26.9.10

marina: o verde que não poliniza

Ouço ronronar entre amigos, familiares, alunos e vizinhos menções de simpatia a Marina Silva, a candidata-santa que veio das florestas do acre. Deve ser a tal onda verde chegando aos companheiros de estamento.

Triste e lamentável.

Suspeito que se movem por um cômodo espírito naif,  que lhes permite continuar a flanar acima do vil mundo da política. Com uma dose de preguiça e talvez outra de covardia, escolhem a candidata verde fundamentalmente porque se trata de uma alternativa anódina, estéril, que não oferece riscos políticos reais, já que não apresenta projeto concreto de poder, mas, tão somente, princípios ecológicos e de bom mocismo econômico, que tanto agradam aos que miram por sobre o verniz.

É claro que qualquer um tem o direito de votar em quem quer que seja, quanto mais aqueles que se acreditam defensores de grandes causas, condutores de grandes bandeiras. Mas, pera lá, o façam com a espinha ereta, com convicção, com gana.

Sem dúvida é preciso pensar nas questões ambientais e tratar com absoluta seriedade o tema da sustentabilidade do planeta. Entretanto, é obrigatório apresentar um projeto de desenvolvimento completo, coerente e viável, não só do ponto de vista econômico, mas principalmente social. O tema da ecologia é de enorme complexidade, talvez porque o mais sistêmico de todos. Justamente por isso, não pode ser tomado apenas como um elenco de princípios ou de reivindicações. Não basta espernear contra os peixes de Belo Monte, sem mostrar uma alternativa exequível que evite a energia produzida pelas famigeradas termo-elétricas - que seriam acionadas na ausência das hidroelétricas. Não cabe amaldiçoar o pré-sal, se não indicarem outra forma de tirar do esgoto 90 milhões de brasileiros que vivem sem saneamento básico.

Eu também quero a alegria dos micos, dos vira-latas, o cheiro da mata que um dia ocupou o pasto seco que me irrita as vistas. Mas, é preciso dizer como enfrentar o problema na sua totalidade e, mais do que isso, demonstrar que a alternativa é melhor do que a política de desenvolvimento que vem sendo executada pelo governo Lula - do qual a Marina fez parte até 2007 - cujo esforço ambiental tem sido reconhecido internacionalmente.

A opção por causas nobres, reforçada pela ojeriza aos que se atolam na política, é a expressão do apequenamento de uma classe média aturdida e incapaz de discernir entre o "submundo revelado" pelo Jornal Nacional e as motivações golpistas que transparecem pelo cenário azul-brilhoso.

Mas afinal, qual é o país que propõe a Marina? Será que isso importa? Faz alguma diferença conhecer os interesses e os personagens que lhe apóiam? Alguém sabe o que pensa o Ricardo Paes de Barros, o economista que cuida dos projetos sociais de seu programa? E a trupe ultraliberal da Casa das Garças que lhe manifesta simpatia, tem alguma relevância? Os comentários elogiosos de Sardemberg e seus amigos da CBN, importam? Quem seriam seus aliados no congresso?

Sem respostas a essas questões, que me perdoem os amigos verdes, não há candidatura. Na melhor das hipóteses, um álibi.

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