4.6.08
argumento fajuto
Na conferência da FAO (ONU) para debater a crise mundial de alimentos, realizada em Roma nesta semana, Lula conseguiu emplacar o argumento de que uma das causas da crise são os subsídios que países europeus e os EUA concedem a seus agricultores. Entre os mídia-ligeira, a fala de Lula caiu redonda e até gente como o Sardemberg e a Mirian Leitão aplaudiu as palavras de nosso presidente. Ao que parece, a causa interessa a brasileiros de diferentes naipes.
Mas, será mesmo que o argumento de Lula faz algum sentido? Creio que não. Se subsídios existem para estimular a produção de alimentos nos países desenvolvidos, a sua eliminação deverá tão somente reduzir o volume geral produzido, fazendo o preço dos alimentos subir ainda mais (o que interessa muito ao Brasil). Porém, embora este seja um raciocínio bastante elementar, curiosamente, passou 'desapercebido' pelo Presidente, pelo Itamaraty, pelos portavozes da FAO, pelos mídia-ligeira, ....
segundo meus botões, deve ter algo nesta história que me escapou.
Viva a produção brasileira de alimentos!!!
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Com certeza, algo essencial sobre os subsídios agrícolas nos países ricos escapou ao blogueiro Marcelo Manzano. Nesses países, os subsídios se prestam a financiar a venda do produto, pelo produtor/exportador, a um preço abaixo de seu custo de produção, superior em geral ao dos países pobres ou emergentes (caso do Brasil). Dessa forma artificial, ou seja, com os preços de venda artificialmente baixos, os produtos agrícolas dos países ricos conseguem concorrer com os dos demais países. Dois exemplos: historicamente, o preço mínimo oficial do arroz no Japão, sustentado pelo governo, era onze vezes maior do que o preço do arroz no mercado internacional, mas vendido internamente ao preço praticado no mercado internacional, ou a um preço ainda mais baixo. Não havia, pois, como exportar arroz para o Japão, uma vez que o subsídio oficial à produção doméstica do arroz japonês desestimulava a cultura de arroz em países com vocação exportadora. Algo semelhante ocorre na Europa com o açúcar (lá, de beterraba). O preço mínimo do açúcar europeu girou historicamente em torno de um valor quatro vezes superior ao preço do açúcar brasileiro no mercado internacional, mas o açúcar europeu era vendido internamente e exportado ao preço do mercado internacional ou abaixo dele, oque desestimulava as exportações brasileiras de açúcar.
ResponderExcluirA maneira encontrada pelos países em desenvolvimento para fazer frente a tal barreira de subsídios (que montam a centenas de bilhões de dólares anuais)era subsidiar a produção em casa também. Mas a OMC veio a proibir subsídios agrícolas - uma política que tem funcionado em relação aos países pobres (como condição para obter financiamentos do FMI, Bird, etc.), mas não é admitida pelos países ricos.
Daí a conclusão: os subsídios praticados no Hemisfério Norte desestimulam a produção e a exportação de alimentos nos países do Hemisfério Sul. Saudações paternas.
Acrescento o que segue ao que comentei anteriormente:
ResponderExcluirOutra maneira de desestimular a produção agrícola mundial, por parte dos países ricos, é levantar barreiras à importação. Esse foi o caso do panel do Brasil na OMC contra a União Européia, a propósito do açúcar.
Observe que os subsídios no Hemisfério Norte se constituem em um desestímulo brutal à produção agrícola nos países em desenvolvimento: o dono de uma vaca de leite canadense recebe em subsídio cerca de US$2.500,00 por ano, o que vem a ser 16 vezes mais do que recebe em média por ano um beneficiário do Bolsa-Família (R$250,00). Uma unidade produtora de leite no Canadá tem seu valor de venda calculado não sobre o valor dos ativos fixos, mas sobre o montante de subsídios a que seu proprietário tem direitom de receber do Estado.
Continuo incapaz de compreender a lógica "anti-subsídio". Se os bilhões de euros sustentam uma produção cujos custos superam os preços de mercado, o fim dos subsídios significam o fim da produção na Europa e nos EUA (portanto menor oferta global de alimentos). Por outro lado, se o problema é a proibição da OMC a nossos subsídios, então não há excesso de subsídios à produção global de alimentos, mas falta.
