29.9.10

datafolha de calça curta

Com a divulgação da pesquisa do Ibope para presidente da república, confirmou-se o cenário que vem sendo apontado pelo tracking do Vox Populi, ou seja, a provável vitória de Dilma (PT) no primeiro turno. Enquanto a candidata governista aparece com 50%, a soma dos demais alcança apenas 41% , portanto uma diferença (9%) ligeiramente inferior aos 12% apontados pelo Vox Populi.

Contudo, mais do que os números em si, o que a pesquisa Ibope revela de mais importante é a sistemática miopia do Datafolha, que, de tão sistemática, joga por terra o que restava de credibilidade do instituto de pesquisas da Famiglia Frias. Como foi amplamente divulgado pelos mídia-ligeira, o Datafolha  sugeria que Dilma tinha apenas 2% a mais do que a soma dos demais candidatos e que, portanto, estaríamos com um pé e meio no segundo turno.

Mentiram. E, junto com o seu candidato, não deixarão saudades.

ET: para uma rápida explicação do "martelinho de ouro" usado pelo Datafolha, leia aqui a ótima cartilha "A Escolinha do Prof. Tavinho" elaborada pelo Tijolaço

27.9.10

mercado para quem precisa de mercado

Transcrevo a seguir alguns comentários que postei no blog do Nassif, sobre a entrevista concedida pelo Economista Marcelo Neri, da FGV, ao jornal Estado de São Paulo (leia aqui), adornada com o lamentável título que segue: "demos os pobres ao mercado. É hora de dar o mercado aos pobres".
Pois bem, Dr. Neri, vamos por pontos:
1º) Como bem sabe o ilustre, embora omita em sua entrevista, a renda dos ricos cresce muito mais do que 1,5% ao ano. O problema é que não há no país - com exceção das bases de dados da RF vendidas na 25 de Março - fonte oficial que permita estimar o crescimento da renda dos ditos rentiers. A PNAD, de onde o Neri tira suas conclusões, é uma amostra autodeclaratória que, obviamente, não registra os ganhos patrimoniais e financeiros que faz a alegria dos triple A. Porém, basta olhar para a conta de juros da dívida pública, para concluir que os R$ 180 bilhões anuais pagos pelo governo devem dormir em algum recanto tranquilo, engrossando o curau de uns a taxas certamente mais altas do que as tais 1,5% mencionadas no romance do Dr. Neri;

2º) Não pega bem e não faz o menor sentido conferir o atributo da "complacência" à política de aumento real de salário mínimo. Ocorre que, não só é preciso recuperar as perdas reais acumuladas por décadas, como se trata apenas de permitir que os ganhos de produtividade do país sejam compartilhados entre as diversas camadas da sociedade, em especial entre aqueles que por suas condições sociais, não têm como se defender da perversa concorrência que afeta os trabalhadores situados nas franjas do mercado de trabalho.
3º) E falar de "desincentivo ao trabalho", causado pelo Bolsa Família, é piada de má fé. Não me parece razoável que uma família - com três ou mais filhos - irá recostar à sombra da goiabeira apenas porque recebe, na melhor (ou pior) das hipóteses, R$ 200 por mês. Se assim pensa, Dr. Marcelo Neri deveria primeiro explicar por que continua indo à FGV, se recebe "desincentivos" fiscais muito mais generosos do Estado que lhe autoriza deduzir de seus impostos o Plano de Saúde, a Previdência Privada e a escola dos meninos Nerizinhos?
4º) Como revela estudo do IPEA, os limites da redução da desigualdade no Brasil estão dados hoje pela injustiça tributária. Quem recebe o tal salário mínimo da "complacência" ou a Bolsa Família que "desincentiva" paga duas vezes mais impostos do que o Sr Neri e todos nós da classe média.

Portanto, não venha agora propor mais mercado aos de baixo. Antes devemos retirar os de cima da situação de conforto para que se sintam incentivados à luta e não sucumbam à complacência do Estado que há tanto lhes é generoso.

26.9.10

marina: o verde que não poliniza

Ouço ronronar entre amigos, familiares, alunos e vizinhos menções de simpatia a Marina Silva, a candidata-santa que veio das florestas do acre. Deve ser a tal onda verde chegando aos companheiros de estamento.

