31.3.08

sintonia fina

O recém empossado governador do Estado de Nova York, David Paterson, noticiado como o primeiro governador cego e negro dos EUA, veio a público confessar suas derrapadas do leito da moral e dos bons costumes. Disse que, quando jovem, cheirou e fumou. Também confessa que tanto ele quanto a esposa tiveram lá seus passeios extra-conjugais.
Grande figura! Antecipando-se aos mídia-ligeira (lá também existe), o político demonstrou bela dose de sensatez e disse logo o obvio: que era gente de carne e osso. Deixou de brocha na mão os arapongas que esperavam sangrar a reputação do governador para vender jornal e inflar a oposição.
Ao saber desta notícia, me lembrei do artigo (curriculum mortis e a reabilitação da auto-crítica) escrito recentemente pelo filósofo Leandro Konder, no qual ele reflete sobre a hipocrisia - ou a miragem coletiva - que se manifesta na importância que nossos tempos dão ao Curriculum Vitae.
Peça de ficção, escrita com as tintas da auto-promoção, o C.V. é talvez o suprassumo do fetiche da mercadoria 'força-de-trabalho', reificação patética dos acuados indivíduos de hoje, impelidos pela aguda competição no mercado de trabalho.
Pois o ilustre governado de NY, sabendo que não se sustentam os anjos ou querubins que se apresentam nos C.V.s ou nas peças de campanha eleitoral, mostrou logo seu Curriculum Mortis, dando um olé na rapinagem e aliviando a todos que esperam dele apenas uma boa governança.

P.S. Como certamente o texto do filósofo brasileiro ainda não foi traduzido para o inglês, nem vertido para o braile, eis uma bela nota de sintonia nestes tempos bicudos.

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