
Um tema interessante a ser assuntado por aqueles que estão na lida das políticas sociais é a prerrogativa dada às mulheres no acesso aos benefícios sociais. Disseminada por organismos multilaterais como o Banco Mundial, o PNUD ou a FAO, esta prática presume que quando vinculados à mulher, os programas sociais resultam em maior percentual de êxito.
Justifica-se o fato com os seguintes argumentos: 1) as mulheres, principalmente as pobres, já desempenham "naturalmente" o papel de chefe da família; 2) a mulher tende a empregar de maneira mais responsável e altruísta os benefícios que lhe foram destinados; 3) Com o apoio dos programas sociais a mulher pode sair de uma suposta condição de submissão dentro da família, melhorando sua auto-estima e seus graus de liberdade.
Será?
Ouvindo recentemente a Prof. Ana Foseca, grande autoridade em programas de transferência de renda, fiquei conhecendo críticas bastante pertinentes sobre a tal questão da "centralidade na mulher".
Será que não se está reforçando a desigualdade intrafamiliar, conferindo maiores responsabilidades às mulheres e desobrigando os homens, inclusive do papel de provedor? E a suposta maior responsabilidade da mulher não é resultado - ao invés de uma "condição natural" - desta já desigual repartição de tarefas, agora acentuada e legitimada pelas políticas públicas? E será que é justo e desejável que qualquer anseio de participação do pai seja vetado a priori, estigmatizando-o e institucionalizando uma condição históricamente superada?
É, sem dúvida, não é nada fácil encontrar o modelo mais apropriado às políticas sociais. Eu mesmo, já fui um dia presidente do Banco Popular da Mulher aqui em Campinas, convicto de que nosso foco aperfeiçoava as ações da política de microcrédito, produzindo impactos sociais mais efetivos.
Vejo que provavelmente me enganei.