Triste e lamentável.

Suspeito que se movem por um cômodo espírito naif,  que lhes permite continuar a flanar acima do vil mundo da política. Com uma dose de preguiça e talvez outra de covardia, escolhem a candidata verde fundamentalmente porque se trata de uma alternativa anódina, estéril, que não oferece riscos políticos reais, já que não apresenta projeto concreto de poder, mas, tão somente, princípios ecológicos e de bom mocismo econômico, que tanto agradam aos que miram por sobre o verniz.

É claro que qualquer um tem o direito de votar em quem quer que seja, quanto mais aqueles que se acreditam defensores de grandes causas, condutores de grandes bandeiras. Mas, pera lá, o façam com a espinha ereta, com convicção, com gana.

Sem dúvida é preciso pensar nas questões ambientais e tratar com absoluta seriedade o tema da sustentabilidade do planeta. Entretanto, é obrigatório apresentar um projeto de desenvolvimento completo, coerente e viável, não só do ponto de vista econômico, mas principalmente social. O tema da ecologia é de enorme complexidade, talvez porque o mais sistêmico de todos. Justamente por isso, não pode ser tomado apenas como um elenco de princípios ou de reivindicações. Não basta espernear contra os peixes de Belo Monte, sem mostrar uma alternativa exequível que evite a energia produzida pelas famigeradas termo-elétricas - que seriam acionadas na ausência das hidroelétricas. Não cabe amaldiçoar o pré-sal, se não indicarem outra forma de tirar do esgoto 90 milhões de brasileiros que vivem sem saneamento básico.

Eu também quero a alegria dos micos, dos vira-latas, o cheiro da mata que um dia ocupou o pasto seco que me irrita as vistas. Mas, é preciso dizer como enfrentar o problema na sua totalidade e, mais do que isso, demonstrar que a alternativa é melhor do que a política de desenvolvimento que vem sendo executada pelo governo Lula - do qual a Marina fez parte até 2007 - cujo esforço ambiental tem sido reconhecido internacionalmente.

A opção por causas nobres, reforçada pela ojeriza aos que se atolam na política, é a expressão do apequenamento de uma classe média aturdida e incapaz de discernir entre o "submundo revelado" pelo Jornal Nacional e as motivações golpistas que transparecem pelo cenário azul-brilhoso.

Mas afinal, qual é o país que propõe a Marina? Será que isso importa? Faz alguma diferença conhecer os interesses e os personagens que lhe apóiam? Alguém sabe o que pensa o Ricardo Paes de Barros, o economista que cuida dos projetos sociais de seu programa? E a trupe ultraliberal da Casa das Garças que lhe manifesta simpatia, tem alguma relevância? Os comentários elogiosos de Sardemberg e seus amigos da CBN, importam? Quem seriam seus aliados no congresso?

Sem respostas a essas questões, que me perdoem os amigos verdes, não há candidatura. Na melhor das hipóteses, um álibi.

24.9.10

sindicato forte faz toda a diferênça

Dias atrás, citei em vão os sindicalistas alemães, que deveriam estar se coçando de inveja do histórico reajuste salarial  (de 10,80%) conquistado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Pois, não é que os caras reagiram rápido!

Em matéria do Financial Times,  publicada no jornal Valor desta quinta, 23, noticia-se que o IG Metall (o poderosíssimo sindicato dos metalúrgicos da Alemanha) conseguiu assinar um acordo com a gigantesca Siemens que estabelece nada menos que a ESTABILIDADE INDEFINIDA no emprego, para 128 mil trabalhadores do conglomerado.

Impressionante em sí, a notícia surpreende ainda mais porque o momento não é dos mais róseos para a economia germânica. Com a crise que atinge a zona do euro e a crescente concorrência das manufaturas chinesas, a vitória do IG Mettal é um feito de grande significado.

Além da estabilidade em sí, que garante obvia tranquilidade à vida dos trabalhadores - devolvendo ao capital o risco que lhe pertence - coloca àqueles trabalhadores a possibilidade de negociarem em condições bastante mais favoráveis as pautas dos acordos futuros. De quebra, conseguiram estabelecer uma cláusula que garante acesso do Conselho dos Trabalhadores a informações estratégicas que possam alterar o controle societário da empresa.

