20.8.12

Diga-me com quem andas...

A cidade de Campinas, assim como outras tantas do Brasil, viu avançar nos últimos anos os lançamentos imobiliários destinados a todos os públicos e gostos. Embalados pelos incentivos fiscais concedidos pelo governo federal para estimular a construção civil - e incorporar milhões de trabalhadores ao mercado de trabalho - e pela maior oferta de crédito, construtoras e incorporadoras saíram à caça de boas oportunidades de fazer dinheiro.

Caberia a cada município definir as diretrizes urbanas, regular as áreas de expansão e investir na infraestrutura necessária para que esse bem facejo dinamismo do ramo imobiliário resultasse num processo virtuoso de melhoria das condições gerais de vida da população. Contudo, lamentavelmente, em muitas cidades falou mais alto o interesse dos negócios imobiliários. Em conluio com autoridades municipais, conseguiram aprovar a toque de caixa empreendimentos de alta rentabilidade, passando por cima de normas ambientais, dos planos diretores e das boas práticas de planejamento que deveriam orientar a expansão das cidades.

E foi esse o caso de Campinas, como ficamos sabendo à medida em que assessores e a própria esposa do ex-prefeito Dr. Hélio foram denunciados pelo Ministério Público, acusados de receber vantagens em troca da facilitação a projetos imobiliários. Foi um trauma para a cidade que pouco antes havia dado grande voto de confiança ao então prefeito, reelegendo-o com quase 70% dos votos em 2008. Como consequência, Campinas mergulhou numa crise política profunda, que paralisou a gestão e culminou com a cassação do prefeito e se vice e com a eleição indireta do então presidente da Câmara, o vereador Pedro Serafim.

Passados menos de seis meses, entretanto, o cidadão campineiro assiste a um novo lance inusitado desta relação promíscua entre o chefe do executivo municipal e os negócios do setor imobiliário. Como revela uma ampla reportagem publicada no jornal Valor Econômico de hoje (leia aqui), desde que assumiu em abril de 2012, a gestão de Serafim tem se notabilizado, de um lado, por "destravar" projetos viários que fazem a alegria de grandes empreendedores imobiliários e, de outro, por usar sua base na Câmara para "frear a tramitação do projeto de zoneamento urbano da cidade" (Valor Econômico, p. A10, 20/08/2012).

É mais um capítulo da tragédia política que atinge a cidade há décadas. Torço para que seja o último.



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