Fui ao SWU com o filho para 10 horas de rock.
E voltei tosquiado.
Me interessava em especial assistir aos legendários Mutantes e a boa música do Los Hermanos, grupos mais adequados aos ouvidos de um quarentão cansado.
Qual o quê? Como dizia o bom Chico.
Fui infectado pela sonzera dos 'veios'.
Primeiro, porque Os Mutantes, sob a autocrática liderança de Sergio Dias, já não mudam nem a roupa. Vestidos como nos sessenta, tocaram sem viço ou qualquer lampejo criativo. Sérgio Dias, cada vez mais ressentido, enche o saco, com uma eterna postura de reclamão. Entre hits do grupo, escolheu os mais etéreos, justamente aqueles em que, nos bons tempos, Rita Lee era a alma - para infelicidade da afinada substituta Bia. De resto, impôs duas músicas novas, que poucos tiveram a paciência de levar a sério. Ante uma platéia repleta de "air guitar players", não reviveu os inesquecíveis solos de guitarra que quarenta anos atrás colocaram Os Mutantes no topo do mundo. Foi uma pena.
Quanto aos cariocas Los Hermanos, o problema não foi exatamente com eles. Ocorre que aquela não era a praia nem a hora para a banda. Não cabiam no SWU, e estando lá, deveriam ter se apresentado antes das bandas nervosas que abriram a noite. Quando subiram ao palco, tocando suas melódicas canções, despertaram a platéia para as pernas exauridas, a bexiga cheia, o zumbido no ouvido, ... e muitos dispersaram. Apesar de que, os casais e boa parte das mulheres curtiram e até cantarolaram junto com os barbudos C.B.
Desconstruídos meus interesses, restaram-me as bandas pauleira, como dizíamos no tempo do Passat e do Corcel. E gostei do que ví.
Quem primeiro botou fogo no palco foi o ótimo grupo de Goiania, Black Drawing Chalks, com um rock pesado, de grande força. Depois, veio o Macaco Bong, de Cuiabá, que toca um rock instrumental, meio alternativo, de excelente qualidade. Eram apenas três sujeitos siderados (baixo, bateria e guitarra, sem vocal) que, por quase uma hora, mantiveram o público a alguns metros do chão.
É curioso como têm surgido boas bandas no interior do país. Depois do Angra (originário de Fóz do Iguaçu), agora essa moçada do Centro-Oeste, com um tipo de música que poderia brotar em qualquer grande metrópole cinza do planeta. É som com cara de Berlim ou Londres, só que subproduto da soja e das distâncias encurtadas pela internet e seus aparatos.
Então, vieram as bandas gringas.
Infectious Grooves, com um funk carregado, meio metal, e seu vocalista um tanto estranho, uma espécie de red-neck do B ou um Kid Vinil mais diabólico, que animou a platéia e em especial a moçada da pancadaria. Foi a senha para abrirem as rodas de bate-cabeça e o espreme-espreme entre os que queriam apenas ouvir a música.
Mais adiante, foi a vez do The Mars Volta, grupo do Texas, formado por chicanos com pinta de holandeses. Gostei bastante. Com um hard-rock psicodélico que lembra muito o Led Zeppelin - com certeza alguém já deve ter dito isso antes. O vocalista, Cedric Zavalla, embora fisicamente talvez se pareça mais com Jimmy Page, tem um timbre de voz e trejeitos afeminados muito parecidos com os de Robert Plant. E faz animadas performances no palco. Já o guitarrista e lider do grupo, Omar Rodriguez-López, escondido atrás de sua boina preta, toca no melhor estilo Jimmy Page, fazendo solos delirantes, na linha de Dazed and Confused ou lemmon Song. À dupla, que faz a alma do grupo, acompanham outros ótimos músicos, apoiados por um sujeito que, à beira de um PC, cuida dos efeitos espaciais que permeiam os solos e nos fazem pensar em Marte. Muito bom.
E, finalmente, para terminar a noite, o explosivo e incendiário Rage Against The Machine. Além da música agressiva, algo entre o hip-hop e o heavy metal, o grupo se notabiliza pela militância política de esquerda. Tanto o vocalista Zack de La Rocha, financiador declarado da guerrilha Zappatista, quanto o extraordinário guitarrista Tom Morello, um filho de ex-guerrilheiro do Quênia, formado em ciências políticas em Harward, provocam como nunca ví a gana de suas platéias. Com um som nervoso e pegado e letras incendiárias, misturam revolução com desobediência civil, e protestos da melhor cepa. Em poucos minutos, fizeram cair a grade de proteção que os separava da platéia e, ironicamente, foram vítimas das machines: as caixas de som pifaram por 15 minutos, esfriando o sangue dos endiabrados do palco e do gramado. Mas não deixaram por menos, no final - que ouvi do estacionamento - deixaram rolar a Intenacional Socialista enquanto se preparavam para o bis. Vida longa para essa banda porreta.
Por fim, uma palavra sobre o público.
É verdade que era uma noite com sabor de sangue, mas gostei de ver a moçada rockeira destes dias de hoje. São muito diferentes da minha geração. Gente com cara boa e cabeça aberta, com um espírito meio libertário, mas sem porraloquice. Ao contrário do que se costuma dizer por aí, o rock de hoje me parece mais politizado e o público muito mais atento e crítico. Talvez seja uma decorrência do novo mundo inaugurado pelos arquivos em MP3 e a internet, que furaram as gravadoras e suas pautas musicais.
Qual o quê? Como dizia o bom Chico.
