta real do sistema);
2) Obrigar os bancos a explicitar de uma só vez o prejuízo total escondido nos balanços.
3) Uma vez conhecido o tamanho do prejuízo global do sistema financeiro, todos os ativos podres (créditos com baixa probabilidade de resgate), foram transferidos para um banco estatal - criado especificamente para carregar estes títulos - que recebeu aportes do tesouro (governo);
4) Como contrapartida pela limpeza de seus balanços, os bancos tiveram que ceder ações ao tesouro;

Consequências:
1) Sem prejuízo para correntistas e tomadores de empréstimos, o impacto do colapso financeiro sobre o consumo e o nível de atividade econômica foi bastante reduzido;
2) Como o tamanho do rombo foi conhecido por todos, a confiança no sistema foi restaurada e o crédito pode voltar a operar, evitando o chamado credit crunch (travada geral do sistema);
3)Com a recuperação do sistema, grande parte dos ativos podres (de posse do banco estatal) foram resgatados, gerando receitas para o tesouro;
4) Estancada a crise e evitado o colapso, em pouco mais de um ano o PIB da Suécia voltou a crescer, superando os 4% nos anos de 93 e 94;
5) Com a economia em rápido crescimento, as ações dos bancos (que foram cedidas ao tesouro em troca da operação de socorro) valorizaram-se de forma acentuada e, portanto, devolveram ao setor estatal sueco (i. é, ao contribuinte sueco) o valor despendido quando o furacão ameaçava jogar na lona a rica e solidária sociedade sueca.

Obs: A experiência sueca foi copiada com êxito pelos vizinhos Noruega e Finlândia. Resta saber se o tíbio governo Bush terá a mesma ousadia. Suspeito que não e, infelizmente, o candidato democrata que venha a assumir o governo provavelmente chegará tarde demais. A depender do último relatório do GEAB (GlobalEurope Anticipation Bulletin), organismo independente criado para elaborar diagnósticos da conjuntura mundial a partir do olhar de autoridades européias, o colapso financeiro deverá atingir grandes proporções a partir de setembro de 2008, quando os fundos de pensão deverão ser arrastados para o buraco negro da deflação de ativos.

6.4.08

sopro de telê



É verdade que o Palmeiras nada ganhou até aqui. Mas é ainda mais verdade que vem jogando um futebol que enche a vista, como há tempos não se via nos jardins suspensos de Parque Antártica ou em outras paragens do futebol paulista.
Temos que reconhecer o mérito do Luxemburgo. Com um elenco formado de apenas bons jogadores e um candidato a craque (el mago Valdívia), o Palmeiras vem atuando com muita afinação, tocando de pé em pé, fazendo a bola circular de um lado a outro, parecendo até uma linha de ataque de handebol.
Desafiando a lei de ferro do futebol atual (defender com muitos e atacar com alguns), Vanderlei armou o time bastante ofensivo, com apenas três jogadores dedicados exclusivamente à marcação: os zagueiros Gustavo e Henrique e o aguerrido volante Pierre - o resto da moçada troca bola na intermediária do adversário, até que a trama produza um dado grau de vertigem nos defensores do lado de lá e se revele a trilha que dá acesso ao gol. Dá gosto.
Guardadas as devidas proporções, este Palmeiras lembra os times montados pelo saudoso Telê Santana.

para continuar pensando

Àqueles que se interessam pelo estudo do desenvolvimento econômico de países periféricos, recomendo o site do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.
Artigos, seminários, resenhas, tudo disponível via internet.

2.4.08

faro fino

É de tirar o chapéu o faro jornalístico do Luis Nassif no caso do dossiê dos gastos de FHC "vazados" à revista Veja.
Assim que a revista saiu (há quinze dias atrás), Nassif escreveu em seu blog que muito provavelmente se tratava de uma armação articulada entre a oposição e seus pares na mídia. Para provar sua tese, bastante corajosa àquela altura, nada mais do que o óbvio e o bom senso, como demonstra o trecho abaixo, publicado no blog do Nassif em 23/03/08:

A revista Veja soltou em sua edição deste final de semana mais uma de suas "criativas" reportagens, que trazem documentos obtidos de fonte não revelada e que a revista diz, sem apresentar uma mísera prova, ter sido o governo quem preparou. Com a "denúncia" a revista tenta alcançar três objetivos: transformar a corrupção do governo FHC em mera chantagem petista; forçar a CPI dos Cartões a entregar para a imprensa os dados sigilosos da Presidência da República e desgastar a imagem da ministra Dilma Roussef, da Casa Civil.

A revista, famosa por inventar reportagens inverídicas e trabalhar com documentos de origem duvidosa, alega que teve acesso a um suposto dossiê que teria sido preparado pelo governo para intimidar a oposição na CPI dos Cartões Corporativos. O suposto dossiê traz informações sobre os gastos com suprimento de fundos durante o governo Fernando Henrique. Cita gastos com caviar, champagne, viagens e outras futilidades que são citadas apenas para escamotear o real objetivo da reportagem: acusar o governo Lula de chantagista.

Acertou na mosca, com dez dias de antecedência - antecipando-se inclusive ao próprio governo, que bateu cabeça adoidado.
Como divulgado pela imprensa no dia de hoje, o dossiê foi obra do tucano Álvaro Dias, que com tal simulação pretendia acusar o governo Lula de chantagista e, de quebra, entortar a espinha da Ministra Dilma. Não por acaso, nos últimos dias, o líder tucano Senador Arthur Virgílio, animado com a farsa que montaram, anunciava aos quatro cantos que a Ministra tinha se tornado um pato manco, carta fora do baralho na sucessão de Lula.
- Cueim, cuereim, cueim, cuem. Faz hoje o tucano manco.
A farsa veio a tona e suspeito que servirá de anabolizante à campanha da "mãe do PAC".
Salve Luis Nassif!