11.6.09
cadê o Romário?
Ueba! Juro nominal abaixo de 9,25% a.a. É bom, muito bom. Principalmente porque demonstra que há algo de novo rondando as reuniões do copom. Desta vez, até o deus-mercado foi pego no contra-pé. Mas, restam ainda resolver duas questões cruciais.
Primeiramente, é preciso criar algum mecanismo que desestimule os investidores extrangeiros a trazer dólares para o Brasil a fim de faturar com a nossa taxa de juros, ainda bastante elevada quando comparada com as praticadas lá fora - em termos reais, nossa taxa está próxima de 5% a.a.
O problema é que com a entrada de dólares, a taxa de câmbio se valoriza, prejudicando as exportações e, portando, enfraquecendo nosso dinamismo econômico. Como solução, o governo poderia taxar os investidores estrangeiros para que sigam rumo a outras freguesias.
O Chile nos anos 80 e a Malásia nos anos 90 são dois casos exitosos deste tipo de estratégia. Com 200 bilhões de reservas, podemos nos dar ao luxo de filtrar o investimento que vem de fora.
O segundo problema a resolver diz respeito à absurda diferença entre a taxa básica de juros (9,25% a.a.) e as taxas praticadas pelo mercado - o que chamam de spread. Há algum tempo, governo e especialistas debatem o assunto, sem que nada de muito relevante aconteça. E, mais grave do que os spreads estratosféricos, é o fato de que eles são regressivos em relação à renda, ou seja: quanto menor a empresa ou quanto mais pobre o sujeito, mais absurdas são as taxas de juros cobradas. A inequidade é tamanha que não é exagero afirmar que muito do que o governo faz com a mão caridosa das políticas sociais, ele retira com a mão omissa da política monetária. Não há Bolsa Família que dê conta dos juros das Casas Bahia.
E sobre este tema, reclamado por muitos, mas carente de propostas, quem apresenta um bom roteiro para o seu enfrentamento é o economista Roberto Troster, ex-Febraban. Com destacada ousadia, em artigo publicado no jornal Valor do dia 10/06 (clique aqui para ler) Troster propõe mudanças qualitativas nos objetivos do Banco Central, de tal forma que possamos desmontar este aparato concentrador de renda em que se transformou o sistema financeiro nacional.
Faltam a palavra "justo" à missão do Banco Central do Brasil e duas metas adicionais, de eficiência e de equidade, para orientar sua ação. Ficaria assim: "Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido, eficiente e justo"; e seus objetivos seriam quatro: a) a solidez do sistema financeiro - já alcançada há tempos; b) metas de inflação - objeto de celebração hoje; c) metas de margens de intermediação (spread) - para uma eficiência maior do sistema e sua contribuição no crescimento; e d) metas de equidade - para promover o desenvolvimento do Brasil.
Eis então os próximos desafios. A bola está com o governo, principalmente com os Ministros Mantega e Meirelles. Nunca estivemos tão próximo da pequena área. É botar a bola no chão, escolher o canto, e consolidar a nossa independência em relação a dois problemas históricos (câmbio e financiamento), que tanta vitalidade econômica nos roubaram ao longo de décadas.
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