Fui infectado pela sonzera dos 'veios'.
Primeiro, porque Os Mutantes, sob a autocrática liderança de Sergio Dias, já não mudam nem a roupa. Vestidos como nos sessenta, tocaram sem viço ou qualquer lampejo criativo. Sérgio Dias, cada vez mais ressentido, enche o saco, com uma eterna postura de reclamão. Entre hits do grupo, escolheu os mais etéreos, justamente aqueles em que, nos bons tempos, Rita Lee era a alma - para infelicidade da afinada substituta Bia. De resto, impôs duas músicas novas, que poucos tiveram a paciência de levar a sério. Ante uma platéia repleta de "air guitar players", não reviveu os inesquecíveis solos de guitarra que quarenta anos atrás colocaram Os Mutantes no topo do mundo. Foi uma pena.
Quanto aos cariocas Los Hermanos, o problema não foi exatamente com eles. Ocorre que aquela não era a praia nem a hora para a banda. Não cabiam no SWU, e estando lá, deveriam ter se apresentado antes das bandas nervosas que abriram a noite. Quando subiram ao palco, tocando suas melódicas canções, despertaram a platéia para as pernas exauridas, a bexiga cheia, o zumbido no ouvido, ... e muitos dispersaram. Apesar de que, os casais e boa parte das mulheres curtiram e até cantarolaram junto com os barbudos C.B.
Desconstruídos meus interesses, restaram-me as bandas pauleira, como dizíamos no tempo do Passat e do Corcel. E gostei do que ví.
Quem primeiro botou fogo no palco foi o ótimo grupo de Goiania, Black Drawing Chalks, com um rock pesado, de grande força. Depois, veio o Macaco Bong, de Cuiabá, que toca um rock instrumental, meio alternativo, de excelente qualidade. Eram apenas três sujeitos siderados (baixo, bateria e guitarra, sem vocal) que, por quase uma hora, mantiveram o público a alguns metros do chão.
É curioso como têm surgido boas bandas no interior do país. Depois do Angra (originário de Fóz do Iguaçu), agora essa moçada do Centro-Oeste, com um tipo de música que poderia brotar em qualquer grande metrópole cinza do planeta. É som com cara de Berlim ou Londres, só que subproduto da soja e das distâncias encurtadas pela internet e seus aparatos.
Então, vieram as bandas gringas.
Infectious Grooves, com um funk carregado, meio metal, e seu vocalista um tanto estranho, uma espécie de red-neck do B ou um Kid Vinil mais diabólico, que animou a platéia e em especial a moçada da pancadaria. Foi a senha para abrirem as rodas de bate-cabeça e o espreme-espreme entre os que queriam apenas ouvir a música.
Mais adiante, foi a vez do The Mars Volta, grupo do Texas, formado por chicanos com pinta de holandeses. Gostei bastante. Com um hard-rock psicodélico que lembra muito o Led Zeppelin - com certeza alguém já deve ter dito isso antes. O vocalista, Cedric Zavalla, embora fisicamente talvez se pareça mais com Jimmy Page, tem um timbre de voz e trejeitos afeminados muito parecidos com os de Robert Plant. E faz animadas performances no palco. Já o guitarrista e lider do grupo, Omar Rodriguez-López, escondido atrás de sua boina preta, toca no melhor estilo Jimmy Page, fazendo solos delirantes, na linha de Dazed and Confused ou lemmon Song. À dupla, que faz a alma do grupo, acompanham outros ótimos músicos, apoiados por um sujeito que, à beira de um PC, cuida dos efeitos espaciais que permeiam os solos e nos fazem pensar em Marte. Muito bom.
E, finalmente, para terminar a noite, o explosivo e incendiário Rage Against The Machine. Além da música agressiva, algo entre o hip-hop e o heavy metal, o grupo se notabiliza pela militância política de esquerda. Tanto o vocalista Zack de La Rocha, financiador declarado da guerrilha Zappatista, quanto o extraordinário guitarrista Tom Morello, um filho de ex-guerrilheiro do Quênia, formado em ciências políticas em Harward, provocam como nunca ví a gana de suas platéias. Com um som nervoso e pegado e letras incendiárias, misturam revolução com desobediência civil, e protestos da melhor cepa. Em poucos minutos, fizeram cair a grade de proteção que os separava da platéia e, ironicamente, foram vítimas das machines: as caixas de som pifaram por 15 minutos, esfriando o sangue dos endiabrados do palco e do gramado. Mas não deixaram por menos, no final - que ouvi do estacionamento - deixaram rolar a Intenacional Socialista enquanto se preparavam para o bis. Vida longa para essa banda porreta.
Por fim, uma palavra sobre o público.
É verdade que era uma noite com sabor de sangue, mas gostei de ver a moçada rockeira destes dias de hoje. São muito diferentes da minha geração. Gente com cara boa e cabeça aberta, com um espírito meio libertário, mas sem porraloquice. Ao contrário do que se costuma dizer por aí, o rock de hoje me parece mais politizado e o público muito mais atento e crítico. Talvez seja uma decorrência do novo mundo inaugurado pelos arquivos em MP3 e a internet, que furaram as gravadoras e suas pautas musicais.
Foi muito bom mesmo o show do Rage, Manzano !!!!!!
ResponderExcluirPouquíssimas bandas misturam a excelência do som com a qualidade do protesto.....matam a pau. Se tivesse grana iria pra Buenos Aires vê-los novamente.
Abração,
Daniel Höfling.