5.8.08

dica de taxi em brasília



Diferente em tudo, nossa capital federal é servida por taxistas que também destoam daqueles que circulam pelas outras grandes cidades brasileiras. A começar pelo posicionamento político. Em geral, os de Brasília me parecem menos reacionários - principalmente se comparados aos de São Paulo - e, creio eu, menos acomodados. Talvez pela falta de esquina, falta de semáforo ou sabe-se lá do que, no DF taxista não tem cara de "chofer de praça"; lá os caras têm o bicho-carpinteiro.
Quase todos vieram de longe, fizeram de tudo, falaram com todos e estão com planos de fazer isto ou aquilo mais.
Pois em minha última visita à infinita burocracia da esplanada, tive a sorte de ser taxiado por uma destas figuras.
Até a primeira parada, o sujeito - já de idade avançada - seguiu mudo.
Porém, ao estacionar em frente ao prédio do CNPq, me disse que ficaria aguardando para seguir até o próximo escaninho.
- pois bem, volto em vinte minutos. Informei.
Voltei em 15, ao que o taxista respondeu:
- 20 minutos de paulista!
Era a deixa. Perguntei de onde vinha e ele soltou uma conversaiada que seguiu pelo dia. Entre um protocolo e outro, toque o taxista - agora Seu Agábio - a nos guiar por aqueles avenidões. Bela figura!
Seu Agábio, falava com um sotaque cearense da porra, mas era boliviano o cabra (?).
Vinte irmãos. Todos homens. Todos vivos. 10 cearenses, 10 bolivianos.
- minha mãe tá vivinha, com 96. Nunca foi no médico, nem sabe de injeção.
E mora onde?
- num povoado próximo a Xapurí.
- Xapurí no Acre? do Chico Mendes?
- Conheci bem o Chico mendes. Disse o taxista - Tocava com ele.
- E o senhor tocava o que?
- Toco! Acordeon. Cabei de voltar da itália. Fui lá comprar um novo, amarelo e branco, 32 mil reais, para mim que tenho carteira de músico. Fosse outro, pagava 72.
- Mas então o senhor continua tocando.
- Toco todo dia, sem falhar. Gravei ano passado um disco lá na cidade de vocês. É meu quinto disco.
E na toada do Seu Agábio do Acordeon, líder do grupo de forró pé de serra, Banda Fortaleza, chegamos à área de desembarque.
Por força de nossos ofícios, a prosa interrompeu-se.
Mas, voltando à Brasília, ligo ao Seu Agábio (9997-8670) para continuar o convercê, do ponto em que paramos: o sumiço dos tocadores de "oito baixo". Acordeonzinho pequeno e difícil, que troca a nota da ida para a volta do fole e que ninguém mais se arvora a apreender.

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