Muito bão!

Como bem demonstraram os anos dourados do século XX, a concertação entre trabalhadores e patrões é condição das mais profícuas para se erguerem instituições sociais e econômicas mais justas.

Parabéns! Aos alemães e aos metalúrgicos do ABC.

23.9.10

canavial de gertúlio

Hoje, com um post da companheira Maria Clara:
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Semana triste e cinzenta na campanha eleitoral. Os vídeos de cachorro bravo; os golpistas reclamando de golpe; tudo pelo avesso… 

Vontade de tirar a sombra dos olhos; vôo de memória para um dia ensolarado de junho passado. 
Eu indo de João Pessoa até Recife para pegar um avião, entro no taxi preparada para duas horas de tédio, e o que me acontece é a melhor conversa do ano.

O taxista, paraibano bem-humorado além da conta, ia me fazendo aquele tour básico de taxista levando paulista em cidade bonita (e a paulista lendo no banco de trás). Até que chegamos à rodovia que leva ao Recife.


E eu comecei a ficar meio besta com o tanto de obras na pista, de caminhões com tudo quanto é coisa passando de lado a outro, de galpões industriais na beira da estrada com placas inusitadas - "Centro de Treinamento de Operadores de Máquinas Pesadas"; até hélice de moinho passou na direcção do norte. Surpresa, comentei com o taxista:


- Nossa, que diferente que está isso, que movimentado. Na minha memória aqui era um canavial só … ("… um canavial triste de dar dó, com povo sem rumo passando na beira, os olhos baixos de fome," não disse, só pensei, me vindo as imagens soltas da minha última passagem por ali, quando iam os 1980 e tantos).


Pra quê.
Vira o taxista e me diz:


- Isso era ANTES.
- Antes de quê?
- Antes disso tudo. A senhora sabe.
- Antes do Lula, é?


Como se eu tivesse dado a senha de algum código de cumplicidade, vem em seguida, de chofre, a pergunta dele:


- Professora, a senhora que é do sul, me diga, é verdade que tem gente por lá que NÃO VOTA EM DILMA?


Respondo eu que sim, que era verdade. Muita gente, sim. Sim, gente estudada. E ele:


- Mas eles querem o quê? Que volte tudo a ser como era ANTES?


Pergunto, afinal como era esse antes, e ele me conta.


Da infância na família de cortadores de cana nalguma parte daquele canavial faminto. Do pai com as mãos lanhadas do facão e do feijão nenhum na mesa. Do dia em que resolveu ir pra capital do estado para parar a fome. Da miséria e do horror que passou, menino de doze anos (eu pensando nos meus filhos, o coração apertado). Até que um dia as coisas começaram a melhorar de um jeito... A cidade crescia, hotel novo pra todo lado, ele arrumou um trabalho de porteiro. Daí  resolveu aprender a dirigir, e com os seus contatos de porteiro bem-humorado além da conta, virou taxista com clientela fixa entre os hotéis e a universidade. 


- E o seu pai? (pergunto)
- Quase morreu de alegria quando eu voltei com a papelada pra ele tirar a aposentadoria rural. Me dizia, "meu filho, mas isso é de verdade mesmo?" E chorava, coitado. 


Fomos ficando mais amigos e ele me conta que com todas essas alegrias, a maior que ele tem mesmo é o filho. Que está cursando o ensino médio. E vai pra faculdade depois.


- Pra faculdade, professora! (o orgulho embargando a voz) - e não é só o meu menino não, é essa meninada nova toda. Tudo pra faculdade!


Por essas e outras (diz) é que ele não consegue entender porque tem gente que queira voltar para o ANTES.


Nisso eu, paulistana cinzenta, pessimista sombria, digo ao Gertúlio que, veja bem, tem que ter cuidado, essa gente não está pra brincadeira - vão jogar pesado (e era junho ainda, isso…). Ao que ele me responde:

- A senhora está enganada. Isso não tem mais como voltar pra trás. Isso é que nem começar um foguinho no meio do canavial: ninguém nunca mais consegue apagar.


Chegamos no Recife, eu com a alma lavada do fogo no canavial, o Gertúlio me prometendo que vai voltar a estudar ("agora vai dar, professora").


