Na página A7 do jornal Valor Econômico de hoje (leia aqui) uma reportagem muito esclarecedora sobre os vícios que vão se cristalizando na medida em que os processos eleitorais se repetem e se institucionalizam no país.
O fato é que o dinheiro fala cada vez mais alto. De acordo com os dados do TSE analisados pelo jornal, 70% dos eleitos para a Câmara Federal estão entre os maiores arrecadadores em seus respectivos estados. Ou seja, há uma evidente correlação entre dinheiro de campanha e voto. Além disso, como também chama a atenção a reportagem, os candidatos que já vinham de um mandato, conseguem angariar mais apoios financeiros e, portanto, tem chances significativamente maiores de se elegerem.
É claro que isso não é novidade para ninguém. É mais do que sabido que cada voto tem um custo e, tendo como pagar, quase sempre se consegue eleger. Mas o que chama a atenção na matéria é o peso que essa relação dinheiro-voto vai ganhando na política brasileira, independentemente de região do país ou de cor política de cada candidatura. Tem candidato montado no dinheiro em todos os partidos.
É um sinal que deveria servir de alerta àqueles que prezam pela democracia e um motivo a mais para a urgência de uma reforma política. Nos próximos anos, tudo indica que o Brasil viverá um ciclo de prosperidade, com condições de desenvolvimento econômico e social jamais vistos.
Nossa "janela de oportunidade" é resultante dos seguintes fatores: num momento em que sobra capital e faltam oportunidades de negócios no mundo desenvolvido, nós somos uma avenida de possibilidades a ser explorada e, por isso, já estamos atraindo capital estrangeiro em volume elevado e crescente; temos um mercado interno de massas recém descoberto, ávido e crescente; temos e teremos cada vez mais o bem-aventurado Pré-Sal que, além de uma espécie de apólice de seguro quanto à solvência externa do país no futuro, já impacta os investimentos industriais de diversos setores importantes; nossa mão-de-obra com uma distribuição etária em "proporção áurea" também nos permite equacionar da melhor maneira a disponibilidade de mão-de-obras às demandas do mercado de trabalho e à saúde financeira do sistema previdenciário. Enfim, com tudo isso, podemos esperar por anos fervilhantes, mas devemos estar atentes aos riscos políticos e institucionais dessa conjuntura rósea. Entre esses, a crescente pressão dos interesses financeiros na esfera política é dos mais críticos, o que torna inadiável e crucial restringir ao máximo os nexos entre dinheiro e votos. Não avançaremos rumo à consolidação democrática do país se, especialmente nesse cenário de bonança, o capital se mantiver como pólo magnético a definir o rumo dos votos no país. E, por isso, me parece que a melhor alternativa é implementar no curto prazo o financiamento exclusivamente público das campanhas e, de outro lado, estabelecer restrição ao tipo e volume de despesas por parte dos candidatos.
Entre outros mais, esses temas são fortes razões para eleger a candidata Dilma no próximo dia 31, quando estarão em jogo, não só mais um mandato de quatro anos, mas um mandato especialíssimo, durante o qual se definirão aspectos fundamentais de nosso desenvolvimento nacional. Um erro nesse momento crítico, como eleger um candidato claramente autoritário e com notório desprezo pelas demandas sociais e democráticas, repercutirá provavelmente durante muitos outros mandatos e postergará por décadas a sonhada conquista da autodeterminação de nosso país.
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