16.3.09
surra de guitarra
Impelido pela condição de paternidade, levei meu filho e um amigo ao show do Iron Maiden, acontecido ontem no autódromo de interlagos. Nunca fui fã de heavy metal (em minha época era som de alienado) e mal sabia das músicas do grupo.
Mas o que eu imaginava um desastre, foi até uma boa experiência.
Ficamos das 13hs às 18hs numa fila infinita, recheada de gente vestida de preto, 2/3 das quais com camisas do Iron Maiden. Não sei se o leitor sabe - eu não sabia - mas o Iron Maiden é o grande expoente desta estética gótica que cerca o Heavy Metal. O mascote da banda (estampado em diversas versões nas camisetas) é uma caveira de nome Edie que encanta de marmanjos carecas a mocinhas de seios por vir. Na fila, eram raríssimos os negros. A enorme maioria era composta de gente branca da classe média baixa que inunda São Paulo. Todos pálidos, vestidos de negro, caveira em riste. E eram tantos que do momento em que se abriram os portões (às 16hs), até a entrada dos últimos (às 21:30hs), uma serpente negra, da largura de 5 brancos, atravessou ininterruptamente o portão do autódromo.
E aquilo ferveu.
De vez em quando, para afastar os espíritos (bons?), vinham ondas de "olê, olê, olê, olá, Maiden, Maiden" (as mãos levantadas com dedos como chifres).
Quando a banda subiu ao palco e anunciou que se tratava de seu maior público em 31 anos de estrada, os chifres eretos saudaram o mascote Edie, que nesta feita aparecia como a face de uma enorme esfinge que enfeitava o fundo do palco.
Guitarras, muitas guitarras tomaram conta da cena. O vocalista Bruce, com uma entonação de apóstolo do apocalipse mandava pau, animando o coro de milhares de brancos de preto.
Foi impossível não pensar nos comícios nazis, no estranho gosto dos povos anglo-saxões por esta estética medieval, sombria, como se estivessem todos ali num espetáculo de Harry Poter para adultos, para uma gente que vive o cheiro da marginal, mas que nem sempre pode urrar.
Antropologia à parte, houve momentos emocionantes. Quando o clássico "fear of the dark" começou a tocar, foi impressionante o volume do coro que acompanhava a melodia entoada de mansinho por um dos "n" guitarristas. Arrepiaram os pelos - não a ponto de levantar os chifres. E sou capaz de dizer que aquela música valeu o ingresso e seus adendos.
De resto, a despeito dos cenários e das pirotecnias, diria que falta baixo-ventre a esta turma do Heavy Metal. É muita guitarra e pouco baixo [sim, eu sei que o Steve Haris é considerado um dos melhores baixistas do mundo: porque toca baixo como guitarra!!!], é muita caixa pra pouco surdo. Falta sangue de preto. Ninguém ginga, nem requebra nem dança numa perna só. Quando muito, pulam para o alto.
E nas guitarras, uma enxurrada de solos, muito enredo pra pouco contexto.
Uma masturbação constrangedora.
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