Agora nesses últimos dias de campanha, que começaram com uma cara mais cinzenta e sombria do que eu esperava lá em junho, vou buscar na lembrança dessa conversa um sol de alma.


Vou tentar lembrar das palavras do Gertúlio que nem um mantra: "É fogo no canavial, ninguém consegue apagar"…

21.9.10

drª cureau não sara mais


Como é do seu feitio, Mino Carta respondeu na absoluta medida à Srª Vice-Procuradora Geral Eleitoral, que, inspirada por um anônimo, questiona formalmente a editora da revista Carta Capital sobre o volume de anúncios do governo federal em suas páginas.
Da Olivetti, no idioma da própria vítima, o Diretor da revista fuzilou a vice-procuradora geral.

Confira abaixo o texto na íntegra:  
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São Paulo, 20 de setembro de 2010.




Excelentíssima Senhora Vice-Procuradora Geral Eleitoral
Acuso o recebimento do ofício de número 335/10-SC, expedido nos autos do procedimento PA/PGR 1.00.000.010796/2010-33 e, tempestiva e respeitosamente, passo a expor o que se segue.
Para melhor atender ao ofício requisitório de relação nominal de contratos de publicidade celebrados entre o Governo Federal e a Editora Confiança Ltda. – revista CartaCapital –, tomamos a iniciativa e a cautela de consultar, por meio de repórter da nossa sucursal de Brasília, os autos do procedimento geradores da determinação de Vossa Excelência. Verificamos tratar-se de denúncia anônima, baseada em meras e afrontosas ilações, ou seja, conjecturas sem apoio em elementos a conferir lastro de suficiência.
Permito-me observar que a transparência é princípio insubstituível a nortear esta publicação, iniciada em 1994 e sob minha responsabilidade. Nunca nos recusamos, portanto, dentro da legalidade, a apresentar nossos contratos e aceitar auditorias e perícias voltadas a revelar a ética que nos orienta. Não podemos, no entanto, aceitar uma denúncia anônima, que, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal ao interpretar o artigo 5º, inciso IV, da Constituição da República (“é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”), afronta o Estado democrático de Direito e por esta razão é indigna de acolhimento ou defesa e desprovida da qualidade jurídica documental.
A propósito do tema, ao apreciar o inquérito número 1.957-PR em sessão plenária realizada em 11 de maio de 2005, o STF decidiu, sobre o valor jurídico da denúncia anônima, só caber apurar a acusação dotada de um mínimo de idoneidade e amparada em outros elementos que permitam “apurar a sua verossimilhança, ou a sua veracidade ”.
Se esse órgão ministerial, apesar do exposto acima, delibera apresentar a requisição referida nesta missiva, seria antes de tudo necessário, nos termos do art. 2º da Lei nº 9.784/1999, esclarecer e indicar os motivos da mesma, justificação esta que se encontra, me apresso a sublinhar, ausente da aludida requisição.
Cabe ainda ressaltar que todos os contratos firmados pela Administração Pública federal com a Editora Confiança, em atenção ao art. 37 da Constituição Federal, foram devidamente publicados em Diário Oficial da União e nas informações disponibilizadas na internet e, portanto, estão disponíveis à V. Excia.
Por último, esclarecemos que o levantamento de dados referido na requisição desse órgão implicará em uma auditoria nos arquivos dessa editora quanto aos exercícios de 2009 e 2010. Evidentemente, essas providências não cabem em um exíguo prazo de 5 dias, mas demandam meses de trabalho. Desse modo, se justificada adequadamente a realização de um tal esforço, indagamos ainda sobre a responsabilidade pelos custos correspondentes.
Ausente os pressupostos que justifiquem a instauração da investigação, requeremos o seu arquivamento. E mais ainda, identificado o autor da denúncia ainda mantido sob anonimato, ou no caso desta Procuradoria entender pela existência de indícios a dar suporte à odiosa voz que nos carimba de “imprensa chapa-branca”, nos colocamos à disposição para prestar as informações e abrir nossos arquivos e sigilos bancários e fiscais, observados, sempre e invariavelmente, os preceitos legais aplicáveis.
Atenciosamente,

MINO CARTA
Diretor de redação e sócio majoritário
Editora Confiança Ltda

20.9.10

simbolismo real no abc

O metalúrgico e sindicalista Lula tinha na luta pela recomposição das perdas salariais sua principal bandeira durante os movimentos grevistas de início dos oitenta, época de inflação galopante.
Quase trinta anos depois, o Presidente Lula se despede de seu comemorado mandato assistindo ao maior reajuste real de salários da história dos metalúrgicos do ABC. É sem dúvida algo importante a se comemorar, embora os "mídia-ligeira" e a turma do "dentinho escovado" prefira preencher as suas manchetes com a genealogia da família Guerra.

