31.3.11

enfim, o pós-autismo?

Embora a data não inspire comemorações, segue uma análise alvissareira sobre a renovação das idéias econômicas

Por Luiz Nassif

O fim dos "cabeças de planilha"

Na semana passada, o seminário “Repensando a política macroeconômica”, organizada pelo FMI com os economistas David Romer, Joe Stiglitz e Michael Spence e com seu economista-chefe Olivier Blanchard ,decretou oficialmente o fim da era dos “cabeças de planilha” - tipo de analista que contaminou o mercado financeiro nas últimas décadas, com simplificações que desmoralizaram o que se entendia por ciências econômicas.

Munidos de suas planilhas, e com conhecimento insuficiente em política, análise setorial, ciências sociais, psicologia social, e mesmo correlações básicas de economia, esses economistas julgaram ter descoberto o equilíbrio universal, o fim dos riscos sistêmicos. Qualquer questionamento à sua falsa ciência era tratado com superior desprezo.

O encontro promovido pelo FMI é a pá de cal nesse tipo de pensamento cabeção, primário, manipulador, insuficiente.

Um dos princípios era a visão monofásica de que cada instrumento de política econômica deveria visar apenas um objetivo.
Por exemplo, para inflação em alta, aumento das taxas básicas de juros. Esse aumento impactava a dívida pública, apreciava o real, causava desequilíbrio nas contas externas que, mais à frente, provocava uma maxidesvalorização do real que comprometia o próprio combate à inflação.
Pouco importava: juros só devem se preocupar com a inflação.

Às vezes o aquecimento do consumo se dava em um setor específico. A situação poderia se resolver com uma restrição ao financiamento àquele setor. Mas as “boas práticas” diziam que apenas os juros poderiam ser.

Anos atrás, monetaristas brasileiros – da melhor escola de Chicago – alertavam para os erros da política de metas inflacionárias.
Define-se uma meta, mede-se a expectativa dos agentes econômicos. Se estiver acima da meta, aumentam-se os juros. Os monetaristas alertavam que nesse modelo não se levava em conta o excesso de liquidez (de moeda) na economia.
Consequência: esse excesso formou bolhas especulativas por todos os poros do sistema financeiro internacional, resultando na grande crise de 2008.

Esse pensamento manipulador criava um agente financeiro imaginário, racional que por si só seria capaz de coibir qualquer abuso do sistema financeiro internacional, permitindo abrir mão de qualquer regulação. Se uma instituição abusasse, se algum ativo estivesse muito caro, os investidores simplesmente trocariam por outras instituições ou ativos, regulando automaticamente o mercado.
Era uma miragem, como se todo investidor fizesse cálculos complexos, análises de risco, arbitragens.

Nas instituições financeiras, havia cálculos infernais mostrando que quando despencasse a cotação do ativo 1, haveria um aumento na cotação do ativo 2, de tal maneira que aplicando em ambos o risco tenderia a zero.
Imbecis, sem nenhuma noção do que uma crise sistêmica provocava no mercado. Quando sobrevinha a crise, caía o ativo 1. Para cobrir sua posição naquele mercado, o banco vendia o ativo 2, provocando também sua queda e assim por diante.

Havia muito mais erros nessas formulações. Nunca foram combatidos porque criaram uma cadeia improdutiva de juros e especulação.
Só a crise para repor o conhecimento econômico no seu devido lugar

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