ResponderExcluirPois acrescento que as críticas aos subsídios só faziam algum sentido (econômico, mas não político) quando havia disponibilidade "infinita" de terras férteis. Uma vez atingido o limite físico para a expansão da fronteira agrícola, somente por meio de subsídios será possível expandir a oferta de alimentos. Não se trata portanto de um problema de mercado (onde o sistema de preços livres garante o equilíbrio entre oferta e demanda) mas de um problema político (de soberania nacional) e geopolítico.
ResponderExcluirÉ sempre bom lembrar também que, em tempos de raciocínios sistêmicos, a manutenção de um camponês belga ou francês na sua improdutiva terrinha, por mais que receba do Estado, representa um economia para o Estado em termos de serviços públicos e privados não dispendidos caso fosse obrigado a se mudar para
"Uma vez atingido o limite físico para a expansão da fronteira agrícola, somente por meio de subsídios será possível expandir a oferta de alimentos".
ResponderExcluirLeia com atenção o que vc escreveu e perceberá a ilogicidade. Não há subsídio capaz de expandir a oferta de alimentos quando se atingiu o limite físico para a expansão da fronteira agrícola" (não estamos considerando aqui a possibilidade de aumento da produtividade - ou seja, aumento de unidade de produto por área plantada).
A agricultura dos países do leste da União Européia têm muito ainda para crescer em produtividade. O mercado cativo e protegido da UE, associado aos preços mínimos subsidiados a níveis compensadores, estimula o aumento da produção e da produtividade. Foi sempre assim na Europa, mesmo antes da incorporação dos países do Leste. O excedente de leite era convertido em ração para bezerras, que virava vaca de leite, que produzia mais leite excedente, que alimentava mais bezerras,ao infinito. No caso do vinho, há tanto produto excedente que dele a Suécia faz álcool para mover automóvel.
Existem estimativas bastante precisas sobre o impacto no aumento da produção de alimentos nos países em desenvolvimento resultante da eliminação dos subsídios nos países ricos. A oferta de terras virgens existe em grande abundância nesses países, e é aí que a agricultura tenderia a se expandir mais rapidamente se o mercado internacional fosse livre, ou seja, se a expectativa de poder exportar o produto induzisse o produtor a plantar mais.
Ocorre que nas últimas décadas, especialmente depois da criação da OMC, a produção de alimentos nos países africanos, por exemplo, apresentou tendência declinante: desestímulo em razão dos preços baixos, artificialmente baixos no mercado internacional em conseqüência dos subsídios nos países ricos. Há vários casos em que de exportador, o país tornou-se importador. Tornou-se mais interessante importar do que produzir para exportar. Um caso crônico, anterior à OMC, é o do Egito, que de grande exportador, tornou-se um grande importador (do Brasil, em especial).
Portanto: nas condições atuais, se o mercado internacional de produtos agrícolas fosse liberado, haveria uma grande expansão da oferta de alimentos a partir dos países em desenvolvimento.
Isso, em geral. Pois, países como a China, decidiram, estrategicamente, substituir a política anterior de auto-suficiência, por uma política de segurança alimentar, vale dizer, ter asseguradas as fontes de suprimento fora do país, quando necesário. POr questão de carencia de recursos (água, em especial), a China entendeu que vale mais em termos de agregação de valor alocar um litro de água na indústria do que na agricultura. A mesma coisa vale para o fator mão-de-obra.
Meus caros debatedores, o problema é que os alimentos, por se tratar de item de "primeira necessidade" sempre serão subsidiados pelos governos de qualquer pais do mundo. Os custos de produção onde quer que eles ocorram sempre tem sido maiores que os preços aceitos pelos consumidores, isto é, os valores que eles podem pagar, portanto, os alimentos são e serão sempre subsidiados. No Brasil "subsidio" pode ser interpretado como aliquotas zero de impostos de importação de insumos ou outras beneses e apelidos que o governo venha a dar. Acredito que, tornar o pais o CELEIRO DO MUNDO é e será sempre um péssimo negócio. Um péssimo modelo. Veja o Chile que tem sua economia também calcada em produtos agrícolas e pesca. Produzem vinho, frutas e salmão, e vai muito bem obrigado.
ResponderExcluirMeus Caros, o tema é bom, mas parece que não estamos entrando em acordo pro meio da escrita. Sugiro continuar o debate numa mesa de "carne e osso", com uma porção de lingüiça (antes que acabe) e um digestivo que aguce as palavras.
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