25.3.11

zizo vivo

Hoje vou de mata atlântica. De um pedaço dela, de sua porção localizada no extremo sul do estado de São Paulo, na bela região do Ribeira. Mais precisamente, no município de São Miguel Arcanjo.

A história começa no acinzentado ano de 1969, entre os meses de setembro e outubro. D. Quinha, mãe de oito, é avisada que o corpo de seu filho de 24 anos foi encontrado morto a bala na cidade de São Paulo. Era o Zizo, que tinha partido para estudar engenharia na USP. "Abatido" feito caça.

29 anos mais tarde, em 1998, uma segunda notícia de Zizo chega a São Miguel: a justiça brasileira determinara uma indenização de R$ 120 mil por reconhecer que Luiz Fogaça Balboni fora assassinado pelas forças do Estado, isto é, pelos capangas do Delegado Fleury.

Que surpresa! D. Quinha, seu marido Luiz e os sete irmãos, jamais souberam as razões da morte de Zizo. Fora encontrado morto a bala, ponto. Mas agora a história de Zizo volta à tona. Através dos autos processuais, descobrem que Zizo havia entrado para a clandestinidade - militava  na ALN - e que foi morto durante uma ação de "expropriação" a uma agência bancária na Alameda Santos, São Paulo. Seu parceiro na operação sobreviveu, foi interrogado e contou os detalhes: chegaram ao ponto de encontro na hora marcada, mas identificaram um carro suspeito parado próximo à agência. Tentaram fugir, mas os caras saíram atirando. Zizo foi atingido e seu parceiro escapou. Ferido, preso e levado ao hospital, Zizo morreu.

Com quase trinta anos de atraso, D. Quinha descobre seu filho. Que orgulho! Agora finalmente entendia porque, na última vez em que o Zizo esteve em casa, pediu à mãe que cantasse 'Sussuarana'. Era a morte que sussurrava.

Família larga, terra pequena, todos se sensibilizaram ao conhecer a heróica história de Zizo. Como mantê-la viva? Como devolver a Zizo uma parte do sonho que o embalou?

A indenização!

Tinham R$ 120 mil. Divididos, ajudariam pouco na vida de cada um dos irmãos. Preferiram comprar um pedaço de mata virgem. Zizo e seus irmão passaram a infância enfronhados naqueles matos, e nada melhor do que um pedaço de mata para guardar viva a história de Zizo.

Assim, com o dinheiro da indenização e muita colaboração e dedicação dos familiares, criaram então o Parque do Zizo, uma reserva particular de mata atlântica, com 300ha, que recebe escolas e turistas para compartilhar o mundo e os sonhos do Zizo - que, dizem, vez ou outra assobia por lá junto com a passarinhada.

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