13.10.10

desemprego friccional? agora?

Peter Diamond, Dale Mortesen e Christopher Pissarides foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2010 por seus estudos sobre o "desemprego friccional". 
Poucos temas são tão irrelevantes quanto esse, principalmente quando se considera as atuais circunstâncias econômicas mundiais. 


Para quem não é do ramo é bom dizer que "desemprego friccional" é o nome que se dá à parte do desemprego que resulta do desencontro temporário entre trabalhadores e empregadores. Ex: um engenheiro naval que mora em Natal (RN) e que esteja desempregado pode levar algum tempo para descobrir que em São Gonçalo (RJ) estão precisando urgentemente de engenheiros navais, ou, um caso mais trivial, o azulegista do bairro A não sabe que a aposentada do bairro B quer ladrilhar a sua varanda. Enquanto os candidatos aos empregos não se encontram com aqueles que demandam sua força de trabalho, dá-se a situação de desemprego friccional.


O que os nobres economista fizeram foi sofisticar a análise sobre as tais fricções, suas causas e seus combates. Porém, cabe lembrar que essa modalidade de desemprego só tem alguma significância quando se supõe que o desemprego involuntário se aproxima de zero. Quando está sobrando engenheiro ou azulegista - quase sempre - o desemprego friccional é piada de mau gosto.


Portanto, beira o nonsense dar luz a esse assunto quando no mundo real problemas de emprego de muito maior gravidade e amplitude jogam para escanteio grandes contingentes de trabalhadores. Na Espanha, um em cada cinco trabalhadores está sem emprego; nos EUA se estima que nos próximos dez anos as taxas de desemprego permanecerão acima dos dois dígitos e a OIT anuncia que no último ano foi registrado o maior contingente de desempregados da história. 


Nesse contexto, seria muito mais interessante e profícuo discutir, por exemplo, a evidente correlação entre desregulamentação financeira e desemprego. Os suecos poderiam talvez procurar reconhecer o trabalho de algum economista menos crédulo que demonstrasse que nada desemprega mais do que a livre mobilidade de capitais.


Mas, como sabemos, os cientistas da tal academia sueca não costumam primar pelo realismo quando o tema é economia. Não escondem a preferência pela ficção e por ela navegam pela economia neoclássica e suas premissas café-com-leite. Estão certos de que a economia tende ao "desemprego natural" e, de modo precavido e responsável, preparam a ciência para lidar melhor com esse futuro radiante.

Pobres suecos! Um país tão avançado tendo que conviver com uma pantomima desse quilate. 

E.T.: embalado pelo mesmo bafo conservador, o Nobel de literatura coube à Mario Vargas Llosa. A esse respeito, sugiro a leitura de artigo publicado no Biscoito Fino, de autoria de Pedro Meira Monteiro (Clique aqui)  

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