9.4.08

a suécia sabe como

Em um canto de página do jornal Valor Econômico desta segunda-feira (07/04), publicou-se uma pequena matéria do Washington Post sobre a exitosa experiência do governo sueco no enfrentamento de uma brabíssima crise financeira - semelhante a dos EUA - que atingiu o país no início dos anos 90.
Em curtas linhas: ante o dilema de socorrer os bancos, para evitar a contaminação de outros setores, e alimentar o chamado risco moral (premiando com dinheiro público a irresponsabilidade dos agentes financeiros), as autoridades econômicas suecas optaram por um caminho bastante mais ousado:
1) Socorrer os correntistas dos bancos e os tomadores finais dos empréstimos (isto é, garantiram a liquidez na ponta real do sistema);
2) Obrigar os bancos a explicitar de uma só vez o prejuízo total escondido nos balanços.
3) Uma vez conhecido o tamanho do prejuízo global do sistema financeiro, todos os ativos podres (créditos com baixa probabilidade de resgate), foram transferidos para um banco estatal - criado especificamente para carregar estes títulos - que recebeu aportes do tesouro (governo);
4) Como contrapartida pela limpeza de seus balanços, os bancos tiveram que ceder ações ao tesouro;

Consequências:
1) Sem prejuízo para correntistas e tomadores de empréstimos, o impacto do colapso financeiro sobre o consumo e o nível de atividade econômica foi bastante reduzido;
2) Como o tamanho do rombo foi conhecido por todos, a confiança no sistema foi restaurada e o crédito pode voltar a operar, evitando o chamado credit crunch (travada geral do sistema);
3)Com a recuperação do sistema, grande parte dos ativos podres (de posse do banco estatal) foram resgatados, gerando receitas para o tesouro;
4) Estancada a crise e evitado o colapso, em pouco mais de um ano o PIB da Suécia voltou a crescer, superando os 4% nos anos de 93 e 94;
5) Com a economia em rápido crescimento, as ações dos bancos (que foram cedidas ao tesouro em troca da operação de socorro) valorizaram-se de forma acentuada e, portanto, devolveram ao setor estatal sueco (i. é, ao contribuinte sueco) o valor despendido quando o furacão ameaçava jogar na lona a rica e solidária sociedade sueca.

Obs: A experiência sueca foi copiada com êxito pelos vizinhos Noruega e Finlândia. Resta saber se o tíbio governo Bush terá a mesma ousadia. Suspeito que não e, infelizmente, o candidato democrata que venha a assumir o governo provavelmente chegará tarde demais. A depender do último relatório do GEAB (GlobalEurope Anticipation Bulletin), organismo independente criado para elaborar diagnósticos da conjuntura mundial a partir do olhar de autoridades européias, o colapso financeiro deverá atingir grandes proporções a partir de setembro de 2008, quando os fundos de pensão deverão ser arrastados para o buraco negro da deflação de ativos.

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