28.5.10

onde ir em 2012

Diz-se: o que seria do vermelho, se todos gostassem do verde? Pois então, àqueles que não costumam frequentar o mundo palestrino, verde por excelência, concedo a oportunidade de darem uma volta virtual pela Arena Palestra Itália, futuro palco de grandes eventos - não apenas futebolísticos - que já começou a ser erguida no histórico endereço da Rua Turiaçu.

Curiosidade: notem no vídeo, o conjunto de inovações que farão parte do novo Jardim Suspenso (que permanecerá "suspenso") e, em especial, observem já quase no fim do filme, quando a câmera passa pelas mesas do Restaurante-Camarote que, ao fundo à esquerda, aparecem Pedro e Tomás sentados comigo enquanto tomo um choppinho.

Sintam-se em casa, cliquem aqui:

27.5.10

um "quase" wilson cano

Não resisti.
Reproduzo abaixo o bom artigo publicado no site da Agência Carta Maior, também porque seu autor é estupidamente parecido - na expressão carrancuda, na verve ferina, no posicionamento político - com o ilustre Professor Wilson Cano (em foto menor), um dos fundadores do Instituto de Economia da Unicamp que, assim como o tal Vicenç Navarro, é descendente de espanhois de sangue ardido.


Segue o texto do V. Navarro

Este artigo assinala que os mal denominados mercados financeiros não correspondem às características que definem os mercados, pois os seus agentes – os bancos – gozam dum grande protecionismo fornecido pelos estados, assim como por instituições internacionais – como o Fundo Monetário Internacional – que garantem os seus exuberantes lucros à custa de enormes reduções dos gastos públicos e da proteção social das classes populares. O artigo mostra exemplos deste protecionismo no caso dos EUA e na mal denominada “ajuda” do FMI-Euro aos países com elevados déficits e dívida pública, como a Grécia, que é em realidade ajuda primordialmente para os bancos europeus.

A linguagem que se utiliza para explicar a crise é uma linguagem que aparenta ser neutra, meramente técnica, quando, na realidade, é profundamente política. Assim, dizem-nos que os “mercados financeiros” estão forçando os países da União Europeia e, muito em especial, os países mediterrânicos – Grécia, Portugal e Espanha – e Irlanda, a seguir políticas de grande austeridade, reduzindo os seus déficits e dívida públicos, com o objetivo de recuperar a confiança dos mercados, condição necessária para alcançar a recuperação econômica. Como disse há uns dias Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE): “A condição para a recuperação econômica é a disciplina fiscal, sem a qual os mercados financeiros não certificam a credibilidade dos estados” (Financial Times, 15-05-10).

A realidade, contudo, é muito diferente. Estas medidas de austeridade, promovidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia (UE), estão criando uma grande deterioração da qualidade de vida das classes populares, pois estão afectando negativamente a sua proteção social e destruindo emprego, dificultando a sua recuperação econômica. Assim aconteceu na Lituânia, onde o PIB diminuiu 17% e o desemprego alcançou 22% da população ativa (veja-se o meu artigo Quién paga los costes del euro?). Uma situação semelhante ocorrerá nos países citados anteriormente.

Pareceria, pois, que são os mercados financeiros que estão a impor estas políticas aos governos. Ora bem, que quer dizer “os mercados financeiros”? Em teoria, na dogmática liberal que domina os establishments europeus (o Conselho Europeu, o BCE e a Comissão Europeu, assim como nos governos da maioria dos países da UE), os mercados são um processo de livre comércio entre agentes financeiros – os bancos – que obtêm benefícios para compensar os seus riscos, pois que se assume que existem riscos em tais mercados. Mas tal retórica não define a realidade, pois tais entidades – os bancos – operam em âmbitos e instituições enormemente protecionistas dos seus interesses, nos quais o risco, em geral, brilha pela ausência. Na realidade, os mal denominados mercados têm muito pouco de mercado. São bancos com muito lucro e poucos riscos. E o que está a acontecer mostra a certeza deste diagnóstico.

Nos EUA, onde existe amplo consenso sobre o fato de que a crise financeira foi iniciada pelos comportamentos de Wall Street, a crise bancária foi resolvida com a entrega aos bancos de quase um bilião de dólares pagos pelo Estado, que beneficiou enormemente os banqueiros e os seus acionistas, conseguindo inclusive mais benefícios do que os que tinham antes da crise. A obscenidade de tais benefícios e as práticas desonestas e criminosas dos banqueiros (causadores da crise) explicam a sua enorme impopularidade e a de tais medidas, que não se repercutiram favoravelmente sobre a população, que viu como os seus padrões de vida diminuíram devido à crise provocada pelos bancos. Não foram os mercados, mas os bancos e os seus políticos no Congresso (com nomes e apelidos conhecidos) e nas administrações Clinton, Bush e Obama (também com nomes e apelidos conhecidos) que criaram a crise, salvaram os bancos e agora apelam à austeridade.

