26.5.08

A difícil equação do emprego juvenil


Com a aceleração do crescimento econômico verificado nos últimos anos, o Brasil comemora uma saudável e muitas vezes desacreditada recuperação do mercado de trabalho. De fato, não só pela redução das taxas de desocupação (hoje em torno de 8% da PEA), mas principalmente pelo crescimento recorde do emprego com carteira, há fortes razões para acreditarmos no resgate de milhões de brasileiros da condição de elevada vulnerabilidade social em que vivem.

Porém, sabemos que as oportunidades que se abrem não se distribuem por igual pela sociedade e que, embora haja grande dinamismo no mercado de trabalho e novos canais de mobilidade social, alguns segmentos da população, justamente os mais vulneráveis, correm o risco de ficar alijados deste processo por não serem considerados aptos.

Segundo recente estudo do IPEA (BPS nº15), são os jovens brasileiros, de baixa escolaridade, o segmento com maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Lamentavelmente, justamente a parcela da população sobre a qual recaem as esperanças de tantas famílias é aquela que menos êxito tem conseguido ante as novas oportunidades. Eis, portanto, um desafio urgente a ser equacionado pelas políticas públicas. Mais do que em outros momentos de nosso passado recente - quando faltavam oportunidades - é imperioso que se implementem políticas que resgatem uma geração de jovens, sedentos para participar da vida produtiva, mas que não possuem os requisitos mínimos que atendam às especificidades do mercado de trabalho contemporâneo.

É verdade que algo já vem sendo feito - somente o Governo Federal possui 19 programas distintos voltados à inclusão social dos jovens - mas é também verdade que estes programas não têm dado conta da enorme complexidade que o problema da exclusão juvenil requer. Em muitos casos, no anseio de enfrentar de uma só vez todas as carências e deficiências de nossa juventude, acaba-se formatando programas inexequíveis, seja pelas particularidades de cada Estado e cada Município brasileiro, seja pela impossibilidade de se atingir objetivos múltiplos em programas emergenciais, de curta duração. Aliás, o próprio Governo Federal, através da Secretaria Nacional da Juventude, reconheceu as dificuldades e resolveu reformatar parte dos programas para a juventude, colocando-os sobre um mesmo programa guarda-chuva (o ProJovem) e flexibilizando parte das regras que se mostravam contra-producentes. Em Campinas, por exemplo, onde estamos executando o extinto "Juventude Cidadã", enfrentamos dificuldades para preencher as vagas para cursos de qualificação profissional porque os jovens de Campinas fogem ao padrão do público alvo definido pelo governo federal. Ou seja, em nossa cidade, por fortuna ou mérito, não é comum encontrar jovens que atendem ao mesmo tempo aos diversos requisitos do programa federal: ter entre 16 e 24 anos, nunca ter tido carteira assinada, estar cursando o ensino médio e ter renda média inferior a meio salário-mínimo per capita. Como consequência, embora tenhamos, professores, salas de aula, dinheiro e jovens desempregados, não conseguimos juntar a "fome com a vontade de comer", pois os critérios foram definidos para um país genérico, abstrato, que não corresponde à nossa realidade local.

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