Em termos nominais, os metalúrgicos conseguiram 10,80% de reajuste salarial. Como a inflação do período foi de 4,29%, o aumento em termos reais foi de 6,26% (!!!!!). É aumento pra alemão nenhum botar defeito - e, como se não bastasse, conseguiram ainda um abono para todos os membros da categoria, de R$ 2.200 no ano.

Justíssimo e em boa hora! 

Justo, porque o setor automobilístico vem batendo seguidos recordes de produção e venda de automóveis, estimulados por políticas de isenção fiscal concedidas pelo governo, e também porque as taxas de produtividade na indústria cresceram significativamente nos anos recentes e, portanto, a elevação das margens de lucro das empresas permite maior distribuição de resultados aos trabalhadores.

Em boa hora, porque bem simboliza o legado de Lula na presidência, juntando as pontas dessa trajetória singular do ex-presidente dos metalúrgicos do ABC.

Para acompanhar, sugiro o vídeo de Lula (clique aqui), sindicalista, no programa Canal Livre de 1981. Notem como o sujeito, já naquela época, tinha clareza do seu papel, das dificuldades de se montar um partido para os trabalhadores e das possibilidades de realizar mudanças nesse país.
Lembrete: como se trata de uma entrevista longa, foi dividida em 8 blocos, que podem ser acessados ao final de cada qual. 

18.9.10

a turma do "dentinho escovado" e a morte de Lula

Aos que por aqui passam, informo que estou criando uma nova categoria de posts que denominarei "dentinho escovado". Obviamente, será a gaveta virtual reservada a textos que façam referência aos blogs limpinhos, ou seja, aqueles que não se enquadram entre os blogs sujos, que tanto desafiam a paciência de Dick Zé Vigarista.

Tenho a impressão e boto fé que a gaveta "dentinho escovado" terá vida curta, assim como a dos "midia-ligeira", que nos idos de 2007 serviram de estopim para esse blog-catarse.

E, para inaugurar essa gaveta máxima do bom meninísmo blogueiro, uma pérola garimpada pelo Alê Porto: um papinho descontraído de 2006, entre Diogo Mainardi (hoje autoexilado em Veneza) e Reinaldo Azevedo (hoje vivendo nas profundezas de alguma estação prestes a ser inaugurada do Metro paulistano). Notem quando os dois, cavalgando a história, se regozijam de serem os responsáveis pelo fim do Lula : "é quase uma vitória pessoal sua e minha", diz o Azevedo.

E, mais animados: "Essa gente mereceria a perda de direitos políticos e, na melhor das hipóteses, cadeia", completa o cheiroso Mainardi, sugerindo pois nada menos que a morte ou talvez o apedrejamento em praça pública do presidente do país à época  - já imaginaram o que diriam se a imprensa no Brasil não estivesse "comprada pelo governo", se fosse efetivamente livre?

Não deixe de ouvir. Clique aqui.

E, para acompanhar o prato principal, uma excelente reflexão desse processo de terceirização política à imprensa, escrita por Marcos Coimbra. Leia aqui.

