20.4.10

o timoneiro enrustido

É verdade que o candidato José Serra, dentro do PSDB, foi sempre um dissidente, mais desenvolvimentista e menos liberal que seus pares de partido. Isso, contudo, não me parece um argumento forte o suficiente para qualificá-lo como um estadista em condições de colocar o país numa trajetória de desenvolvimento mais robusta e duradoura. Sua trajetória como executivo nos diferentes cargos que ocupou em sucessivos governos tucanos não sugere que seja ele um desenvolvimentista enrustido esperando a sua hora para agir.

Quando esteve no Ministério do Planejamento, fez declarações enfáticas ante as insanidades macroeconômicas promovidas pelo malanismo, escreveu para os seus alertando sobre as bobagens que se dizia sobre os "déficitis gêmeos", mas continuou firme no cargo de Ministro de Planejamento num governo que, por essas e outras, fez grande estrago à nossa estrutura produtiva, privatizou, aprofundou o sucateamento do Estado e ainda fez explodir nossa dívida pública.

É verdade que, astuto que é, Serra saltou a tempo para o Ministério da Saúde, onde desempenhou talvez o papel que mais frutos lhe deu. Contudo, basta conversar com os sanitaristas mais experientes, membros do "Partido do SUS", para saber que boa parte dos louros colhidos por Serra resultaram de políticas gestadas por seus antecessores. A Saúde da Família, os Genéricos, a quebra das patentes foram projetos oriundos das competentes equipes montadas por Jamil Hadad (Governo Itamar) e de Henrrique Santana (Governo FHC) que antecederam Serra no MS. É claro que ele foi competente o suficiente para dar continuidade a esses programas, manteve o bom time que ocupava as áreas técnicas do MS e soube cacarejar como bem deve fazer um político que se preze.

Mais tarde, como prefeito de São Paulo, diria que Serra fez uma administração mediocre, que não deixou marcas e que se notabilizou por desmontar o que havia sido iniciado na gestão Marta. O tratamento dado aos CEUs é um exemplo notório, mas não o único.

Por fim, no governo do Estado de São Paulo, botou um xerife fiscalista na fazenda, fez pose de desenvolvimentista, mas na prática, manteve os investimentos nos mesmos níveis medíocres que os do governo federal, a despeito de ter ampliado a arrecadação e ter constrangido as despesas correntes às custas dos salários do funcionalismo estadual (veja aqui post anterior comparando as taxas de investimento)

Alguns dirão, e o Rodoanel? E a terceira pista da Marginal? Ora, o Rodoanel é um projeto que está em execução a 16 anos, desde que Mario Covas assumiu o governo em 1994, assim como o metrô ou as vias marginais na Anhanguera  são obras que se arrastam pelos governos tucanos, todos fiscalistas de carteirinha.

Mas, aos que ainda assim enxergam em Serra o timoneiro do desenvolvimentismo, sugiro a leitura de matéria do jornal Valor de hoje, onde são pinçadas algumas considerações econômicas feitas por Serra em seu discurso em Minas. Pretende rever o papel do BNDES e dá sinais de que seu homem para o Ministério da Fazenda seria o pitbull fiscalista e Secretário de Estado, Mauro Ricado.

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