5.6.08

fazer o que?

Rebentado em 1968, filho de uma casal meia-oito, não tive chance de sonhar com o bicho-papão. Quando ia mijar na cama de meus pais, era do Presidente Nixon que eu fugia, sem muita idéia do que era um presidente, nem do que aquele sujeito espinafrado nas passeatas faria para gente como eu, minha mãe e meu pai. Anos depois, quando já me via sabido, Nixon e seu nariz carcomido deram lugar a outro legitimo habitante do reino das bestas feras: o Ministro Delfim Netto.
Descido dos ombros de meu pai, foi contra o humor negro daquela figura sinistra que se moviam as 'minhas' primeiras passeatas: "Fora FMI!", "Abaixo a Ditadura!", e pra puta-que-pariu tudo que o gordo Kzar da economia representava. Aos nossos olhos, Delfim era de fato um "demônio", personificava o mal como nunca mais vi acontecer na política brasileira. De cima de seu bunker, indiferente a opinião de quem quer que fosse, corrupto, oportunista, salafrário, manejava seus mil braços sem dó ou piedade.
Mas a ditadura se foi, e o com ela muitas das certezas e dos monstros que nos animavam a luta. Vinte e tantos anos passados, é difícil dizer, mas o terrível Delfim, por obra sabe-se lá de quem, tem se firmado como um dos mais brilhantes interpretes da economia brasileira. Há alguns anos, em seus artigos na imprensa - principalmente na Carta Capital - Delfim tem dado preciosas lições de Economia Política, desbancando a papagaiada da ortodoxia liberal e retomando as velhas e boas lições de Keynes e Schumpeter.
E mais difícil ainda de dizer e admitir é que, enquanto o gordo demoníaco trilhou o sentido da água para o vinho, aquela companheirada de esquerda que engrossava as nossas passeatas tomou o sentido do vinho para a água e parece cada vez mais incapaz de pensar o mundo em seus aspectos econômicos (pobre Marx!)
Para os que duvidam, vejam a entrevista do Delfim publicada na 'Revista do Conselho Regional de Economia' deste mês.
E durma-se com a mensagem retumbate e cheia de razão do velho Kzar: "Lula salvou o capitalismo brasileiro".

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