16.4.09

individualismo sueco


Em reportagem de Maria Cristina Fernandes, publicada no Valor dia 20 de março, um tema chama atenção: o gigantismo do Estado sueco (que consome 58% do PIB) é condição para uma individualidade crescentemente livre e plena de direitos.
Ao contrário do que estamos acostumados a ouvir dos ideólogos do liberalismo econômico, o modelo sueco atesta que quanto maiores forem as garantias sociais e econômicas fornecidas pelo Estado, maiores as possibilidades de se exercer o livre arbítrio. Um exemplo? O seguro-desemprego de 300 dias, e que pode chegar a R$ 8.500 por mês, é concedido até mesmo a uma mulher (ou um homem) que esteja casada com um milionário. Para que não seja obrigada a viver submissa ao marido endinheirado, o governo lhe garante a renda.
O mesmo raciocínio vale para os benefícios previdenciários concedidos a idosos ou até mesmo filhos. Em suma: ninguém precisa depender de outro alguém, mesmo que este seja seu pai ou seu filho.

Já imaginaram o tanto de conflitos familiares ou dramas psicológicos que se elimina da tela quando frases como "eu sempre te dei tudo que você quis" ou "eu investi tanto na tua educação pra você terminar desse jeito" deixam de fazer sentido?

Pois é, os suecos parecem ter matado a charada. Em uma sociedade permeada pelo mercado, é falsa a dicotomia entre Estado e indivíduo. Só com um estado grande o suficiente para garantir a emancipação material do indivíduo é que se pode começar a pensar em questões como liberdade, arbítrio, plenitude de direitos, etc.

E antes que alguém pense nos "custos" econômicos deste modelo de sociedade, vale dizer que a produtividade do trabalhador sueco é a segunda maior do mundo (tem crescido a uma taxa média de 6,2% ao ano), a despeito dos suecos gozarem de uma licença maternidade/paternidade de 480 dias, de estarem autorizados a faltar até 60 dias por ano para cuidarem de filhos enfermos e de saírem de férias por sete semanas anuais.

PS: sobre esta possível arquitetura de um estado forte como garantidor dos interesses individuais, penso que um texto fundamental é o capítulo 24 da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda de J. M. Keynes.

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