18.5.08

A hora e a vez do Fundo Soberano

De maneira muito discreta, o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo vem se tornando uma das pessoas mais influentes deste Brasil pós-FHC. Além de responder pelos novos ventos que embalam hoje o campeão de Palestra Itália, é conselheiro de primeira hora do Presidente Lula, amigo pessoal de José Serra, consultor editorial da ótima revista Carta Capital e presidente do Conselho Curador da TV Pública. Em seu currículo, junto de alguns feitos importantes (atuou diretamente na criação do seguro-desemprego e na autonomia das universidades paulistas), destacam-se as acuradas análises da economia brasileira, a partir das quais foi sendo reconhecido como um dos poucos analistas econômicos capaz de pensar com coragem e independência sobre os rumos deste país.
Recentemente, ante a necessidade de se mexer os pauzinhos para manter o país a salvo da crise internacional que se esparrama a partir dos EUA, Lula tem-lhe dado mais ouvidos e uma de suas mais importantes propostas poderá ganhar vida.
Como tem noticiado a imprensa, o governo deverá anunciar em breve a constituição de um Fundo Soberano, destinado a alocar recursos públicos em empreendimentos brasileiros no exterior.
Em poucas linhas, a idéia básica é fugir à armadilha provocada pela enxurrada de doláres que invadem o Brasil, principalmente agora que fomos alçados à condição de país sério. Para tanto, pretende-se transferir para o tal Fundo parte das reservas internacionais que o Tesouro vem acumulando e parte do Superávit Primário (recursos fiscais) que a ortodoxia alimenta com tanta paixão. Criado o Fundo, estes recursos seriam empregados em operações de financiamento de empreendimentos brasileiros no exterior. Com isto, além de reduzirmos a pressão sobre o Real (que coloca em risco a produção nacional), estaríamos constituindo uma rede de companhias brasileiras no exterior que, no futuro, poderá funcionar como um mecanismo de equilíbrio de nosso Balanço de Pagamentos. Como estes investimentos no exterior deverão gerar receitas em moeda estrangeira, teríamos no médio prazo a possibilidade daquelas empresas atuarem no sentido inverso ao fluxo de divisas que de tempos em tempos desequilibram nossas contas externas. I.é., quando nossa moeda estiver valorizada, aquelas empresas serão estimuladas a investir no exterior (pois os ativos estrangeiros ficarão mais baratos) e quando a situação for inversa (nossa moeda se desvalorizar) as empresas seriam estimuladas a internalizar seus lucros, ganhando na conversão cambial. De quebra, a constituição do Fundo fará com que nossas reservas alcancem melhores retornos para o país, na medida em que estariam aplicadas em investimentos mais lucrativos que os atuais títulos do tesouro americano.
Trata-se de uma tacada e tanto, inspirada na privilegiada visão do mundo econômico do Professor Belluzzo. Esperamos que seja tão exitosa quanto foi a campanha alviverde.

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