Uma situação quase idêntica está acontecendo na UE. Os comportamentos especulativos da banca europeia foram consequência de decisões políticas que desregularam a banca, decisões que se tomaram particularmente, não apenas em Wall Street, mas também nos centros financeiros, principalmente a City de Londres e Frankfurt, consequência da enorme influência da banca sobre os governos britânico e alemão. A mal denominada “ajuda” do FMI-EU (de 750 bilhões de euros) aos países com dificuldades não é uma ajuda às populações daqueles países, mas sim aos bancos (e muito em especial aos alemães e franceses) para assegurar-lhes que os Estados lhes pagarão as dívidas com os juros confiscatórios que exigiram. Na realidade, se os mercados financeiros fossem mercados de verdade (e, portanto, houvesse competitividade e risco no seu comportamento), os bancos teriam de absorver as perdas em investimentos financeiros falidos. Se o Governo da Grécia, por exemplo, fosse à bancarrota, a banca alemã teria de absorver as perdas por ter tomado a decisão de comprar títulos do Estado grego.

Ora bem, isto não acontece nos mal denominados mercados financeiros devido a haver toda uma série de instituições que protege os bancos. E a mais importante é o FMI, que empresta dinheiro aos Estados para que o paguem aos bancos. Daí que, como nos EUA, os bancos nunca perdem. Quem perde são as classes populares, pois o FMI exige aos governos que extraiam o dinheiro dos serviços públicos das tais classes populares para pagar aos bancos. O que o FMI faz é a transferência de fundos das classes populares para os bancos. Isto é o que se chama “conseguir a credibilidade dos Estados face aos mercados”.

Estas transferências, contudo, além de serem profundamente injustas, são enormemente ineficientes. O fracasso das políticas de austeridade propostas pelo FMI nos países em crise é bem conhecido, o que explica o descrédito de tal instituição. O FMI, desde a era Reagan, é a organização financeira que impôs mais sacrifícios às classes populares dos países que receberam a “sua ajuda”, com resultados económicos altamente negativos, tal como denunciou correctamente Joseph Stiglitz. Não são os mercados, mas os interesses bancários e seus aliados – entre os quais se destacam o FMI e o BCE – que estão a impor estes sacrifícios. Ao menos, chamemos os culpados pelo nome.

Artigo publicado por Vicenç Navarro no diário PÚBLICO, 20 de Maio de 2010

(*) Vicenç Navarro ha sido Catedrático de Economía Aplicada en la Universidad de Barcelona. Actualmente es Catedrático de Ciencias Políticas y Sociales, Universidad Pompeu Fabra (Barcelona, España). Es también profesor de Políticas Públicas en The Johns Hopkins University (Baltimore, EEUU) donde ha impartido docencia durante 35 años. Dirige el Programa en Políticas Públicas y Sociales patrocinado conjuntamente por la Universidad Pompeu Fabra y The Johns Hopkins University. Dirige también el Observatorio Social de España


Tradução para o Esquerda.net de Paula Sequeiros

25.5.10

urticária nos mídia-ligeira

Desde quarta passada resisti a colocar o link para o pavoroso e intolerável comentário do Arnaldo Jabor na CBN. Trata-se do exemplo mais grotesco das distorções produzidas pelo que se chama de "liberdade de expressão" em meio à acentuada concentração dos meios de comunicação em mãos privadas.

(clique aqui para escutar o sujeito)

Por sí, pela inversão de sentidos, pelo falseamento da realidade, pela sabujisse, pela falta de decorro, pelo patente desrespeito aos interesses nacionais, o comentário do Arnaldo Jabor, expoente do Instituto Millenium, é peça suficiente para alertar a todos que prezam pela democracia e pelo bem do país da urgente necessidade de reformulação das regras de concessão de mídia.

E a barbaridade fica ainda mais gritante quando contrastada com a evolução dos fatos, como por exemplo o editorial de hoje do Le Monde (clique aqui) que rasga uma seda fenomenal a Lula e seu protagonismo na geopolítica internacional e, principalmente, ante o artigo escrito pelo ex-vice-presidente do Conselho de Inteligência da CIA, publicado no Estado de São Paulo de hoje (leia aqui), tratando do episódio como um marco no processo de decadência da hegemonia norte-americana.

