30.6.10

a tasca

Não estou bem certo se deveria incluir Fortaleza sob o marcador "cinza is beautifull". Porém, a ocorrência gastronômica a que farei menção não poderia ficar de fora, então forço a mão e incluo a cidade ensolarada entre os cenários urbanos que inspiram o rótulo.

O acontecido foi um polvo à lagareira (na brasa, acompanhado de batatas ao murro, alho assado, cebola assada e pimentão) que comi no aprazível restaurante "A Tasca do Marquês", na simpática Rua dos Tabajaras, nº 429, na  Praia de Iracema.

Para quem não conhece o local, trata-se de um casario restaurado, onde, num entroncamento de ruelas, três imigrantes - um italiano, um espanhol e um português, disputam com seus três respectivos restaurantes, um em cada esquina, o gosto da freguesia que passa por lá.

Só estive na "Tasca", e não tenho porque conhecer os outros. O polvo de que falei, além de delicioso e bem servido, deve estar entre os mais baratos do país: apenas R$ 27,00 o prato. E, de quebra, uma portuguesada lascada se reúne nas mesas do Tasca, completando o cenário lusitano.

ET: atenção para as segundas-feiras. É naquele trecho que ocorre o forró do Pirata, festa arretada que junta turistas e coisa e tal num dos principais eventos noturnos de Fortaleza. Portanto, se o interesse for gastronômico, evite as segundas. Se for farra, esteja lá.

27.6.10

o doce do papa

Andando a ermo em busca de um bom churrasco curitibano, cheguei pela graça d'algum deus a uma escondida casa de chá de origem polonesa, onde experimentei a kremòwka.


Meu plano era apenas tomar um café para espantar o frio e um pão de queijo para suprir a falta de churrasco, mas, assim que entrei no Kawiarnia Krakowiak (Clique aqui para saber mais) me dei conta de que seria mais sábio consultar o polonês que fazia contas atrás do balcão. E no balcão, um doce folhado que de cara me encantou:
- "um desses".
Ao que o polaco me respondeu: 
- "o preferido do Papa?". 
- "Sim, um desses".


Meus caros, tenho que concordar com o Papa. O tal  kremòwka é realmente delicioso. Nada sofisticado: massa folhada com recheio de nata. Mas, aquele que fazem no tal Kawiarnia Krakowiak é de longe o melhor que já comi. Feito com nata trazida da "colônia" e massa folhada caseira. Muito bom! Wzniosly! zdumiewający!!!



Obs: a foto da casa é de Janaina Calaça

sigo fechado em copas

10.6.10

tabu como herança

Se é verdade que Lula herdou de FHC uma economia em situação de enorme fragilidade - déficit de U$ 7,6 bi em conta corrente; saída liquida de U$ 4,7 bilhões de capitais de curto prazo; apenas U$ 37 bilhões de reservas cambiais; R$ 881 bilhões de dívida pública; inflação anual de 12,53%; Selic a 21,9% e PIB crescendo apenas a 2,7% - é também verdadeiro que Lula, embora tenha dado conta de reverter a maior parte dos problemas que lhe foram entregues, foi o responsável por alimentar o mito da autonomia operacional do Banco Central. No coração da banca financeira e na boca-rota dos mídia-ligeira, foi no BC que se erigiu o virtuosismo da era Lula; o resto, dizem, foi populismo.

Ora pois! Da herança maldita, temos agora a armadilha ideológica da autonomia do Banco Central. Um mito, que como aqueles nas histórias dos irmãos Grimm, recomenda severamente que não se abra a tal porta do corredor do castelo.

Sem votos para influir na equação política do país, é assim que os poucos e graúdos rentistas garantem mais uns dias de maná.

Como escapar dessa maldição?

Ora, se não há quem se comprometa claramente com o fim da autonomia do BC, que se faça ao menos uma mudança por dentro, reformando as regras do sistema de metas . Há espaço para tanto e diversos exemplos no resto do mundo nos servem de exemplo.

Primeiro, é perfeitamente possível, copiar o FED dos EUA e redefinir o método de cálculo da inflação, expurgando itens que sofrem oscilações muito frequentes ou efeitos produzidas por choques exôgenos. Trata-se, como dizem, de mirar no "core" da inflação. Além disso, é  mais do que necessário retirar também do cálculo os efeitos dos preços administrados que, obviamente, não tem absolutamente nada a ver com oscilações da renda e, portanto, não devem ser levados em conta. Outro aspecto que poderia ser alterado é o ponto no tempo que serve de baliza  para a definição da meta de inflação. Enquanto aqui se trabalha com o horizonte dos próximos 12 meses, em outros países a baliza é colocada mais à frente, permitindo que o BC tenha mais tempo para manejar a política monetária, evitando que sua ansiedade em acertar no curto prazo resulte em oscilações desnecessárias ou overshootings. Alguém um pouco mais determinado poderia até propor um sistema com duas metas: uma de preços e outra de emprego. Vários países trabalham com esse sistema, sem que isso signifique o fim da estabilidade. Por fim, assim como faz o Banco da Inglaterra, talvez fosse o caso de reservar um assento no CMN ou mesmo no Copom para um conselheiro externo, de fora do clube dos rentiers.

Se a autonomia virou tabu, que o BC permaneça com os seus graus de liberdade, que preserve as equações e a torre de marfim, mas que esteja apto a fazer aquilo que a sociedade, através de seus representantes políticos, defina como desejável em termos de nível de emprego, de preços e taxas de crescimento da renda. O que é intolerável é continuar assistindo aos sacrifícios e recorrentes abortos de nosso crescimento justificados pelo ábaco enferrujado do BC, sempre a recomendar os maiores juros do mundo.

5.6.10

por um caminhão de razões




PS: Sobre o tema "Imprensa e liberdade de expressão", aproveito para recomendar a leitura de um manifesto escrito por Idelber Avelar no bom site Sul21

1.6.10

H.E.N. cem

Êta ferro! Do que  não é capaz a ideologia liberal? A despeito da hecatombe financeira produzida pela farra dos mercados desregulados, é contra o gasto público e por conseguinte contra o Estado e, em última instância, contra a Política que se voltam as baionetas dos missionários da reconstrução financeira. Depois de terem feito a mea culpa em relação à radical experiência de ortodoxia aplicada a países como Argentina e México, os organismos multilaterais voltam à carga com o mesmo "caminho suave" - para a estagnação - de outrora.

Suspeito - ou talvez apenas espero - que estejam cutucando a onça de vara curta. Se estão à vontade para acusar os mediterrâneos de perdulários e pouco afeitos ao batente, é prudente lembrar que são também ardidos e cheios de sí, chegados num cabo de guerra em praça pública.

Pois, para colaborar muito modestamente com a resistência, segue o link do centésimo número da "Heterodox Economics Newsletter", uma publicação virtual de um punhado de ovelhas desgarradas que reúne informações, fóruns de discussão, dicas de leitura, resenhas de livros, artigos, etc. referentes ao debate econômico para além das hostes do mainstream neoclássico.

E.T.: aproveito a oportunidade para pendurar na Redondeza aqui ao lado o link para a página da H.E.N.