21.6.08

medo de inflação?


Ontem o sol raiou, os passarinhos cantaram e os mídia-ligeira vociferaram. Desde cedo, Sardenberg e CBN martelaram com o tema da inflação, pois o IGP-M chegou a 1,83% na segunda prévia de junho. É o que precisavam para bater no "governo" e enaltecer a política monetária conduzida pelo Banco Central. O sarda não chegou a dizer "viva os juros altos", mas passou perto. Segundo seu palavrório, enquanto o governo faz "marketing", propondo ampliar a oferta de alimentos para reduzir a inflação, o Banco Central acertadamente mantém a trajetória de elevação dos juros que, para o Sarda, é a única política anti-inflacionária que efetivamente dá resultado.
Pois bem, vamos à desconstrução dos tíbios argumentos do mídia-ligeira:
1) Os IGPs (calculados pela FGV) não são índices levados em conta pelo Banco Central, que deve se orientar apenas pelo IPCA do IBGE (que permanece dentro da meta). A razão para isto é que o IGP foi desenvolvido para calcular reajustes de contratos (de alugueis e de empresas privatizadas) durante os primeiros anos do Plano Real e tem, na sua composição, forte peso de preços relacionados aos custos da construção civil e à bens intermediários importados. Ora, sabemos todos que a construção civil está bombando - graças a uma série de medidas de incentivo adotadas pelo governo federal nos últimos anos - e também que os preços das commodities estão subindo barbaramente no mercado internacional. Portanto, como o primeiro fator é bem vindo (mesmo que pressionando os preços) e o segundo nada têm a ver com a demanda interna, não faz sentido considerar os IGPs para discutir política monetária. Aliás, especialistas no assunto já sustentam que os IGPs devem ser extintos, estão caducos.
2) Quanto às virtudes da austeridade monetária praticada pelo BC, é importante notar que não há qualquer evidência de que os juros altos tenham sido responsáveis pelo controle da inflação nos últimos anos. A meu ver, trata-se de uma miragem estatística que apenas serve para justificar a insana transferência de dinheiro público para o bolso da rapaziada que dorme em berço de títulos do tesouro. Se é verdade que o Brasil tem conseguido manter a inflação a níveis bastante baixos, é ainda mais verdadeiro que este nível só pode ser explicado pela enorme valorização do Real nos últimos anos. Ao baratear os produtos importados e sangrar nossa atividade interna em benefício da produção de além-mar, conseguimos sim cumprir com nossas metas "civilizadas" de 4,5% ao ano. Mas, é de grande falsidade e cinismo, atribuir a pontaria do BC à sua política monetária stritu-senso. Os juros altos são o "segredo" não da política monetária (controle da demanda) mas de uma política cambial deletéria e inconseqüente, que, esta sim, faz baixar a inflação via redução de custos.
O problema é que, como há limites para valorização cambial (já estamos com déficit comercial), o antídoto começa a perder eficácia e, pior do que isto, devolverá a inflação incubada de outrora sempre que houver alguma tendência (necessária) de correção cambial.
Esconder esta realidade, de simplicidade ginasial, como faz o BC e seus comparsas do mercado financeiro, é de uma irresponsabilidade quase criminosa, pois alimenta-se a ilusão de que os juros altos têm sido eficazes para manter a demanda sob controle e a inflação dentro da meta.
Seria como a anedota do cientista que ao tirar as patas da aranha conclui que a bicha ficou surda, não fosse o fato de que, no caso, os cientistas do BC e seus sabujos da mídia faturam barbaridade com a fé da malta na surdez da aranha.

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