23.5.10

entrevista do belluzzo


Ótima entrevista do Belluzzo, tratando das rupturas engendradas pela crise financeira internacional que assola o capitalismo. De quebra, uma sensata consideração sobre o episódio Lula-Irã-EUA. Confira no site da Revista Eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos, clique aqui

18.5.10

enfim, o longo prazo

Minha geração, que virou gente nos anos 80, não conhece a preocupação com o longo prazo. Atravessamos praticamente três décadas vivendo e pensando sobre o curto prazo: as crises do balanço de pagamentos, a hiperinflação, as lutas pela recomposição salarial, a taxa selic, a pesquisa focus, etc... Num país cronicamente em crise e abarrotado de urgências, era normal que qualquer plano ou projeto para além de dois anos fosse tomado como devaneio.

Contudo, quem diria, na agenda política de hoje, o planejamento de longo prazo ocupa lugar central. Seja Dilma, seja Serra, é sobre as estratégias de desenvolvimento de longo prazo que buscam demonstrar as qualidades de seus respectivos projetos.

Mais do que isso, o tema do "financiamento de longo prazo" que até ontem era assunto restrito à literatura dos cursos de economia heréticos, parece aflorar como a variável chave a determinar o potencial de nosso desenvolvimento nos próximos anos. Ótimo sinal. A meu ver, expressa o sentimento concreto da classe política, de que, para os demais temas, bem ou mal, já existe um cardápio de propostas a serem executadas e que o grande "nó" é a questão do financiamento para investimentos de grande envergadura e longos períodos de maturação.

A esse respeito, vale conhecer a entrevista que a candidata Dilma concedeu ao Brasilianas.Org, comentando, entre outras coisas, que mais do que um elenco de projetos de infraestrutura, o mérito do PAC está na recuperação da capacidade de planejamento e gestão e, de estruturar modelos de financiamento - público e privado - para os projetos elencados no programa.

Considerando que a próxima década promete abrir diversas oportunidades ao Brasil, com a possibilidade concreta de nos consolidarmos como uma economia desenvolvida, é no mínimo reconforante saber que a preocupação com o financiamento de longo prazo está na ordem do dia e que marca o modo de pensar dos dois principais candidatos nessa eleição.

9.5.10

quem diria, estão em busca de um kirchner europeu

Em entrevista ao Estadão de hoje, Barry Eichengreen, economista e renomado especialista em finanças internacionais, comenta a sinuca em que se encontra a zona do Euro a partir da erupção da crise grega.

Não consegui acesso à versão on-line, mas chamo atenção para o fato de que Eichengreen, como muitos outros analistas, não vê alternativa para a crise grega que não passe por uma reestruturação da dívida daquele país, ou seja: trata-se de organizar o calote e distribuir o ônus de maneira mais justa e ordenada.

Enfaticamente, ele sugere que se copie o processo de renegociação de dívida realizado na Argentina, sob o  governo de Nestor Kirchner, nos anos de 2001/2002, quando os títulos de dívida velha foram negociados com deságio de 75% e o prazo da dívida largamente estendido. Enfrentando a fúria e cara feia de todo o primeiro escalão das finanças internacionais, Kirchner teve àquela época grande êxito e, contrariando o mundo, consegui não só reduzir e alongar a dívida pública de seu país, mas escapar da cilada da dolarização, armada pelos seus antecessores.

Pois, à Grecia, o caminho deverá ser o mesmo. Contudo, persistem algumas dúvidas quanto a possíveis desdobramentos que a reestruturação de sua dívida poderá provocar: 1º) será possível à Grecia permanecer no Euro? 2º) Ante o calote grego, como deverão se comportar os detentores de títulos de dívida soberana de outros países?

Nos próximos dias, provavelmente ainda nesta semana que se inicia, descobriremos - e, provavelmente, pelos próximos anos amargaremos.

E.T.: o que dirão - ou não dirão - os Sardemberg's e as Mirian's sobre o plano Kirchner ter virado um "case" internacional?

8.5.10

alô, visitante desconhecido

Observando pelo "sitemeter," noto que de um mesmo IP, acessado em Montain View, California, há uma elevado número de visitas a esse blog infame.
Alguém sabe do que se trata? Será um endereço para o qual convergem outros mais? Uma fã distante cujo marido ciumento não lhe permite revelar a identidade? Ou seria a CIA monitorando blogueiros incautos do terceiro mundo?

4.5.10

domenico losurdo em campinas


Vai uma dica de palestra interessante que acontecerá no auditório do IFCH (Unicamp), nesta quarta-feira, 05 de maio, às 14hs.

O filósofo marxista Domenico Losurdo, autor do livro "Hegel, Marx e a Tradição Liberal. Liberdade, Igualdade, Estado", estará debatendo com o Prof. João Quartim de Moraes sobre a sua obra e, mais especificamente, sobre o tema de seu último trabalho: "A Linguagem do Império", cuja edição brasileira será lançada ao final do evento. 

Acesse aqui o link do evento