Até o dia que nos interessa, o frango que aqui interessa era apenas um entre os tantos que viviam pelo quintal.
Sentados no terraço e vendo no horizonte o sol dobrar os vincos de quem passava pela estrada, esperávamos a coragem para enfrentar a volta. Falamos de queijo, de esterco, futebol... Até que, vindo não se sabe de onde, o frango que nos interessa cruzou o terreiro, arrastando em seu esporão esquerdo uma sacola do Supermercado Motta.
Assustado com a persistência de seu "predador" – naquele instante, apenas a sacola plástica - o frango seguia num zigue-zague alucinado, tentando redobrar a passada da perna direita a cada vez que dele se aproximava a esquerda. Entre nós, não mais se falava; esperávamos pelo rompimento da alça da sacola para que pudéssemos seguir com o tempo.
Mas a peleja, já insólita, ganhou ares trágicos quando a cadela parda que se estendia por debaixo do tanque perdeu o humor e partiu para cima da sacola, ou, sabe-se lá..., talvez do frango.
Mergulhando sobre os arbustos e arrastando poeira por todo o lado, o frango, já nas últimas, fugindo agora da sacola e da cadela (creio que nesta precisa ordem), vislumbrou então uma brecha na cerca.
Numa guinada súbita e desesperada, fintou a cadela e rompeu para o lado do asfalto.
Vindo não me lembro bem de onde, uma Kombi que descia destranbelhada cruzou pelo retão. No parachoque traseiro, um pedaço de plástico, uma sacola com as letras estripadas do Supermercado Motta.
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