Depois de tocar o
fundo do poço, a Presidenta Dilma parece que resistirá no cargo. Subitamente,
num espaço de poucos dias, os líderes da conspiração golpista se deram conta do
estrago que provocariam no país caso se efetivasse o golpe. Aos 45 do segundo
tempo perceberam que a queda de Dilma esgarçaria de vez o tecido institucional
do país e a convulsão social jogaria a nação numa crise econômica disruptiva
que, em última instância, lhes alcançaria os bolsos.
Por certo, não foi por zelo democrático, espírito republicano ou lustro ético que os donos do poder resolveram retroceder no golpismo. O que lhes impediu de cruzar a linha de giz foi a percepção de que os movimentos sociais tomariam as ruas e não aceitariam a ascensão de um governo golpista a esta quadra de nossa história.
Seria, portanto,
equivocado e injusto atribuir a figuras como Renan, Temer e muito menos aos
irmãos Marinho o mérito de terem colocado o pé na porta e evitado o conluio que
já ocupava a antessala do gabinete da Presidenta. Menos tolos do que os do
PSDB, eles apenas reagiram a tempo de evitar o pior e quem sabe ainda garantir
uma posição melhor no tabuleiro quando o jogo recomeçar.
Diante do que
assistimos nos últimos dias, mais do que nunca fica demonstrado o quão
importante é a força e a densidade dos movimentos sociais na cena política
brasileira. São eles, mais do que os partidos ou as instituições do poder
formal que hoje servem de lastro concreto à manutenção da cidadania e dos
valores democráticos que foram inscritos na Constituição de 1988.
A muitos de nós foi assustador
assistir o judiciário, o legislativo e o executivo se dissolverem na correnteza
mal cheirosa da campanha de desestabilização política que foi posta em prática
nos últimos meses. Nada parecia parar em pé.
Até que as Margaridas,
com indelével legitimidade, vieram nos redimir.
Num país com o abismo
social como o Brasil, a legitimidade dos movimentos sociais compostos por
mulheres e homens batalhadores decorre, entre outras coisas, do fato de que, em
última instância, são eles que têm a vida esfacelada quando os habitantes da casa
grande se dão ao luxo de atropelar as regras que não mais lhes convém.
Na condição de
economia periférica, com elites historicamente subordinadas a interesses
externos, estamos sempre triscando o enredo de “republica bananeira”. E, se
pelo menos desta feita o desfecho bananeiro foi evitado, foi pela presença das
Margaridas e tantos outros movimentos similares que permaneceram na retaguarda.
Contamos com
movimentos sociais fortes. Este é, precisamente, um diferencial importante do
Brasil em relação à enorme maioria dos países.
A “trégua”, ofertada a
Dilma pelos carcarás de sempre, não deveria, contudo, levar a presidente a
conceder ainda mais em seu governo. Dilma, que já estava em dívida com aqueles
que votaram nela em outubro de 2014, agora é duplamente devedora dessa pequena,
porém, valorosa parcela de seus eleitores que se organizam em meio às
dificuldades e agruras da vida e ainda encontram forças para enfrentar de peito
aberto os charlatães do andar de cima.
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