30.10.08

the caw is going to the swamp, again!


Não. Não é da crise que pretendo falar. É da notícia do jornal Le Monde (traduzida pelo UOL), informando que a pint (medida de volume que corresponde a 0,568 litros, preferencialmente de cerveja), consagrado nos PUBs e responsável por esquentar ainda mais a breja inglesa, poderá ser substituída por uma nova medida, equivalente a 2/3 de pint.
Não me parece sensato. Os ingleses deveriam levar mais a sério suas esquisitices, sob pena de perderem o pouco charme que quiçá lhes resta.
Anos atrás, desativaram os ônibus duble-deck vermelhos. Antes, já haviam abandonado os taxis garbosos de teto alto e cor negra. Os 'orelhões' (também vermelhos e protegidos da chuva e do vento) se modernizaram e hoje são futuristas e azul celeste. Seus times de futebol, famosos pelo estilo chuveirinho (bola para o alto na grande área e, quem sabe, alguém faz alguma coisa?), estão sendo comprados pelos capos do crime internacional e transformados em hordas de estrangeiros bons de bola. Sumiram os grandiloquentes empates de 7 a 7 e hoje imperam as vitórias por 2 a 1 ou 1 a 0.

Coisa de louco esses britânicos. Mandaram no mundo, e hoje desvanecem como uma republiqueta chinfrim, com o agravante de que não contam com belas praias, comida boa, muchachas buenas, sol,... nem bananas.

fundo do poço em 2010


Em debate promovido pela câmara de vereadores do Rio, a ardida e sempre brilhante Maria da Conceição Tavares (sou fã da portuguesa, desde quando ela ministrou a aula magna à minha turma de graduação) prevê que o auge da crise financeira será em 2010. Ruim? Certamente, mas a portuguesa acredita que o Brasil não viverá necessariamente uma recessão se - e somente se - o governo tiver a grandeza de pensar grande. Como ela alerta, caberá ao governo sustentar a demanda interna, garantindo os investimentos das estatais e empregando o superávit fiscal em investimentos de infraestrutura.

Para saber mais da fala de Conceição, confiram matéria publicada no Terra Magazine clicando aqui

29.10.08

testemunha da crise de 1929


Meus Caros, em especial meus alunos, recomendo a entrevista em vídeo gravada pelo jornal Estado de São Paulo com o empresário e bibliófilo José Midlin, que em 1929 trabalhava no jornal com a missão de acompanhar os acontecimentos provocados pelo Crash da Bolsa de NY.
Cliquem aqui para assistir

27.10.08

o retorno do casal


Vocês se lembram da dupla Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, simpático casal que dividia a apresentação do Jornal da Globo nos anos oitenta? Pois então, conforme dica repassada pelo Rogério Furtado, os dois estão hoje capitaneando um site de notícias bastante interessante - Direto da Redação - sem filtro e sem patrão. A conferir.

26.10.08

Pra Janda

Meus parcos,

em dias de partida de minha avó Jandira, que nos conta de sua "felicidade exata" e que tanta poesia fez da vida, reproduzo abaixo dois pequenos poemas escritos pelos seus bisnetos Pedro e Tomás:

Bambuzal

com o vento batendo no bambuzal, a noite cai,
para o poeta ali sentado
um perfeito haicai

Pedro Manzano (12)


A Laranja

a laranja é mais doce do que doce
a laranja é como uma poesia
a laranja é como fogo
é fresca como água no barro
a laranja...


Tomás Manzano (8)

22.10.08

e por falar em economista


Em tempos de colapso da acumulação financeira e na ausência - pelo menos até agora - de líderes capazes de lançar uma âncora ao futuro, reproduzo abaixo uma brilhante proposição de Keynes, de 1924, sobre as qualidades esperadas de alguém que se pretenda "economista":

"O expert em economia deve possuir uma combinação pouco comum de dons. Deve ser ao mesmo tempo matemático, historiador, homem de Estado e, de uma certa forma, filósofo. Deve compreender os símbolos e se expressar com palavras. Deve pensar o particular em termos do geral e abordar o abstrato e o concreto em um mesmo elã de pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado em vista do futuro. Deve ser simultaneamente decidido e desinteressado, tão distante e incorruptível como um artista, mesmo que, por vezes, tão pé-no-chão como um político"

O trecho acima foi copiado do post de Fernando Eichenberg, publicado pelo Terramagazine

20.10.08

hora de sair do muro


Paul Krugmann, o mais recente vencedor do nobel de economia, publicou artigo na data de ontem (veja cópia abaixo) chamando atenção para a tarefa crucial - e herética - a ser desempenhada pelo setor público (dos EUA) no processo de recuperação econômica pós-crise.

