28.3.08

o panelaço e os mídia-ligeira

Seguindo no encalço das hipérboles e marteladas produzidas diariamente pelos analistas econômicos em nossa imprensa, vale a pena refletir sobre os comentários do Sardemberg (sempre ele) a respeito da crise argentina.
Diz o mídia-ligeira que o atual protesto de agricultores no país vizinho resulta dos equívocos da política econômica praticada pelos governos Kirschner, e que - na sua opinião - demoraram a acontecer (hmm!). Argumenta o jornalista da CBN que a tarifa sobre as exportações agrícolas, que se pretende aumentar de 35% a 45%, é na pratica um confisco sobre a renda dos exportadores e que, portanto, o governo os obriga a vender sua produção a um preço bastante inferior ao praticado no mercado internacional. Além disso, diz o Sardemberg, na medida em que intervém na dinâmica de preços dos mercados, o governo argentino acaba desestimulando o investimento e o resultado é a escassez de alguns produtos. Como exemplo, cita o caso do gás que, segundo ele, está faltando porque não interessa ao setor privado ampliar a produção.
Lamentável, caro jornalista. Primeiro, porque não custava nada pesquisar um pouco do assunto antes de proferir tamanha bobajada. Sabemos que o problema da Argentina em relação ao gás decorre do fato de que nossos hermanos têm assistido a um crescimento médio do PIB da ordem de 9% ao ano nos últimos 5 anos (nós estamos girando em torno dos 3,5%) e como a Argentina não tem grandes reservas de gás, tem sido obrigada a importar dos vizinhos. Este fato, portanto, não guarda qualquer relação com o controle de preços. Segundo, em relação à tarifa sobre as exportações, trata-se de uma estratégia - acertada-, e que poderia ser estuda por nosotros, para proteger a economia argentina da chamada "doença holandesa". Ou seja, a fim de evitar que o câmbio se valorize por conta do bom desempenho das exportações de bens primários - o que prejudicaria o desempenho do setor industrial e comprometeria o desenvolvimento futuro do país - o governo usa das tarifas como forma de desestimular a exportação de produtos agrícolas e ao mesmo tempo manter uma taxa de câmbio favorável às exportações dos setores estratégicos para o desenvolvimento do país e para a geração de emprego.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, se você não está conseguindo incluir seu comentário, tente fazê-lo assinando com a opção "anônimo".