24.4.10

do destempero lúcido

Tal como vaticinado, Ciro Gomes puxou o gatilho, disparando aos quatro ventos sua irrequieta metralhadora. Por seu pavio curto, a cada ano que passa, vai se tornando um candidato menos viável. Contudo, se a quilometragem não lhe deu temperança necessária para maiores vôos, parece ter-lhe servido para apurar sua qualidade de interprete da política do país. Na sua explosão verbal da última sexta-feira, não foi diferente.
De fato, o que disse da Dilma e do Serra sintetiza bem o que provavelmente passa pela cabeça de muitos que se dedicam a decifrar a atual conjuntura política: por um lado, a Dilma, gerente competente, com uma boa visão de país, experimentada no ofício de articular e dimensionar o setor estatal brasileiro tal qual necessário a um desenvolvimento de maior fôlego, é, contudo, frágil e inexperiente na arte da política. Serra, por outro lado, mais tarimbado, jogador impetuoso da política, de alma desenvolvimentista - ainda a se revelar - peca por ter se aninhado no colo de uma elite cosmopolita e conservadora que muito pouco compromisso tem com a nação.

O que esperar então da peleja que definirá os rumos do país nos próximos anos?

Se estiver correto o instinto do analista Ciro Gomes, de um certo ponto de vista - digamos, progressista - pode-se dizer que a parada já está ganha. Não há, na prática, um candidato da direita, sequer um representante dos rincões patrimonialista, sequer um das franjas neoliberais. Mesmo numa eventual vitória de Serra, é bastante plausível a hipótese de um chapéu na trupe conservadora que lhe sustenta.

Nesses termos, portanto, a eleição que se aproxima tem a dita "polarização" apenas como fachada. Os dois candidatos em muito se assemelham. Noves fora, deveremos apostar apenas e tão somente naquele que carrega a dúvida que menos nos angustia: Serra chutará os seus para governar como o diabo gosta? E Dilma, saberá domar a tigrada a partir no dia em que o tio Lula sair de cena? Suspeito que nada mais do que isso estará em jogo na campanha que seguirá até outubro.      

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