Pois o mesmo alerta valerá para o Brasil. Nos últimos dias, não foram poucos os economistas e palpiteiros market-friendly que flertaram com a tese de que ante a necessária frouxidão monetária do BC (que encharcou nossos bancos de dinheiro para estimular o crédito), caberá ao governo a tarefa de desaquecer a demanda por meio de corte de gastos (aumento do superávit fiscal). Seria um erro grotesco, pois, sem o fôlego da demanda externa, será preciso usar de todos os expedientes à mão do governo para estimular a demanda interna e garantir o crescimento do PIB.
É hora de sabermos se Lula é de fato um estadista ou apenas um hábil presidente que até aqui contou com a sorte. Se der trela aos alertas mochos dos autistas do BC, internalizará a crise e terminará seu governo de forma mediocre.
Desta escolha resultará nosso futuro. Em poucas semanas saberemos.

Segue o artigo do Krugmann, publicado dia 18/10 no NYT e traduzido pelo UOL.


hora de gastar o dinheiro público

Paul Krugman
Colunista do The New York Times

O Dow está subindo! Não, está caindo! Não, está subindo! Não, está...

Deixe para lá. Enquanto o mercado de ações maníaco-depressivo domina as manchetes, a história mais importante é a grave notícia sobre a economia real. Agora está claro que o resgate aos bancos é apenas o começo: a economia não financeira também está precisando desesperadamente de ajuda.

E para fornecer essa ajuda, nós teremos que colocar alguns preconceitos de lado. Está politicamente na moda se queixar contra os gastos do governo e exigir responsabilidade fiscal. Mas no momento, maiores gastos do governo é exatamente o que o médico recomenda, e as preocupações com o déficit orçamentário devem esperar.

Antes que eu possa falar disso, vamos falar sobre a situação econômica.

Apenas nesta semana, nós soubemos que as vendas no varejo despencaram de um penhasco, assim como a produção industrial. O desemprego está em níveis elevados de recessão, e o índice manufatureiro do Fed da Filadélfia está caindo no ritmo mais rápido em quase 20 anos. Todos os sinais apontam para uma recessão que será feia, brutal - e longa.

Quão feia? A taxa de desemprego já está acima de 6% (e medições mais amplas de subdesemprego estão em dois dígitos). Agora é virtualmente certo que a taxa de desemprego ultrapassará 7%, e possivelmente 8%, tornando esta a pior recessão em um quarto de século.

E quão longa? Poderá ser muito longa.

Pense no que aconteceu na última recessão, que se seguiu ao estouro da bolha de tecnologia do final dos anos 90. Na superfície, a resposta política para aquela recessão parece uma história de sucesso. Apesar dos amplos temores de que os Estados Unidos experimentariam uma "década perdida" ao estilo japonês, isso não aconteceu: o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conseguiu promover uma recuperação daquela recessão ao reduzir as taxas de juros.

Mas a verdade é que estamos parecendo japoneses há algum tempo: o Fed teve dificuldade para conseguir tração. Apesar das repetidas reduções dos juros, que no final levaram a uma taxa dos fundos federais de apenas 1%, a taxa de desemprego continuou subindo; foram necessários mais de dois anos para que o quadro do emprego começasse a melhorar. E quando uma recuperação convincente finalmente chegou, foi apenas porque Alan Greenspan conseguiu substituir a bolha de tecnologia pela bolha imobiliária.

