3.12.10

com bola murcha, meirelles acerta

Mais do que oportunas as medidas anunciadas hoje pelo Banco Central. Aliás, tardias.

Ao ampliar o compulsório bancário (ou seja, restringir o uso dos depósitos bancários como capital para empréstimos) o BC reduz a necessidade de elevação dos juros oficiais (taxa Selic) no futuro.

É de se lamentar apenas a maneira safada que a imprensa trata do assunto. O Estadão, por exemplo, deu a seguinte manchete: "BC diz que juro ao consumidor pode subir", quando deveria esclarecer que, ao reduzir a disponibilidade de crédito para o consumo, através do aumento do compulsório, o governo está abrindo a possibilidade de reduzir a taxa de juros dos títulos públicos.

Alguém poderá argumentar que não há diferença substancial entre subir a Selic e ampliar o compulsório, já que ambas as medidas visam frear o consumo e assim reduzir a pressão inflacionária. Mas, essa é apenas meia parte da história. O fundamental a ser dito é que, ao optar pelo uso do compulsório (constrição quantitativa), o governo abre a possibilidade de enfrentar a inflação sem provocar valorização do câmbio. E sabemos bem que essa relação selic-câmbio é hoje a mais grave ameaça à economia brasileira. Com a selic alta, atraímos capitais estrangeiros, valorizamos o real, perdemos exportações, ampliamos importações e, no final das contas, reduzimos o nível de emprego e a renda no país.

Claro que os jornalões, os mídia-ligeira e seus mais importantes patrocinadores (os bancos) vão gritar e fazer o possível para apresentar a solução anunciada hoje como indesejável e prejudicial para o público. A via do compulsório bancário reduz a amplitude dos capitais administrados pelos bancos e, com isso, diminuem seus lucros. Para o mercado financeiro, é sempre muito mais interessante que o governo lhes reduza o compulsório e cuide de frear o consumo via aumento da taxa selic. Com isso, mesmo que percam clientes na ponta do crédito, podem direcionar o "excesso de capital" para os títulos públicos e faturar numa nice o juros pagos pelo governo. O problema é que, como não podem contar essa história de forma clara, resta-lhes tergiversar e confundir o público.

Nossa sorte é que, a essa altura do campeonato, é só isso que lhes resta.

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