10.3.10

foi dada a largada


Sob a batuta do Professor Belluzzo, retomamos na tarde de hoje os Seminários dos professores da Facamp.

Embora tenha que admitir que, como presidente do glorioso alviverde de Parque Antártica, o Belluzzo ainda esteja nos devendo a IIIª Academia, como professor acredito ser um dos mais acurados e singulares pensadores sociais de nossa época - em especial no que tange às originais leituras de Marx e Keynes.

Pois, hoje iniciamos com Marx, mais precisamente com "O Capital".

Desde logo, o Belluzzo deixa claro que a seu olhar "O Capital" deve ser entendido como uma interpretação genética do regime capitalista e não como uma análise histórica. Ou seja, as idas e vindas de Marx, do abstrato ao concreto, não servem a uma interpretação das etapas constitutivas do sistema capitalista, mas, precisamente, são uma tentativa de contrapor análises sistêmicas a particulares, de um conjunto complexo, com múltiplas determinações e pré-condições que, entretanto, não existe a não ser como totalidade.

Feito este preâmbulo - fundamental - Belluzzo vai ao cerne, deixando claro que para Marx o Capital é o sujeito por excelência do sistema e, portanto, o objeto central de sua investigação.

Isto posto, propôs-se a investigar os temas do Dinheiro e da Mercadoria.
1º) É o Dinheiro que dá sentido de unidade ao regime do capital, ademais caótico e contraditório. Não se trata, pois, de considerar o dinheiro como uma mercadoria especial, mas sim como a peça central sem a qual não é possível a generalização da produção de mercadorias intercambiáveis. Ou seja, sem o dinheiro, não há sistema capaz de intercambiar os valores de uso em volume e escala suficiente para fazer avançar a divisão social do trabalho - note: sem divisão social do trabalho, também é difícil conceber o dinheiro, tal qual existe no capitalismo; eis um exemplo da impossibilidade de se pensar a obra de Marx como uma reconstrução histórica.

Além disso, o dinheiro, no capitalismo, é fundamentalmente uma medida de valor, sem substância própria, sem materialidade, representante geral da riqueza abstrata, "um signo de sí mesmo", cujas outras funções (de meio de troca e meio de pagamentos) são derivadas da primeira, não poderiam existir sem a função de medida de valor.

Daí decorre que não é possível enxergar em Marx qualquer concepção quantitativista (teoria, tão cara ao mainstream econômico, segundo a qual o dinheiro é neutro e apenas existe para azeitar um sistema mercantil de produção de valores de uso) - eu arriscaria dizer: o dinheiro não é azeite nem amalgama, mas o catalizador do regime do capital, cuja finalidade não é a produção de mercadorias (como querem os quantitativistas), mas tão somente a acumulação de riqueza.

2º) Na chamada órbita da reprodução simples, que habita o imaginário daqueles ortodoxos, o fluxo M-D-M não aceita a idéia de entesouramento, isto é: não é funcional nem racional imaginar que algum agente econômico resolva interromper o fluxo, refugiando-se na posse do dinheiro.

Já na reprodução ampliada, quando o fluxo pode ser expresso como D-M-D', o entesouramento não só é possível e racional, como é o fim do processo. E isso traz implicações profundas à dinâmica capitalista: instaura a possibilidade de crises recorrentes no sistema, sempre que, por algum motivo incerto, o entesouramento (ou a baixa propensão ao endividamento) fizer retrair a demanda agregada [e este é precisamente um dos raros e mal compreendidos elos entre Marx e Keynes].

Fico por aqui. Semana que vem voltamos ao tema.

PS: A foto acima foi inevitável. Recebi-a justo hoje de minha amiga e companheira de trabalho, Beth Rossin, que esteve visitando o túmulo do Velho.

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