7.12.08

porteñas, como no?


Não estou entre aqueles brasileiros que exercitam sua autoestima rivalizando com los hermanos argentinos. Ufanismos à parte, bastam algumas horas em Buenos Aires para reconhecer que em matéria de saber 'viver a urbe' os caras estão passos largos à frente.
Pois em recente viagem por lá, passei por alguns recantos especialíssimos, que compartilho aqui.

Comecemos pelo pouso: um muito charmoso hotel, cujo nome é a data de construção da casa: "1890". Tipo bed&breakfast (ou Boutique), com apenas seis apartamentos alinhados ao longo de um corredor-jardim, é uma construção típica das casas de tradição ibérica do século XIX. O lugar é realmente lindo, e tem como dona uma artista plástica de muito bom gosto que precisou fazer da casa da família uma fonte de renda. Recomendo em especial o apartamento "camélias brancas". A um casal enamorado não faltará nada.

Depois de enebriados pelas camélias do 1890, sugiro atravessar a pesada porta de madeira negra que leva à Rua Salta. Virar à direita e, apenas alguns passos depois, batam na portinha tímida de um restaurante chamado Aramburu (fica no nº 1074). Não se deixem despertar. Apenas sigam as doces orientações da garçonete de cabelos vermelhos. Aramburu é o nome do chef, que ao fundo do salão faz das suas, cozinhando cositas inusitadas, meio ao estilo da tal cozinha molecular (que valoriza a combinação de texturas, sabores e reações bioquímicas). Aceitamos a sugestão do vinho e a 45 pesos (algo como 25 reias) tomei o melhor que já havia experimentado: um "Trumpeter" (syrah&malbec) da Família Rutini. Mousse de fígado de coelho, petiscos da esquerda para a direita (sim, a ordem importa), carré de cordeiro com não sei que molho, .... E, na mesa ao lado, dois casais arquétipos da terra: homens barrigudos de costeletas aparadas, mulheres de roupa acetinada, empetecadas como a Presidenta Cristina.
Quanto ao preço, bastante razoával: Maria e eu pagamos algo como 80 reais (160 pesos).

E, para um outro dia, quando já estiver dispersa a memória do Aramburu, a sugestão é comer uma carne como se deve. Trata-se de um pequeno restaurante especializado em carnes, o La Brigada, comandado por um açougueiro que - dizem - é ainda hoje o responsável pelo corte das peças. Segundo lemos em um guia, se não me engano do jornal la Nacion, entre os portenhos o La Brigada é considerado o de melhor carne. E, meus caros, o La Brigada tem a melhor carne. Eu provei.
Antes de mais nada, este é o lugar para se experimentar as míticas mollejas (seriam glândulas salivares? pâncreas? ninguém sabe e quem sabe não diz), muito saborosas. Depois, depois?... depois é escolher uma das opções de carne e se deixar levar pelos sucos rojos. É estritamente recomendável pedir o especial da casa, corte "descoberto" pelo dono, que a ninguém conta o segredo. Vem à mesa inteiro (do tamanho de uma picanha) e é solenemente "fatiado" com uma colher de prata pelo garçon.
Ao sair do La Brigada, que tem dois endereços no coração de San Telmo, sugiro... qualquer coisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, se você não está conseguindo incluir seu comentário, tente fazê-lo assinando com a opção "anônimo".