Agora a bolha imobiliária estourou, deixando uma paisagem financeira repleta de escombros. Mesmo se os esforços em andamento para resgatar o sistema bancário e descongelar o mercado de crédito funcionarem -e apesar de ainda ser cedo, os resultados iniciais são decepcionantes- é difícil ver o setor imobiliário se recuperando tão cedo. E se há outra bolha a caminho, ela não é óbvia. De forma que o Fed terá ainda mais dificuldade para conseguir tração desta vez.

Em outras palavras, não há muito o que Ben Bernanke possa fazer pela economia. Ele pode e deverá reduzir ainda mais as taxas de juros - mas ninguém espera que isso faça mais do que fornecer um leve estímulo econômico.

Por outro lado, há muito o que o governo federal pode fazer pela economia. Ele pode ampliar os benefícios aos desempregados, o que ajudaria tanto as famílias em dificuldades a sobreviverem e colocaria dinheiro nas mãos de pessoas que provavelmente o gastarão. Pode fornecer ajuda de emergência aos governos estaduais e locais, para que não sejam forçados a cortar ainda mais seus gastos, o que degrada os serviços públicos e destrói empregos. Ele pode comprar hipotecas (mas não pelo valor nominal, como propôs John McCain) e reestruturar os termos para ajudar as famílias a permanecerem nos seus lares.

E este é um bom momento para promover sérios gastos em infra-estrutura, algo que de toda forma o país seriamente necessita. O argumento habitual contra obras públicas como estímulo econômico é que demoram muito: quando se chega de fato a reparar aquela ponte e a atualizar aquela linha ferroviária, a recessão já passou e o estímulo não é mais necessário. Bem, esse argumento não tem força agora, já que as chances de que esta recessão acabe tão cedo são virtualmente nulas. Então vamos botar esses projetos em andamento.

Será que o próximo governo fará o que é necessário para lidar com a recessão? Não se McCain conseguir uma virada. O que precisamos agora é de mais gastos do governo - mas quando McCain foi perguntado em um dos debates sobre como lidaria com uma crise econômica, ele respondeu: "Bem, a primeira coisa que temos que fazer é colocar os gastos sob controle".

Se Barack Obama se tornar presidente, ele não terá a mesma oposição automática a gastar. Mas ele enfrentará um coro de tipos lhe dizendo que precisa ser responsável, que os grandes déficits que o governo administrará no próximo ano se fizer a coisa certa são inaceitáveis.

Ele deve ignorar o coro. A coisa responsável, no momento, é dar à economia a ajuda que necessita. Agora não é hora de se preocupar com déficit.

Tradução: George El Khouri Andolfato

14.10.08

toró de palpites


meus caros,
enquanto a crise desabrocha e traz à tona seus lírios e vícios de anteontem, muita coisa boa tem sido escrita sobre as causas e o significado do cataclisma. Finalmente, dá-se ouvidos aos hereges que em tempos de pensamento único eram ridicularizados em sua sensatez fora de hora. Me lembro, por exemplo, como há apenas alguns poucos anos atrás, falar em "razões estratégicas" para defender as empresas estatais era considerada uma sandice de dinossauro ressentido. E vejam como é pra lá de estratégico ter hoje em poder do Estado bancos como o BNDES (única alternativa possível aos investidores industriais), a CEF (que poderá sustentar o ritmo de atividade do setor imobiliário) e o Banco do Brasil (apto a garantir o crédito agrícola). Sem eles, tombaríamos tal qual uma jaca.
Fica cada vez mais evidente que a crise internacional pegará a economia real pelo colapso do crédito e, portanto, o tombo será maior para aqueles que apostaram na tese de que uma brocha na mão e a fé no mercado eram condições mais do que suficientes para flanar no maravilhoso mundo da globalização financeira.
Sobre estes e outros aspectos da crise, o site da Agência Carta Maior (com link ai do lado, na Redondeza) reuniu um conjunto de artigos de renomados pensadores que vale a pena dar uma olhada. Recomendo em especial o didático artigo do Belluzzo (com uma perspectiva histórica da crise), a entrevista da endiabrada Conceição Tavares, o artigo do F. Chernais, o Stiglitz e outros mais. Cliquem aqui
Divirtam-se (enquanto é tempo!)

