7.5.08

reverberações de 68

O grande blogueiro Idelber (do biscoito fino e a massa) que trata com sabor e grande lucidez vários assuntos de nossos temos, levantou a bola sobre o que foram afinal as manifestações de maio de 68. Talvez porque eu exerça outra atividade profissional (sou professor de economia e milito dentro do setor público) e não tenha tido culhões para me dedicar às artes ou à literatura como o Idelber, discordo dos argumentos apresentados no post do Biscoito sobre maio de 68, que reproduzem as idéias publicadas por Alan Pauls no diário argentino "Página 12".
Primeiro porque o esquema simplista de 3 alternativas apresentadas pelo Pauls é do naipe do velho Leo Batista e sua saudosa zebrinha. Infelizmente, desde Marx sabemos que a história é um tanto mais complexa e essencialmente contraditória. Segundo porque ao reduzir o argumento dos analistas de hoje a um anacronismo histórico (...es la posición de quien, a la hora de juzgar algo, no tiene a mano más que una triste herramienta cronológica: ser más joven que lo que juzga) o Pauls parece depositar grande fé no sujeito histórico, como se o julgamento da história fosse mais legítimo quando realizado pelos seus próprios agentes. Ora, é bom lembrar do meia-oito Clode Lefort, fundador da revista 'Socialismo e Barbárie', que dizia que a história se escreve do presente para o passado e, portanto, é constantemente reescrita, à medida em que novos eventos concretos vão dando novo sentido às ações do passado. Terceiro, porque como sugere o desenrolar da história desde 68, muitas daquelas bandeiras estavam encharcadas de um voluntarismo e de uma frivolidade que em muitos aspectos contribuíram para o esvaziamento da política. Movimentos como a descentralização da gestão pública, a proliferação das instâncias de controle social, ou a ideologia do "smal is beautifull", levaram - contraditoriamente - à uma pulverização da política que em última instância a reduz a uma mera questão de técnicas de gestão. Esta nova política, vazia de sentido na medida em que incorpora a demanda de todos e portanto reproduz o status quo, é estéril e incapaz de transformar a realidade. Em suma, a análise coluna-do-meio, que tanto incomoda o Alan Pauls, me parece sim a mais honesta. É verdade que 68 significou uma valiosa ruptura da perspectiva do indivíduo, um rompimento com os padrões comportamentais que herdamos da moral burguesa, um importante marco na luta pela igualdade racial. Entretanto, infelizmente, no grande tempo da história (como pensava Braudel)suspeito que os Valores das manifestações de 68 restarão como uma etapa de transformação cultural que rumava à imperiosa força das leis de mercado. Pulverização das instâncias de poder político e livre mercado são, no limite, duas faces do mesmo processo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, se você não está conseguindo incluir seu comentário, tente fazê-lo assinando com a opção "anônimo".