17.9.10

entropia golpista


Brilhante o artigo de Mino Carta, na Carta Capital, refletindo sobre a ensandecida grita da midia-ligeira e seus suspiros golpistas.
"Somos otimistas. Acreditamos que a gestão Lula e Dilma precipitará finalmente o surgimento de uma oposição não golpista, ao contrário da atual, golpistas até a medula, a mesma que, com iguais propósitos, foi situação. Das cinzas do desastre tucano nascerá, esta a aposta, um avanço democrático decisivo. Lula, com seus dois mandatos, é o elemento fatal do enredo, acima e além de alguns méritos do seu governo. O Brasil precisa superar, agora, e superará, uma quadra que ainda o viu tolhido pela presença do partido do golpe, entendido como garantia do privilégio e sustentado pela mídia, seu braço direito e porta-voz.
CartaCapital percebe os sinais, nem tão tímidos, da mudança em andamento. Concordamos com José Dirceu quando defende a liberdade de imprensa. Mas a questão é outra: esta mídia é visceralmente antidemocrática, embora nem por isso deva ser coibida. Está a ser punida, aliás, e de outra maneira: prova-se, já há algum tempo, que não alcança o público na sua maioria. Tal é a nossa convicção, a mudança se dará naturalmente. E por este trilho, a mídia nativa vai perder o emprego."
Leia aqui o artigo na integra.

E pra embalar o presta-atenção, a letra da música Estatuto da Gafieira, sugerida pelo Carlos 220 Paulo:


Estatuto da gafieira

(Billy Blanco)
Moço
Olha o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos
Da nossa gafieira
Dance a noite inteira
Mas dance direito
Aliás
Pelo artigo 120
O distinto que fizer o seguinte:
Subir na parede
Dançar de pé pro ar
Debruçar-se na bebida sem querer pagar
Abusar da umbigada
De maneira folgazã
Prejudicando hoje
O bom crioulo de amanhã
Será distintamente censurado
Se balançar o corpo
Vai pra mão do delegado
Ta bem, moço?
Olha o vexame, moço!

o economês de cada candidatura

Repasso convite de debate interessante entre economistas afinados com cada candidato a presidente.
A iniciativa é do CAECO (Centro Acadêmico do Instituto de Economia da Unicamp).

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Na próxima terça-feira, dia 21/09, as 18:00h no auditório do Instituto de Economia da Unicamp será realizado um debate entre os professores desta casa, cada um em defesa de um presidenciável, seu partido e seu projeto. Teremos:

Prof. Dr. Ademar Romero - representando Marina Silva (PV)
Prof. Dr. Gabriel Ferrato - representando José Serra (PSDB)
Prof. Dr. Plínio de Arruda Sampaio Jr. - representando Plínio Sampaio (PSOL)
Prof. Dr. Ricardo Carneiro - representando Dilma Rousseff (PT)

O debate terá duração de aproximadamente duas horas e contará com 4 blocos:

1) Apresentação dos candidatos e projetos
2) Perguntas entre os representantes
3) Perguntas do público à mesa
4) Considerações finais dos representantes

14.9.10

erenice como se deve


Em nota oficial à imprensa (que reprodo abaixo), a Ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, responde com indignação e contundência à estratégia golpista e infame que José Serra e seus aliados da mídia têm adotado, enquanto rastejam até 3 de outubro.

O jogo tucano anda tão rasteiro que fica mesmo difícil de entender onde pretendem chegar. Como bem tratou Jânio de Freitas em seu artigo de hoje na FSP, o risco - para a própria oposição - é exagerar no ímpeto denuncista e terminarem santificando a Dilma, reforçando a imagem de sua idoneidade, de alguém que não tem como ser atingida moralmente.

A indignação de Erenice, portanto, além de justa, expressa bem o puxão de orelha que Serra e seus  emplumados aliados merecem. A manipulação dos fatos, com a mão pesada da velha mídia e do dinheiro fácil, é antidemocrática, leviana, e extremamente ofensiva, pois julga estúpida e boçal a gente desse país. Por conta dessa cegueira quadricentenária, congênita, parecem condenados a sangrar ao rés do chão.
Que seja!


14/09/2010 - NOTA À IMPRENSA

1.    Encaminhei aos Ministros Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União, e Luiz Paulo Teles, da Justiça, ofícios em que solicito que se procedam todas as investigações necessárias no sentido de apurar rigorosamente os fatos relatados em matéria publicada pela revista Veja, em sua edição mais recente, e que envolvem tanto minha conduta administrativa quanto a de familiares meus.

2.    Espero celeridade e creio na exação e competência das autoridades às quais solicitei tais apurações.

3.    Reafirmo ser fundamental defender-me de forma aberta e transparente das mentiras assacadas pela revista Veja. E assim o faço diante daquela que já é a mais desmentida e desmoralizada das matérias publicadas ao longo da história da imprensa brasileira.