12.10.08

Lula bombando no cordel


Além de despontar como importante liderança da América Latina - pelo que, vira e mexe, recebe elogios da imprensa internacional - Lula vem se tornando um dos principais personagens da literatura de cordel. Nada mais justo para um presidente nascido em Garanhuns-PE e dono de biografia típica de um herói popular. Segundo a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (veja matéria do Estadão), Lula já é o quarto personagem mais frequente nos cordéis, perdendo apenas para Lampião, Padre Cícero e Frei Damião.
E para embalar o heroi, Crispiniano Neto, que assina livro sobre o assunto, lança um slogan de fazer inveja ao grande Getúlio Vargas e seu "o petróleo é nosso".
Na versão cordelista, o brado nacionalista é recriado:

Lula, guenta o pré-sal
Que nóis guenta a pressão!

8.10.08

nhaaaaaca!!!!!!!!!!!!!!


Quem teve a oportunidade de assistir ao debate de ontem entre Obama e McCain deve ter notado como ambos pouco consideram o 'resto do mundo'.
Para nós que não somos Yankees, chega a ser chocante como na cabeça dos candidatos, nas perguntas dos eleitores ou nos comentários dos jornalistas o 'resto do mundo' é tido como um grande quintal, onde vivem povos mais ou menos bem comportados e sobre os quais os EUA devem manter-se sempre na condição de tutor ou xerife. Cagam e andam para a ONU ou para a 'autonomia dos povos'. Se interesses norteamericanos forem feridos, não deve haver limites para sua intervenção!
Creio até que Obama, pelo seu histórico e pela sensatez com que trata outras temas, talvez não compartilhe pessoalmente daquela perspectiva. Contudo, dado que precisa conquistar o eleitorado indeciso, adequa seu discurso aos ouvidos do americano médio, e esse cara (o americano médio) é um sujeito terrível: conservador, ignorante e com o rei na barriga.
Por sorte, discurso de campanha é uma coisa e governo é outra. Além disso, a crise financeira dará conta de botar o 'americano médio' em seu devido lugar e quem sabe obrigar os EUA a baixar a crista e colaborar apenas como um país importante na concertação internacional que deverá suceder a crise.

1.10.08

pau na autonomia do banco central


Em seus artigos de ontem (no Valor) e de hoje (na Folha); o mago e ex-gênio do mau Delfim Neto traz à baila muitos questionamentos sobre o comportamento dos Bancos Centrais ("autônomos") que fizeram bonito nos anos de bonança. Delfim, até outro dia, foi um defensor da autonomia, argumentando que a terefa de zelar pelo valor da moeda, embora prerrogativa do Estado, deveria estar 'protegida' das pretensões populistas e imediatistas dos governantes. Por isso, terceirizar a gestão da moeda a "técnicos" e "profissionais" do ramo poderia ser uma estratégia sensata, principalmente quando associada a sistemas de metas inflacionárias.
Mas, com a crise de agora, a "autonomia" dos BC's vai à berlinda.
Enquanto ultra-conservadores e esquerdistas xenófobos juntam forças na busca pelo DNA da ganância, o esforço para decifrar a crise e evitar que se repita não pode deixar de considerar a leniência "autônoma" dos BCs. Foi precisamente porque acreditava-se na virtude auto-regulatória dos mercados que se instituíram estes esqualidos monstrengos chamados "BCs autônomos", reduzidos à tarefa de "coordenar as expectativas". "BC autônomo" é um eufemismo chinfrim para designar a quase ausência de BC. Nos últimos dez ou quinze anos, a própria Política Monetária (peça maior do arsenal de que dispõe a autoridade monetária) foi sendo esvaziada a ponto de se transformar tão somente em ratificadora das expectativas do mercado. Sob a máxima da não-intervenção, os presidentes dos BCs tornaram-se guardiões dos mercados ante a suposta irracionalidade da Política. Muitos, como o nosso H. Meirelles, foram até premiados como 'personalidade' ou 'economista' do ano, louvados pela capacidade de resistir às pressões do mundo real e pelo exímio manejo das sofisticadas técnicas do não-fazer. E deu no que deu! Quem diria? Estão hoje lutando para convencer seus fieis de que via mercado não voltaremos à luz.
Hmmmm!Engraçado, né? E caro!