9.4.09

vai tarde



Como já deveria ter feito há tempos, Lula demitiu o insubordinado presidente do BB, que em nome da "saúde financeira do banco" resistia à ordem de baixar o spread e, consequentemente, os juros ao cliente.
Evidentemente, os mídia-ligeira chiaram barbaridade. Sardemberg - sempre ele - usou e abusou de seus sofismas pró-mercado.

Primeiro, obrigado a ceder aos fatos, aceitou o argumento de que os spreads praticados no Brasil são exagerados - não disse, porém, que são os maiores do mundo, nem mencionou por exemplo que enquanto o crédito rotativo do cartão de crédito no Brasil supera os 10%, economias tíbias como a peruana convivem com taxas de 2,5% ao mês.

Depois, concluiu afoito que se o BB pretende baixar os juros, estará produzindo dois efeitos indesejáveis: (A) prejuízos ao banco e aos acionistas e (B) risco de criar o subprime brasileiro.
Como diria meu avô Paschoal, "Arah Sô! Tenha a santa paciência".

Quanto ao argumento (A), seria preciso demonstrar primeiro que reduzir o spread bancário significa operar abaixo do custo - e ninguém em sã consciência é capaz de afirmar tal disparate, nem mesmo o próprio Sarda, que começou dizendo que havia gordura nas taxas praticadas pelos bancos; Quanto ao argumento (B), é ainda mais espantoso, pois, como sabe até mesmo o Sardemberg, o crédito no Brasil corresponde a uma parcela pequena do PIB (40%), muito inferior aos demais países desenvolvidos (acima de 100%) e incomparável ao padrão norte-americano que produziu o subprime. Além disso, se não bebesse da água que alimenta os bancos e a imprensa, o onipresente jornalista deveria dizer que a razão do conservadorismo dos bancos brasileiros e a consequente inaptidão para o crédito está diretamente relacionada ao fato de que nos últimos 15 anos retiram seus mais que polpudos lucros dos títulos do governo, que tanto agrado lhes fez com as insensatas taxas selic.

Em Tempo: sobre o suposto "sacrifíco imposto aos acionistas", cabe lembrar que, ao contrário do que reverberam os midia-ligeira, é justamente por ser uma empresa de economia mista (com características públicas e privadas) que o BB representa um investimento seguro e rentável para seus acionistas. A despeito de seguir diretrizes políticas, é uma instituição com baixo risco de liquidez e nenhum risco de insolvência, traços que, como demonstrou a quebradeira de grandes bancos norte-ameriacanos, são bastante relevantes quando se avalia uma instituição financeira.

E, de mais a mais, é necessário dizer que servidores de carreira, quando assumem postos de direção em empresas estatais, são tentados pelo corporativismo, uma vez que os fundos de pensão das empresas são frequentemente grandes acionistas da própria instituição. Por isso, a não ser que o servidor seja dotado de claro espírito público, é provável que priorize estratégias de lucros altos - e bons retornos ao fundo de pensão - em detrimento dos interesses públicos que deveriam compor a missão da instituição.

PS: sobre o significado político do gesto de Lula, leiam artigo publicado no JB de hoje. Clique aqui

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