25.4.09

as delícias da rádio trânsito

Paulistano, afastado do ninho ao cair na vida, não conhecia ainda as tais rádios que se dedicam a falar exclusivamente do trânsito de minha terra.
Que maravilha! Sem me dar conta, me deixei levar pela insana e frenética narrativa do caos que é transmitida ao vivo pelas ondas da tal "Sulamérica Trânsito" (FM 92,1). Como num filme de ficção científica, sob o comando de um onisciente radialista, uma equipe de repórteres (todas mulheres) espalhadas pelos cantos da cidade informa em tempo real as condições do trânsito, os acidentes, as rotas de fuga, etc.
"O corpo do motoboy já foi resgatado pelo SAMU e a pista da esquerda da via expressa já está fluindo normalmente"; ..."A equipe do CET tenta resgatar dois mendigos que estão na beira do Rio Pinheiros e a curiosidade dos motoristas já provoca um engarrafamento desde a Euzébio Matoso"; ..."Na João Dias, uma equipe de manutenção bloqueia a pista do canteiro central para fazer a pintura das guias"; ..."Como toda sexta-feira, a entrada para a Castelo, de quem vêm pela Marginal Tietê, já começa a parar e a fila chega à ponte do Piqueri"; ..."Liberadas as duas vias do Elevado Costa e Silva".
Para completar, direto do olho do furacão, ouvintes sabidos dão dicas a partir de celulares.

Enfim, depois de alguns minutos bombardeado por frases como aquelas, sentia-me como que assistindo minha cidade de cima, de um google earth da vida, torcendo para que o pulso voltasse a dar sinais na 23 de maio ou que a Av Aricanduva fosse liberada para quem vem da Vila Carrão - bairro que, aliás, sequer sei bem onde fica.
Mas a cidade estava lá, emaranhada, fluindo e refluindo, me fazendo imaginar como sair do sufoco se estivesse na Verador José Diniz ou na Rua Clélia para quem vem da Pompéia.

E no centro deste sim city concreto o comandante supremo, aboletado em seu QG, monitorando números, paineis e telefonêmas, fazia sínteses primorosas da situação geral do trânsito, demonstrando invejável conhecimento de cada palmo deste tabuleiro e recomendando alternativas precisas aos desvalidos motoristas.

Sei que me perdi nas informações da rádio e só me dei conta de que dela não mais precisava quando já estava chegando em Campinas e o rádio começou a falhar. Uma pena!
Aterrizei do voo panorâmico pela minha São Paulo, lembrei de ruas que há muito não passo e conheci outras que nunca passarei. Durante aquelas horas de Rádio Trânsito, São Paulo ficou pequena, coube num mapa cinzento e - confesso com constrangimento, - me tocou mais do que outras prosas modernistas.

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