À medida em que nos aproximamos da campanha eleitoral de 2010, cresce o bafo azedo da nossa elite cosmopolita. Sem um programa alternativo capaz de rivalizar com a agenda do atual governo, resta a desconstrução do que vem dando certo.
Não há outra maneira de entender as sarrafadas no lombo de três importantes conquistas do governo Lula: o Bolsa Família, os rumos da Petrobrás/pré-sal e a queda da taxa de juros (próxima do civilizado patamar de um dígito). Para desqualificar cada qual, arma-se uma frente de batalha que reúne a sabujada toda: políticos na entresafra (Arthur Virgílio, Raul Jungman, Roberto Freire, Jarbas Vasconcelos, Tasso Jereissati); mídias-ligeira bem remunerados (Sardemberg, Mirian Leitão, Merval Pereira) e extravagantes membros do poder judiciário.
Da trincheira plutocrática, jogam um jogo de interesses miúdos e consequências enormes.
Mas pretendo aqui tratar apenas dos ataques ao programa Bolsa Família. Como bem disse o ministro Patrus Ananias em matéria publicada no jornal Estado de São Paulo de ontem, a "animosidade" demonstrada por setores minoritários do país ante a informação de que o TCU identificou indícios de irregularidades no pagamento de 106 mil benefícios de um total de 11 milhões, revela a "intolerância com os pobres" e a "mentalidade escravocata" dessa gente.
Eu diria que o católico Patrus foi deveras benevolente. Além dos desvios morais, o que motiva a elite oposicionista são os interesses eleitoreiros imediatos e o descaso
com o bem estar de 45 milhões de brasileiros que dependem do Bolsa Família, cuja opinião menosprezam. O antigo progressista Jarbas Vasconcelos, por exemplo, assustou os leitores da Veja contando a história de um garçom de um boteco no Recife que desistiu do emprego para viver do Bolsa Família - a reportagem da revista Carta Capital foi atrás do garçom e não encontrou uma unica pista de sua existência no referido boteco apontado pelo senador.
Esbanjando cinismo, a cruzada contra o Bolsa Família nem se dá preocupa em rebater os já surrados e impressionantes números apresentados pelo economista Marcio Pochmann, que demonstram que se por um lado 45 milhões de brasileiros pobres recebem do governo R$ 12 bilhões ao ano, por outro, os 80 mil brasileiros mais ricos recebem algo como 120 bilhões, a título de juros pagos pelo governo.
Também se esquecem de dizer que enquanto cada uma daquelas 11 milhões de famílias pobres recebem em média míseros 85 reais por mês (ou R$ 1.000,00 por ano), os brasileiros mais abastados, das classes A e B, são beneficiados por descontos no imposto de renda de até R$ 2.592,29 por ano, para que possam manter seus filhos nos colégios que dão acesso ao maravilhoso mundo da cosmopolita elite brazuca.
E aí cabe perguntar: será que esta turma comete menos fraudes do que as identificadas pelo TCU no Programa Bolsa Família (1% do total).
Basta conversar com parentes, amigos pios e cidadãos progressistas para saber das estratégias para burlar o fisco. Portanto, será que entre nós, com renda superior a dez salários mínimos, as fraudes são de apenas 1%? Se você, como eu, tem certeza que não, então a pergunta necessária é: por que a imprensa reverberou as fraudes no bolsa família, contou a vida do garçom preguiçoso, do gato que recebia o benefício e dos 577 políticos do país que estão cadastrados como beneficiários, e nada diz a respeito dos milhões de brasileiros ricos que fajutam suas declarações de renda, produzem recibos, sub-avaliam transações patrimoniais?
Ora, se é para falar de gente pendurada nas tetas do governo, ótimo, mas que se comece pelo tamanho dos beiços dos bezerros: os de maior bocarra primeiro, os tíbios depois e os agonizantes... deixem que mamem um bocadinho.
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