4.    Lamento, sinceramente, que por conta da exploração político-eleitoral, mais que distorcer ou inventar fatos, se invista contra a honra alheia sem o menor pudor, sem qualquer respeito humano ou, no mínimo, com a total ausência de qualquer critério profissional ou ética jornalística.

5.    Chamo a atenção do Brasil para a impressionante e indisfarçável campanha de difamação que se inicia contra minha pessoa, minha vida e minha família, sem nada poupar, apenas em favor de um candidato aético e já derrotado, em tentativa desesperada da criação de um "fato novo" que anime aqueles a quem o povo brasileiro tem rejeitado.

6.    Pois o fato novo está criado e diante dos olhos da Nação: é minha disposição inabalável de enfrentar a mentira com a força da verdade e resoluta fé na Justiça de meu país, sem medo e sem ódio.

Erenice Guerra
Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República
14 de setembro de 2010

Azenha no ponto:

Reproduzo abaixo trecho do excelente artigo do L.C. Azenha, buscando decifrar o que passa na mente da assustada elite política (de direita e de esquerda) brasileira. Leia o artigo na íntegra aqui
"Além da ignorância, (...), torcer o nariz para a atual campanha eleitoral também serve a um objetivo político: desqualificar antecipadamente os eleitos. Para além do golpismo, no entanto, está a perplexidade de classe — e aqui localizamos a esquina onde se encontram direitistas e esquerdistas (alguns, pelo menos). O Brasil é um país de extrema concentração de poder, de riqueza e de saber. E o fenômeno que vai influenciar as eleições brasileiras a longo prazo representa uma ameaça a essa sociedade, em que as “ideias” políticas, de comportamento e de consumo “vertem” dos ungidos em direção às massas.
Assistimos, em câmera lenta, a uma revolução nos papéis sociais, que vai se acelerar quando a ascensão econômica se combinar com a interiorização do conhecimento, o acesso à universidade e as tecnologias de informação.
Perplexos, os que se acreditam mantenedores de nossa ordem hierarquizada confundem sua irrelevância com a decadência definitiva da democracia brasileira. É um jeito elegante de dizer que eles sentem desprezo pelos pobres."

9.9.10

enquanto o dia não chega

Aos que não resistem aos números das pesquisas, segue ao lado a janelinha "Rastreando a Eleição" com o resultado diário do Tracking do Instituto Vox/Populi.

Lembro que se trata de uma amostra de 2.000 entrevistas que, contudo, tem 500 delas substituídas diariamente. Portanto, é o que os estatísticos chamam de média móvel. A cada quatro dias a amostra é totalmente substituída, mas diariamente é possível inferir (com maior margem de erro) a tendência do eleitorado.

7.9.10

o pac do Obama

Depois de tergiversar durante um ano e meio de governo, o Presidente Obama parece ter se dado conta de que garantir solvência e liquidez a bancos e instituições financeiras é condição necessária, mas não suficiente para fazer andar a economia dos EUA. Com o setor produtivo em ritmo de espera - preferindo a liquidez -a solução encontrada foi apresentar um plano de investimentos em obras de infraestrutura que ajude não só a despertar o apetite dos reticentes capitalistas norte-americanos, como seja capaz de absorver parte dos desempregados que se multiplicam no país, roçando a taxa de 10% da PEA. Conforme noticiado (leia aqui), serão 50 bilhões de dólares para estradas, aeroportos, ferrovias... Uma espécie de PAC, bem mais tímido do que a versão tocada pela dupla Lula-Dilma, que destinou investimentos superiores a 500 bilhões de reais para um período de 4 anos. Além disso, o plano de Obama propõe também a criação de um banco capaz de financiar projetos de infraestrutura (seria uma espécie de BNDES?!? Para desespero dos mercadistas e dos mídia-ligeira que nos apurrinham nestas terras em que gorjeiam os sabiás).

Trata-se, certamente, passos importantes, pois apontam para um pouco mais de ousadia do Presidente Obama. Entretanto, dadas as dimensões da economia dos EUA (mais de oito vezes a economia brasileira), esse orçamento de 50 bilhões provavelmente não será suficiente para recuperar por completo a saúde do gigante. Porém, assim como aqui, nada impede que mais adiante outras doses do tônico keynesiano lhe sejam ministradas.