26.9.08

a Geni e o capital


À medida que a crise financeira se propaga pelos EUA e pelas instituições bancárias internacionais, vão surgindo argumentos de que é preciso penalizar os 'pecadores', que na bonança multiplicaram de maneira 'irresponsável' o dinheiro alheio.
Será que este é mesmo o problema? 'Fulanizar' o pecado costuma ser o caminho mais rápido para exorcizar o sentimento de que algum mal paira em nossa sociedade (joga bosta na Geni!!!), mas enfrentar as causas reais da crise que viceja de tanto em tanto na história do capital é tarefa muito mais complexa, que exige menos paixão (à esquerda e à direita) e mais serenidade.
É verdade que a 'ganância de alguns levou a agonia de muitos'. Mas de forma alguma isso implica em dizer que estes 'gananciosos' foram os responsáveis pela crise.
Assim como cada um de nós, de carne e osso, eles apenas avançaram sobre uma avenida de oportunidades - lícitas e legétimas - que resultou de uma arquitetura financeira desenhada pelas autoridades (governamentais, acadêmicas, institucionais) autorizadas (no limite, pelo voto) a realizar a tarefa de desentranhar o processo de acumulação e valorização do capital. Goste-se ou não, desde os anos 80 sobraram argumentos de que a pesada mão do Estado é um freio ao desenvolvimento capitalista. Hoje, (re)descobrimos a tolice e até mesmo os ultraliberais, como o angustiado H. Paulson, querem o colo do mal-falado Estado.
Então, onde foi que erramos? Erramos ao acreditar - como ensinam 99% dos livros de economia e repetem quase 100% dos órgãos da imprensa - que se cada indivíduo maximizar a sua estratégia econômica, no agregado conseguiremos alcançar o máximo grau de bem estar social que cada etapa de desenvolvimento de nossa sociedade permite. Este é, precisamente, o algorítimo moral que legitima bancos e instituições financeiras a produzirem ativos (papéis) de alto risco e alta rentabilidade que podem ser vendidos (terceirizados)a qualquer momento em bolsas pelo mundo todo. Expurga-se o risco individual, mas amplifica-se o risco sistêmico.
Ou seja, na medida em que um agente financeiro pode se livrar de qualquer ativo a qualquer momento (exceto durante as crises!!!), vendendo-o no chamado mercado secundário, abrem-se infinitas oportunidades, onde a criatividade é o único limite. De fato, quando o otimismo reina e a exuberância aflora nos mercados, todos estão maximizando sua conduta individual e milagrosamente - como profetizava a microeconomia de manual - também a sociedade parece atingir o seu climax. É quando proliferam-se os gênios.
Mas, como o risco sistêmico (agregado) é levado aos limites, assim que o processo emperra, a casa vem abaixo e todos se vêem nús. Culpa de quem? Da Geni, que não soube se comportar, arriscou mais do que devia, foi gananciosa e oportunista?
Evidentemente que não. Nós, sociedade contemporânea, escolhemos este rumo, em especial quando o fim do socialismo real autorizou muita gente a acreditar que o livre-mercado era o caminho natural para a nossa transcendência. Falou-se do "fim da história", fim da macroeconomia, fim do estado-nação, da política e outras pataquadas mais.
A crise nos traz à dura e crua realidade. A história se repete como farça.
Só não vale jogar bosta na Geni.

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